pixel

Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Portugal Capital Markets Day 2025

Portugal aquém do potencial económico

Supervisor e empresas cotadas sublinham urgência em fortalecer o mercado de capitais e reter talento estrangeiro altamente qualificado.

13:40
Painel do tema Is Portugal doing right about (de)regulation
Painel do tema Is Portugal doing right about (de)regulation

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários () considera que o novo Plano Estratégico 2025-2028 estabelece uma base sólida para o posicionamento do mercado de capitais no desenvolvimento económico de Portugal.

Durante a conversa intitulada Capital Markets: Financing the Economy – The View of the Regulator, o presidente da entidade, Luís Laginha de Sousa, frisou que o mercado de capitais é “crucial e indispensável” ao crescimento sustentável a longo prazo de qualquer economia, colocando-o como um pilar complementar ao financiamento bancário. “Quando analisamos a situação portuguesa, vemos claramente um desequilíbrio na forma como a economia se financia. Demasiado incentivo bancário, comparativamente ao financiamento no mercado de capitais. Creio que deveria tratar-se de um objetivo partilhado. Não se trata de reduzir o nível de atividade dos bancos. Se fizermos bom uso dos instrumentos, os mercados também podem proporcionar crescimento e oportunidades aos próprios bancos”, defendeu Luís Laginha de Sousa, na partilha com o diretor executivo da Associação de Empresas Emitentes de Valores Cotados em Mercado (AEM), Abel Sequeira Ferreira.

Segundo a instituição, Portugal continua aquém do potencial devido ao desaproveitamento do mercado de capitais, embora tenha registado progressos importantes. A CMVM alerta que, sem um reforço significativo deste mecanismo de financiamento, a economia portuguesa continuará limitada.

Uma das principais fragilidades identificadas é a escassez de capital de longo prazo disponível para investimento. O supervisor considera essencial aumentar o volume de poupança destinado a financiar a economia. Na Europa, afirmou Luís Laginha de Sousa, esse capital provém sobretudo das poupanças de longo prazo associadas aos sistemas de reforma. Mas a CMVM reconhece que este é um tema complexo, sensível e marcado por diferenças ideológicas.

 “Resolveríamos muitos problemas se fizéssemos certas escolhas”, admite o presidente da CMVM, notando que as soluções não são “ciência de foguetes” e requerem vontade política e estratégica.

O papel do regulador quando um movimento global crescente defende a redução de barreiras para impulsionar a atividade económica também esteve em debate no evento. A partilha de ideias em torno do tema Is Portugal doing right about (de)Regulation envolveu Paul Mihailovitch, diretor da J.P. MORGAN, Paula Gomes Freire, sócia da sociedade de advogados Vieira de Almeida, Nuno Martins, responsável pelo departamento de Capital Markets and Accounting Advisory Services da PwC, e Américo Carola, diretor coordenador da banca de investimentos do Millennium BCP.  Moderou Carlos Robalo Freire, CEO da AON Portugal.

Painel do tema Is Portugal doing right about (de)regulation
Luís Laginha de Sousa, presidente da CMVM

Talento e inovação

“Portugal precisa de mais empresas públicas cotadas. E de um mercado de capitais mais forte, que ajude as empresas a crescerem em cada etapa de desenvolvimento. A base de investidores deve ser estimulada”, rematou o presidente da AEM, Miguel Athayde Marques, no final do Portugal Capital Markets Day 2025. 

A relação direta entre inovação e trabalho qualificado nacional e estrangeiro, a justificar a crescente competitividade da economia portuguesa, mereceu a análise do CEO da AEM na intervenção Portugal–Attracting Talent as a Catalyst for Innovation and Growth.

Em sete anos, Portugal registou um crescimento de 265 por cento no número de residentes estrangeiros legais, dos quais uma franja dotada de qualificações determinantes para as empresas e instituições, nomeadamente multinacionais portuguesas cotadas em Lisboa. A empregabilidade, a qualidade de vida, a segurança estão a atrair jovens profissionais estrangeiros para Portugal, confirmaram os representantes dessas multinacionais portuguesas à conversa com a presidente da Euronext Lisbon, Isabel Ucha, no painel subordinado ao tema Unlocking Opportunities: Innovation, Physical Infrastructures and Industrial Projec.

Essa força de trabalho altamente qualificada, com forte participação em Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, está a impulsionar o crescimento de setores económicos avançados em Portugal por meio do desenvolvimento de novos produtos e serviços.

“Estes imigrantes geram valor económico porque 39 por cento tem uma qualificação universitária. São mais qualificados do que o resto da população”, referiu o CEO da EDP Inovação, António Coutinho. 

Embora atenta ao mercado laboral português, a REN-Redes Energéticas Nacionais, representada por João Conceição, também está a aproveitar os novos dinamismos. “Estamos a viver uma transição energética, mais uma revolução, porque estamos a transformar tudo ao mesmo tempo. O capital humano será um fator determinante para o sucesso. O desafio é reter talento estrangeiro porque o que se passa em Portugal passa-se noutros países europeus e estes profissionais estão abertos a ofertas”, lembrou o CEO da REN. 

Uma visão partilhada pelo responsável dos CTT-Correios de Portugal, João Bento, que confirmou a forte representatividade de talentos brasileiros na empresa.

Em Portugal há claramente um desequilíbrio na forma como a economia se financia. Demasiado incentivo bancário, comparativamente ao financiamento no mercado de capitais. Luís Laginha de Sousa, presidente da CMVM.
Mais notícias