pixel

Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Paul Polman: "Estamos a viver as mais profundas mudanças desde os anos 1930"

Antigo CEO da Unilever e coautor do livro "Net Positive" adverte que há um "vácuo de liderança" quando o mundo mais precisa e considera que Donald Trump não é um problema em si, mas um sintoma do problema e que as tarifas são apenas a "ponta do icebergue".

08 de Maio de 2025 às 10:39
Polman
Polman Pedro Ferreira
  • ...

Paul Polman, ativista pelo clima e pela igualdade e ex-CEO da Unilever, defende que "estamos a viver as mais profundas mudanças nas nossas vidas", com um mundo fragmentado, pautado por incertezas e disrupções, ou pelo "colapso" ambiental, com consequências como a ascensão do populismo, incluindo na Europa.

"Estamos a viver as mais profundas mudanças nas nossas vidas. Não víamos nada assim desde os anos 1930", afirmou o principal orador da Grande Conferência Negócios Sustentabilidade 20|30.

Por esta razão, o coautor do livro "Net Positive" - que ensina as empresas a dar mais do que tiram - não tem dúvidas de que "é um tempo desafiante para ser líder", porque vivemos uma era de "polycrisis", ou seja, uma situação em que múltiplas crises, muitas vezes interligadas e amplificando-se mutuamente, ocorrem em simultâneo ou em sucessão próxima, em que "há um vácuo de liderança quando mais precisamos dela".

O atual contexto disruptivo tem "puxado" as empresas para um foco, de certo modo, míope, fazendo-as "infelizmente regressar ao curto prazo" às expensas da visão a longo prazo, aponta Paul Polman, com base nas conversas que mantém com líderes empresariais.

"Há um mundo antigo que está a morrer e um novo que luta por crescer. É tempo de surgirem monstros e vemos vários a surgir", apontou o mesmo responsável, para quem Donald Trump figura como "o exemplo mais claro" da desordem a que assistimos, pautada por "confusões" e "contradições".

Para Paul Polman, as tarifas impostas pelos Estados Unidos, que desencadearam uma guerra comercial, "são a ponte do icebergue" e "Trump não é um problema em si, mas um sintoma do problema".

"Não podemos perder de vista o facto de o populismo estar em ascensão - e a Europa não é exceção. A confiança nos governos está a decrescer em quase todo o mundo, e quando cai as pessoas vão para os extremos e caímos nos populismos", enfatizou. Basta pensar nas desigualdades ao nível dos rendimentos: "A riqueza está em poucas mãos. São pequenas ilhas de prosperidade".

Já do lado das empresas Paul Polman passou a mensagem - que pode parecer óbvia na teoria - de que "não há negócios num planeta morto" e recordou, aliás, "os enormes custos" em que incorria a Unilever, dona de marcas como a Dove ou a Knorr, quando era CEO (2009-2019), por força de disrupções nas cadeias.

Sublinhando que "a Mãe Natureza não quer saber quem está na Casa Branca" e que "continua a enviar a fatura" - estimando-se que, nas últimas duas décadas, o custo de fenómenos relacionados com as alterações climáticas ascende a 3 biliões de dólares -, Paul Polman chamou a atenção que já ultrapassamos, para lá da fronteira aceitável, seis dos nove limites planetários, identificados por um grupo de cientistas liderados pelo sueco Johan Rockström.

E, neste sentido, diante de uma plateia de líderes empresariais, instou à ação, porque não fazer nada sai mais caro: "Com o custo da inação a ser hoje mais elevado do que o custo da ação, esta é a maior oportunidade económica do século".

Apesar do "caos" na ordem mundial, Paul Polman considera que maioria das empresas "ainda está avançar" e, apoiando-se em dados divulgados recentemente pelo Financial Times, enfatizou que "querem investir mais na sustentabilidade, designadamente apostando nas energias renováveis". "Estamos a seguir em frente e não a retroceder como algumas pessoas nos querem fazer crer".

Ainda assim, o especialista não deixou de criticar o "silêncio" por parte de uma parte do tecido empresarial decorrente do atual momento que vivemos, em particular nos Estados Unidos, apontando que à medida que a pressão sobre o ESG aumenta, os 'boards' mudam de tom e o que era urgente tornou-se opcional. E, como realçou, citando Martin Luther King Jr, "chega um momento em que o silêncio é traição".

"Estamos a ir de um 'greenwashing' para um 'greenhushing', afirmou Polman para quem "o que estamos a assistir não é o fim do ESG, mas um teste à credibilidade das lideranças".

Mais notícias
Para quem gosta de Bolsa, é o espaço privilegiado de debate em Portugal! Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos Aceder ao Fórum
Publicidade
pub
pub
pub