Folha de assentos
sustentável. Diz Marcelo que a flexibilidade do nosso sistema político o torna mais sustentável e mais estável do que os de muitos outros nossos parceiros europeus. Isto é, funciona. Até a benefício da diversidade da representação. Por isso, acrescenta, resistimos à vaga populista que percorre o mundo. Há um ano, o Presidente da República estava preocupado com a coesão e com os "consensos sectoriais de regime". Tinha dúvidas sobre a durabilidade da solução política que suporta o Governo e, por isso, queria outros entendimentos: na saúde, na justiça, na segurança social, no sistema político e no sistema financeiro. Não houve entendimentos. Falhou. Não falhou a "geringonça". Com o seu amparo. Mais confiante, Marcelo coloca agora pressão no Governo quanto ao crescimento económico, o que não invalida a sua convicção de que não haverá alternativa até ao final da legislatura. Realista, baixou a fasquia das expectativas. Percebeu que os consensos não se conseguem só porque o Presidente os enuncia. Se o País continuar a crescer, há um seguro de vida entre Belém e São Bento.
tensões. Virado para o primeiro-ministro, Jerónimo de Sousa diz que há uma contradição entre o cumprimento das metas da União Europeia e a necessidade de crescimento económico. António Costa garante que não. Prefere falar em tensão. Catarina Martins, por seu lado, diz que há contradição e tensão. A semântica pode ser até retórica na circunstância, mas é reveladora da génese da "geringonça". Os acordos à esquerda fundaram-se num mínimo denominador comum. Há indesmentíveis contradições, mas não foram, até ver, impeditivas do cumprimento das metas europeias e dos compromissos internos. Contradições e tensões evidentes. São da própria natureza da solução política. Vão ser ainda mais visíveis com o aproximar da discussão do próximo Orçamento do Estado. Nem por isso serão inultrapassáveis.
PUB
primárias. A ideia de abrir os partidos a simpatizantes quando se trata de fazer escolhas fundamentais, como é o caso das lideranças, é sedutora. Favorece sobretudo os desafiadores do poder estabelecido e garante mais participação e mais visibilidade nos processos eleitorais. Foi assim com António Costa quando desafiou António José Seguro. Poderia ser assim com a discussão do poder no PSD depois das autárquicas. É curioso que surja Miguel Relvas a dizer que "está na hora" de discutir eleições primárias. O bandeirante da ascensão de Pedro Passos Coelho a presidente do PSD, há sete anos, aparece agora a acenar com Luís Montenegro como "rosto do futuro". Será cedo para decretar a morte política de Passos Coelho, mesmo que venha a ser nítida uma derrota nas autárquicas. Talvez por isso o fidelíssimo Relvas esteja apenas a provocar os adversários do líder.
palavras. Agora que Emmanuel Macron e Marine Le Pen vão disputar a segunda volta das presidenciais francesas, vale a pena revisitar os seus discursos de campanha. Cécile Alduy, professora de Literatura em Stanford e autora do recente livro "Ce qu'ils disent vraiment - Les politiques prix aux mots", fez para o "L'Obs" um levantamento das palavras mais usadas pelos candidatos. A conclusão é elucidativa. Macron fala sobretudo em Nós, Vós, Eu, Sim, Esperança. Le Pen prefere: França, Franceses, Povo, Nacional, Mundo. "Nem de esquerda nem de direita", a receita Macron passa pela afectividade, pelas emoções positivas e apolíticas. Há ideias interessantes, mas a retórica de sedução é tão vaga como motivadora. Desiludidos com os partidos tradicionais, há eleitores disponíveis para embarcar numa renovação optimista. Ao contrário, Le Pen recorre a símbolos mais identitários, sublinha a soberania nacional face à globalização selvagem. "Candidata do povo", tira partido do descontentamento e da revolta dos que se sentem a ficar para trás. Olhando para a escolha das palavras, não podiam ser mais diferentes. Nos próximos dias acentuarão ainda mais o contraste.
vacina. Espantoso que em pleno século XXI se questione a necessidade da vacinação. Parece que a vacinação se está a tornar uma questão de opinião. A ciência tornada impressionismo, petulância de ignorantes atrevidos. Depois de séculos de combate eficaz a epidemias que dizimaram populações, cidadãos irresponsáveis desafiam os progressos na saúde da nossa sociedade. Em doenças altamente contagiosas e mortais, como o sarampo, é inaceitável que a vacina se torne opção. A saúde individual e de grupo não pode ficar ao sabor de "escolhas" irresponsáveis. Estamos perante surtos epidémicos de sarampo na Europa, frutos de ignorância encapotada de alegadas "alternativas". Como se não bastassem o atentado e o prejuízo, ainda temos de levar com paladinos do disparate, armados de palpites. Tempos estranhos estes.
PUB
quino. Joaquín Lavado é o nome daquele que quase todos conhecem por Quino. Argentino, filho de imigrantes andaluzes, ganhou renome mundial com a irrequieta Mafalda, que ocupou 50 anos de banda desenhada e continua ainda a ser reimpressa. O mundo do humorista não é apenas este. Há um antes e um depois de Mafalda. E podemos vê-los em Vila Franca de Xira, na Cartoon Xira 2017. Aí encontramos 100 desenhos de 60 anos de humor: do primeiro trabalho - "La naturaleza y la calle" -, de 1954, até obras dos últimos anos. A condição humana, a massificação das sociedades, os poderes, a morte… são os temas de sempre do seu universo céptico. No Celeiro da Patriarcal de Vila Franca de Xira, além de Quino, está patente uma selecção de cartoons portugueses de 2016: obras de António, José Bandeira, Brito, André Carrilho, Cid, Cristina Sampaio, Vasco Gargalo, António Jorge Gonçalves, Maia, Rodrigo de Matos e Cristiano Salgado. A não perder.
Mais lidas
O Negócios recomenda