Virgolino Faneca faz uma magistral exórdio para falar de Dijsselbloem

Virgolino Faneca medita sobre o senhor que disse que os povos do Sul gastam o dinheiro todo sem copos e mulheres, não sem antes falar sobre a Alzira, o baptizado da afilhada Jéssica e a enfermeira polaca.
Celso Filipe 31 de Março de 2017 às 17:00

Cara Josefina

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Venho por este meio pleitear a vaga de fundo que se criou no sentido de pedir a demissão do presidente do Eurogrupo, o senhor Jeroen Dijsselbloem, para a qual tu contribuíste de forma lastimosa, acusando o dito de ser um gajo mal resolvido, mas usando um vocabulário canhestro que o pudor me impede de recordar.

Não o fiz antes e tenho uma razão ponderosa para tal. É que, durante as celebrações do baptizado da minha afilhada Jéssica, apanhei uma cardina que se encontrava esparramada nas mesas dos digestivos e do caldeirão de ponche. Derivado disso deu-me uma fraqueza e caí de borco enfronhando a cara no decote da Alzira, a namorada do meu primo Arlindo, que estando na altura distante do acorrido, pensou, para minha desdita, que eu me estava a fazer à dita.

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Vai daí, além de anestesiado etilicamente, fiquei também anestesiado a nível físico, condição ainda hoje visível no meu sobrolho esquerdo, entretanto tricotado com 15 pontos por uma formosa enfermeira polaca, a qual suturou o lenho provocado pelo punho esquerdo do meu familiar e despedaçou o meu coração.

Por força deste conjunto de circunstâncias, fui, pois, forçado a procrastinar a minha intervenção no espaço público em defesa do senhor Jeroen, que certamente terá pensado em mim quando disse que os tipos do Sul gastam o dinheiro todo em copos e mulheres, embora eu jure pela saúde dos meus entes mais queridos que o sucedido com a Alzira foi um incidente e que a bebida do baptizado até saiu barata, na medida em que foi comprada através de um cambalacho com o Vítor, que trabalha numa distribuidora e de vez em quando desvia umas garrafas para compor o orçamento familiar. Isto porque o Vítor tem duas famílias, uma oficial composta pela mulher, a Mariazinha e as gémeas Tatiana e Bernardina, e uma outra, não-oficial, formada pela Felícia e o Tiago, um bebé rechonchudo de oito meses, que consome bué de fraldas e precisa de imensos cuidados médicos em virtude de problemas respiratórios.

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Eu bebo em duas circunstâncias muito específicas, por tudo e por nada, e tenho de confessar que até agora gastei para aí uns 200 euros em mulheres, sobretudo na compra de bijuteria naquelas lojas farsolas dos centros comerciais, porque as rosas que ofereci à Alzira, com o respeito de um primo e contrariando o ditado quanto mais prima mais se arrima, foram pedidas de empréstimo no cemitério dos Prazeres.

Contudo, pela enfermeira polaca estou disposto a aumentar a fasquia, comprando dois coraçõezinhos de ouro numa ourivesaria a sério, ou em alternativa recorrendo aos préstimos do Aquilino, um cigano que conheço de infância e costuma comerciar peças elaboradas com esta matéria-prima, surripiadas por primos dele (por ele não, que é um homem sério) a preços bastante convidativos.

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Feito este exórdio, absolutamente necessário para justificar a minha posição, constato que esta gentinha do jornal não me dá mais espaço para desenvolver o meu magistral raciocínio. Ainda assim, penso que pelo exposto, é possível perceber o porquê do meu apoio ao senhor Jeroen. A Alzira, que veio cá a casa esta tarde dar-me conforto moral, acha que sim. À noite, vou perguntar à enfermeira polaca, porque em assuntos sérios é sempre bom ter uma segunda opinião. Vamos lá ver se tenho tempo para isso.

Um ósculo deste que te respeita,

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Virgolino Faneca

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