Ser um povo é tão subjectivo como sentir amor ou ódio
"A natalidade, tudo a cair". No novo espectáculo de Tiago Rodrigues, "Interpretação", com texto de Jacinto Lucas Pires, hoje e amanhã na Culturgest, em Lisboa, há qualquer coisa de ruína, própria dos períodos de crise, dos momentos trágicos em que o homem é demasiado pequeno ou demasiado grande perante o que o rodeia. Em palco, essa escala desacertada: um intérprete europeu e um enorme coro, como um parlamento, que canta a felicidade, a infelicidade e, por vezes, a confusão de um cidadão europeu. Tiago Rodrigues, actor, encenador, há dez anos com a sua própria companhia a fazer espectáculos e a circulá-los pelo continente, faz parte desse sonho europeu que cada vez mais acontece à margem da Europa institucional. Acredita no teatro como outra assembleia, outra ágora europeia, em que se traduzem formas de pensar. Diz-se um fazedor, isto é, alguém que vê a urgência em fazer cada vez mais, não desistir.
- Partilhar artigo
- ...
1. Tenho 37 anos e não concebo uma Europa onde eu não possa circular, não só livremente, mas constantemente. Em 10 anos de actividade da [companhia] Mundo Perfeito, trabalhámos em mais de 20 países. Há 15 dias estávamos em Bilbau, daqui a 15 dias vamos estar em Nantes e depois em Gotemburgo. Não é só no teatro, mas noutras artes e noutras áreas, esta ideia de uma mobilidade constante criou uma abertura para uma diversidade muito grande e para uma capacidade de traduzir permanente, e não é só língua: traduzimos comida, traduzimos olhares, traduzimos temperamentos. Sou muito avesso a dizer que os portugueses são muito isto ou aquilo, mas acho que há alguns povos, mais do que outros, por causa da sua cultura, que têm maior capacidade de serem tradutores e acho que os portugueses são muito tradutores e muito traduzíveis.
Mais lidas