As raízes dos Madredeus
Os Madredeus vêm de um mundo muito antigo, no antigo convento da Madre Deus, numa época em que Portugal parecia procurar de novo a sua identidade. Depois dos frenéticos anos pós-revolução e quando o país deixava de olhar para o Tejo em busca de outros mundos e se voltava, apressadamente, para a Europa que prometia o futuro.
Os Madredeus surgem no meio desta inquietude tipicamente portuguesa: enfrentam a modernidade mas não esquecem aquilo que são as raízes de Portugal. E todos os seus discos, mesmo com as alterações na formação do grupo, nunca deixaram de percorrer esse tronco comum que nos foi dando folhas viçosas ao longo dos anos. Apesar da economia de meios musicais que sempre foi timbre do grupo. Julgou-se, num momento, que, com a saída de Teresa Salgueiro, a luz onde se centrava toda a mensagem quase mítica do grupo que cantava em português, a estrela desapareceria nos céus.
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Não aconteceu isso: Beatriz Nunes, a nova vocalista, não é uma sucessora de Teresa Salgueiro: é uma nova alma colocada, com a sua voz cristalina, no meio da melancolia musical que é servida pelo grupo. No fundo cumpre-se, com "Capricho Sentimental", uma nova etapa no trajecto dos Madredeus. Em 1994, Pedro Ayres Magalhães escreveu uma carta-aberta incluída no programa dos concertos japoneses desse ano. Dizia, por exemplo : "As novas composições não são 'sobre Portugal', como já muitas das antigas foram, mas 'de Portugal': ou seja, passámos de uma fase em que nos inspirámos na paisagem, na poesia, e em sons da nossa música popular, para uma outra em que a nossa fonte de inspiração foi o próprio caminho traçado pelo grupo nos seus primeiros sete anos de existência".
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