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Estudo mostra apoio quase unânime às renováveis após o apagão de abril

Apesar da falha elétrica que afetou milhões de pessoas, o consenso em torno das energias renováveis mantém-se sólido. Há, garantem os autores, uma maioria “bem consolidada” de apoio à transição.

18 de Dezembro de 2025 às 19:15
Espanha exige rede móvel de emergência para 85% da população em caso de apagão
Espanha exige rede móvel de emergência para 85% da população em caso de apagão Carlos Barroso / Medialivre
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O apagão de 28 de abril, que deixou Portugal e Espanha sem eletricidade durante várias horas, expôs fragilidades no sistema elétrico ibérico e abriu um intenso debate público sobre a segurança do abastecimento energético. Ainda assim, o incidente não abalou a confiança dos portugueses na transição energética, segundo um estudo da Fundação Friedrich-Ebert-Stiftung (FES), da autoria dos investigadores Luísa Schmidt, Ana Horta e João Guerra.

Os dados são claros e mostram que “97% dos inquiridos consideram que o país deve continuar a aposta em energias renováveis”, enquanto “94% afirmam que Portugal deve prosseguir a estratégia em curso para a transição energética”, mesmo após a experiência do apagão. O estudo sublinha que esta maioria “bem consolidada” representa um forte mandato social para a continuação das políticas energéticas previstas no Plano Nacional de Energia e Clima para 2030.

Apesar de, numa primeira fase, a comunicação pública ter associado o apagão à incorporação de renováveis, o inquérito mostra que essa leitura não convenceu a maioria da população. Pelo contrário, o apoio à modernização do sistema elétrico é alto, incluindo medidas como a instalação de baterias para armazenamento, o reforço da segurança das redes e uma maior interligação com a rede elétrica europeia, ainda que estas impliquem custos adicionais para os consumidores.

No entanto, cerca de 63% dos inquiridos defendem que Portugal deve reduzir a dependência das importações de eletricidade de Espanha, mesmo que o resultado seja energia mais cara. Além disso, aproximadamente metade admite que o país deve considerar estratégias alternativas, como o nuclear ou a reativação de centrais a carvão, em paralelo com a aposta nas renováveis. Para os autores, esta aparente contradição reflete a tentativa de conciliar descarbonização com segurança de abastecimento num contexto de maior incerteza.

Apenas uma minoria considera que “já foram explicadas claramente todas as causas do apagão”, enquanto dois terços acreditam que as autoridades ainda escondem informação relevante. Ao mesmo tempo, 86% dos inquiridos afirmam que circularam muitas notícias falsas, sobretudo nas redes sociais, embora 79% avaliem a resposta operacional de forma relativamente positiva. 

A comparação com o inquérito realizado em 2023 mostra uma ligeira descida da prioridade atribuída às questões ambientais, que caiu de 33,4% para 26% das respostas e ficou atrás de temas como a saúde, habitação, criminalidade e segurança. “O valor médio de concordância [com medidas ambientais] passou de 93%, em 2023, para 88%, em 2025”, lê-se no relatório.

Para os autores, o principal risco não está na rejeição da transição energética, mas antes numa erosão gradual do apoio se a comunicação política continuar frágil. Em 2025, 78% dos inquiridos consideram que as medidas para uma economia mais ecológica “não são claras”, um aumento face a 2023. O estudo recomenda, por isso, um reforço da comunicação pública, que ligue a ação climática a preocupações centrais do quotidiano, como saúde, emprego e qualidade de vida.

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