Jackie Kennedy: primeira-dama

Jacqueline Onassis marcou uma era. Um novo filme retrata a sua vida, através de Natalie Portman. E mostra os acessórios Piaget que eram simbólicos do seu dia-a-dia.
Fernando Sobral 17 de Dezembro de 2016 às 15:00

Jacqueline Bouvier nasceu numa era em que falar francês era como tocar piano: as jovens de classe alta americana faziam-no. Era também a forma de perpetuar um sonho: os Bouvier descendiam da realeza francesa. Em 1949, Jacqueline foi estudar para Paris e, entre visitas ao Louvre e aulas na Sciences Po, abria os olhos para um novo mundo. Muitas das americanas que iam nessa altura para França liam Jean-Paul Sartre e frequentavam seminários do Partido Comunista Francês. E, claro, só podiam falar francês.

Jackie Kennedy: primeira-dama
PUB

O casamento de Jacqueline com John F. Kennedy, o filho do poderoso senador Joe Kennedy, foi um jogo de interesses: Janet, a mãe de Jackie, queria um casamento discreto; Joe um acontecimento social e político. A "Look" e a "Life" competiram para ficar com o exclusivo da cobertura. Os Kennedy pagaram o casamento e os membros da família do homem com que Janet voltara a casar, os Auchincloss, concordaram em fazer a cerimónia na sua casa em Newport. O pai de Jacqueline, Black Jack Bouvier, veio ao casamento. Cheio de sede, como era hábito. Por isso, Janet conseguiu que ele fosse afastado da festa. Os convidados não repararam em nada: só viam um anel com um diamante de 2,9 quilates ao lado de um outro com 2,8 quilates e um vestido de noiva sem fim.

A vida de Jackie foi-se alterando: tinha casado com um príncipe e entrara numa vida de verdadeiro luxo. Quando chegou à Casa Branca, percebeu um pouco melhor a lógica amorosa de John. Mas a sua forte educação permitiu-lhe sempre controlar-se. Antigamente poderia fingir que era rica; agora era. Mas isso tinha um preço. Tinha de mostrar que o seu casamento era feliz. Normalmente, afastava-se dois ou três dias por semana para a casa na Virginia para dar espaço a John na Casa Branca. Nesses dias, depois das actividades presidenciais, John costumava estar na piscina a receber outros e outras convivas. No meio, a requintada e bem preparada Jackie pouco influenciava as decisões políticas de John. Organizava jantares e a decoração. Estava habituada a falar com homens poderosos, incluindo o sogro (que a adorava) ou De Gaulle, Khrushchev ou Macmillan.

Num almoço com De Gaulle, transformou-se: falou sobre a história francesa e discutiram Luís XVI. O líder soviético ficou fascinado com ela. Os poderosos apreciavam-na e a comunicação social venerava-a. O idílio quebrou-se quando John foi assassinado em Dallas em 1963. Jacqueline saiu da Casa Branca. Promoveu a memória do seu marido, no meio de pesadelos do dia fatídico, e protegeu os seus dois filhos dos primos Kennedy. Tornou-se próxima de Lyndon Johnson. Pelo caminho, foi tentando "civilizar" Bobby Kennedy. E, com o tempo, foi sarando algumas feridas: viria a casar com o multimilionário Aristóteles Onassis em Outubro de 1968, em Skorpios, a ilha privada do grego.

PUB

Aos poucos, Jackie foi descobrindo que Onassis tinha casado com ela pela glória, segundo alguns testemunhos de amigas dela. E ele, pouco depois, voltou a ver Maria Callas. Quando Onassis morreu, Jackie voltou para Nova Iorque. Dedicou-se às artes e ligou-se ao rei dos diamantes, Maurice Tempelsman. Mas notava-se a solidão. A escritora Edna O'Brien, que conviveu com ela, escreveu: "Distância e distanciamento eram centrais nela, não só dos outros mas também de grandes partes dela própria". O filme pode talvez revelar um pouco mais desta dama que viveu no meio do luxo entre os poderosos.

Jackie Kennedy: primeira-dama
PUB
Pub
Pub
Pub