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Considerações sobre O Guia Michelin

Os rumores de que as estrelas duplicariam para Portugal não se confirmaram. Ainda assim, esta foi a melhor colheita de sempre. Coisa que não deve impedir o registo de críticas sérias.

03 de Dezembro de 2016 às 16:00

Lista dos restaurantes estrelados

Duas estrelas

Ocean

Vila Joya

Belcanto

Il Gallo d'Oro

The Yeatman

Uma estrela

São Gabriel

Henrique Leis

Bom Bom

Willies

Wliliam

Land Vineyard

Eleven

LAB by Sergio Arola

Fortaleza do Guincho

Feitoria

Alma

Loco

Antiqvvm

Casa de Chá da Boa Nova

Largo do Paço

Pedro Lemos

Assim como os amantes da literatura esperam com sentido religioso a segunda quinta-feira de cada mês de Outubro para saber quem é o prémio Nobel da Literatura, também os gastrónomos e críticos especializados aguardam com a pena afiada as decisões desses sacerdotes dos tempos modernos que são os inspectores do Guia Michelin - a bíblia do sector da restauração a nível mundial.

Em matéria de gastronomia, nenhum outro gera paixões tão intensas. E como a cerimónia da revelação das estrelas para 2017 - decorrida na semana passada em Girona, Espanha - gerou polémica acrescida, valerá a pena deixar aqui algumas considerações sobre esse poderoso "livrinho vermelho dos pneus" (José Quitério dixit).

Considerações sobre O Guia Michelin

Mas, vai-se a ver, não houve duplicação de coisa nenhuma: nem de restaurantes nem de estrelas. É certo que passámos de 14 restaurantes michelinizados para 21; e de 17 estrelas para 26 no total, mas duplicação foi coisa que não se viu. Ainda assim, anunciaram-se sete novos restaurantes com 1 estrela, sendo que dois que já figuravam no Guia sobem ao escalão das 2 estrelas.

Embora o salto em número de restaurantes e estrelas seja boa notícia para a restauração e para o turismo do país, a especulação à volta da famosa duplicação acentuou um certo azedume contra os métodos de funcionamento dos responsáveis do Guia Michelin que, para não variar, não comentam estados d'alma de donos de restaurantes ou de críticos de gastronomia. Os inspectores decidem, está decidido. Ponto final.

Agora, há matérias que continuam a ser altamente criticáveis. Vamos a duas. Primeiro, a desproporção absurda que existe entre o número de restaurantes com estrelas em Portugal e Espanha. Ninguém nega que a restauração espanhola de vanguarda vai muito à frente da nossa, que começou há mais tempo e que adquiriu uma justa fama mundial, mas quando o Guia regista para Espanha 203 restaurantes com estrelas e despacha Portugal com 21, isso só pode ser considerado esquisito, risível ou absurdo.

Tanto mais que toda a gente que anda neste mundo já passou por restaurantes no estrangeiro com 1 estrela que, em Portugal, não valeriam uma missa. Parece que, em Portugal, os investidores na restauração têm de fazer uma profissão de fé e demonstrar que estão no negócio com seriedade.

Segunda questão, um certo relapso editorial. A escrita de alguns textos no Guia foi feita por alguém de Espanha que domina o português como Jorge Jesus domina espanhol (o texto sobre o Ocean chega a ser divertido). E, quanto a fotografias, num texto sobre o bacalhau como emblema culinário português está uma imagem de um peixe que quase juramos ser um safio ou algo aparentado. O espécime está a secar em Câmara de Lobos, na Madeira, que, como se sabe, tem muita tradição na secagem de bacalhau.

Enfim, vamos esperar que, a partir da boa edição de 2017, lançada a semana passada, haja maior atenção dos responsáveis de um guia que, goste-se ou não, acaba por ser o projecto mais consistente em matéria de avaliação de restaurantes.

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