A "fábrica das letras" faz 250 anos
Desata-se o novelo da história da Imprensa Nacional e dele saltam nomes de artistas, jornalistas, intelectuais. Na casa dos caracteres, formaram-se homens de letras e não raramente aprendizes da tipografia transformavam-se em sábios e resistentes. Norberto de Araújo, escritor e olissipógrafo, trabalhou como compositor tipográfico na instituição. Tal como José Eduardo Coelho, fundador do Diário de Notícias. A costureira-dobradeira Berta Fonseca ficou conhecida na casa das letras por ter oferecido especial resistência num interrogatório da PIDE. A Imprensa Nacional completa dois séculos e meio de história que agora estão a ser reunidos em livro.
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Benjamim Godinho tem na memória a imagem do avô a descer as escadas centrais do edifício da Imprensa Nacional na Baixa lisboeta. Havia uma salinha onde os trabalhadores recebiam os familiares. Aquelas escadas e aquele edifício fascinavam o miúdo que viria a seguir a obra de António José Godinho, transportador litográfico, no mundo dos caracteres. O neto entrou na escola tipográfica em 1966, conheceu os materiais que construíam as letras, familiarizou-se com os lingotes e quadrilongos. Aprendeu a colocar cada um dos caracteres no respectivo caixotim. Foi aprendiz, compositor tipográfico manual e contramestre na casa que celebra 250 anos e que acolheu gerações de muitas famílias. Criada por Alvará de 24 de Dezembro de 1768, a Impressão Régia ou Régia Oficina Tipográfica acelerou a evolução das artes gráficas em Portugal e cravou a sua marca na história contemporânea portuguesa. Foi berço de resistência política, foi fábrica de artistas e de intelectuais. Foi - e é - uma casa de letras.
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