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"Sem renováveis estaríamos a queimar gás com uma tarifa 5 ou 6 vezes acima"

Com o apagão a dominar o debate, responsáveis da Secil e Bondalti realçam que para a indústria pesada, o evento tem consequências que vão além da paragem temporária. A EDP argumenta que sem as renováveis, o país estaria agora a pagar eletricidade mais cara.

07 de Maio de 2025 às 17:28
David Cabral Santos
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Com a rede nacional desligada da espanhola a diferença de preços da energia num país e noutro tornaram-se mais visíveis – com vantagem para Espanha. Mas sem as renováveis seria ainda pior, calcula a EDP.

"Se não tivéssemos renováveis estávamos a queimar gás que nos custaria uma tarifa de cinco ou seis vezes" as atuais, afirmou o CEO da EDP Ibéria na grande conferência Negócios Sustentabilidade 20|30.

No painel dedicado à reindustrialização verde no qual o apagão foi um tema incontornável, Pedro Vasconcelos elogiou a resposta nacional ao evento. "As equipas no terreno reagiram de forma ímpar. O que estava nos manuais demorava 24 horas, e demorou 6 a 8", afirmou o responsável.

"Não sabemos a causa zero do que aconteceu mas já tivemos vários momentos de flutuação de frequência e tensão e a rede aguentou sempre. Desta vez não aguentou", sublinhou o CEO da EDP Iberia, para quem o modelo não está em causa. "O modelo energético português e espanhol tem um sistema económico eficiente, falta garantir que é eficiente do ponto de vista operacional", disse.

Com o país desligado da rede espanhola, Vasconcelos lembrou que "podemos ser mais conservadores na gestão do sistema mas isto tem um custo", porque "Espanha, quando há sol, de março a setembro, tem proporcionalmente muito mais solar do que Portugal. "É por isso que ontem tínhamos preço zero em Espanha porque não tinha para onde escoar e preços de 60 euros em Portugal. E Portugal deve ou não aproveitar custo zero? É óbvio que sim", defendeu. Mas lembrou que há situações inversas: "No inverno temos melhor gestão de água e às vezes injetamos ao contrário".

No mesmo painel, o antigo ministro do Ambiente Duarte Cordeiro preferiu realçar a capacidade do país na atração de projetos de indústria verde. O país, acredita o agora CEO da Shiftify, tem capacidade para isso. "Não há razão nenhuma para não consumarmos os nossos fatores de atratividade de concretização da reindustrialização verde", disse, recordando o exemplo de Sines, onde existem "projetos de 3 mil milhões de euros".

"Temos disponibilidade de energia renovável mais barata", realçou, garantindo que a Portugal só falta "Tornarmo-nos competitivos no preço final da energia". "O tema da reindustrialização verde já não é ‘será que coinseguimos’, está a acontecer", assegurou.

José Eduardo Martins, sócio da Abreu Advogados, fez um retrato assumidamente pouco positivo da realidade. "O lado mais otimista vai-se desfazendo" à medida que vaoi contactando com a realidade empresarial, explicou. Recusando entrar em comentários detalhados sobre o apagão ("Já chega de tolos a falar do assunto"), defendeu, ainda assim, que em matéria de energia o país "desinvestiu da rede há muito tempo. Precisamos de rede". Assim como precisa de outro fator fundamental: "Temos pouco capital. E está-se a acabar o tempo de nós fazermos dos fundos estruturais o que a banca não faz", atirou.

A Bondalti marcou presença através do administrador executivo Luís Delgado. O responsável explicou que no apagão para qualquer indústria pesada o problema, mais do que a interrupção temporária da produção, é o reinício."Demorámos 4 dias a rearrancar" parte da produção, revelou, sem avançar o custo associado ao evento, que ainda está a ser calculado.

A Secil também não quis revelar a despesa associada ao apagão. A cimenteira tem geradores que permitiram deitar fora o material que já estava a ser processado no forno, caso contrário haveria o risco de danificar, talvez irremediavelmente, a maquinaria. E nesse cenário, "seriam meses para ter um forno novo", explicou o CEO da cimenteira, Otmar Hübscher.

Num outro painel, o diretor de co-processamento e energia da Cimpor também descreveu um cenário complexo. "Hoje [quarta-feira] de manhã estive na fábrica de Alhandra ainda a resolver problemas do apagão", revelou Sandro Conceição. Por isso, a Cimpor aposta na autonomia. "A nossa lógica é sermos o mais autónomos possíveis da rede e estamos a desenvolver capacidades internas para não depender de outros", disse.

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