Série Escritoras Esquecidas: Graça Pina de Morais, a mulher que estava presa à liberdade
É um segredo bem guardado, mas Graça Pina de Morais é uma das grandes figuras da literatura do século XX. Sabem-no alguns autores e pessoas do meio, e poucos leitores que a foram descobrindo como quem entra num culto. Fomos a Mesão Frio, à casa onde se inspirou para escrever um dos mais belos e misteriosos romances portugueses
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1. Era preciso descer o Marão e conduzir na direção da região dos vinhos do Douro. Era a altura das vindimas. Haveria muito movimento na estrada. Camiões carregados de uvas que só existem ali; mais carros do que o costume, sendo que o costume é o silêncio, não se passar nada. A casa fica, como Maria João Pina de Morais, sobrinha de Graça Pina de Morais, tinha explicado, em Mesão Frio, na estrada que continua para a Régua. Uma casa cor-de-rosa, tinha descrito. Era preciso estacionar o carro depois de passar a casa e voltar para trás, subindo a estrada a pé. A paisagem, logo da estrada, vendo-se o vale, intensamente verde, com o Douro, em baixo, serpenteando brilhante, era tal e qual como Graça Pina de Morais tinha descrito na sua obra. A luz, que ela descrevia como parecendo ficar concentrada no vale, a mesma. O ambiente, pelo menos assim de longe, com grandes casas senhoriais, pequenas aldeias, e hectares de vinha a perder de vista, muito parecido. Só ainda não se viam cores de outono no fim de setembro, como ela tinha descrito, porque as estações já não são como eram.
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