Um evento de dois dias procurou mostrar Portugal como destino atrativo de investimento nacional e estrangeiro. A segunda edição da conferência Portugal Capital Markets Day, na Culturgest, em Lisboa, inaugurou a organização conjunta da Euronext Lisbon e da Associação de Empresas Emitentes de Valores Cotados em Mercado (AEM), que apresentaram um estudo da Universidade Católica sobre as oportunidades de investimento. “Queremos que esta iniciativa se apresente como um zoom da economia portuguesa, mostrando a profunda transformação do país, nem sempre visível ou compreendida”, anunciou a presidente da Euronext Lisbon, Isabel Ucha, na primeira intervenção na conferência.
Inúmeras personalidades responderam a esta proposta dos organizadores do Portugal Capital Markets Day, entre os quais o primeiro-ministro, Luís Montenegro, o presidente da Caixa Geral de Depósitos e anfitrião da iniciativa, Paulo de Macedo, o secretário de Estado do Tesouro e das Finanças, João Silva Lopes, e o responsável máximo da Comissão de Mercado de Valores Imobiliários, Luís Laginha de Sousa.
No discurso de boas-vindas às dezenas de participantes, Isabel Ucha assumiu o maior fôlego desta segunda edição da conferência, que mantém a vocação inicial de “atração de investimento, melhoria de liquidez e de avaliação das empresas portuguesas”. Os promotores reforçaram este propósito com a organização de 250 interações individuais e de grupo de empresas portuguesas com 55 investidores institucionais provenientes de Espanha, França, Bélgica, Grã-Bretanha, Itália, Suíça, Finlândia e Singapura, durante dois dias.
Estes investidores tiveram ainda oportunidade de conhecer a visão do Governo num jantar com o ministro das Infraestruturas e da Habitação, Miguel Pinto Luz. “Queremos mostrar-lhes como Portugal está a progredir em áreas críticas e competitivas, como inovação, talento e infraestruturas, algumas também recentes”, justificou Isabel Ucha.
Prioridade nacional
O presidente da AEM, Miguel Athayde Marques, frisou igualmente a crença firme no papel essencial das empresas num crescimento económico sustentável e competitivo. “Estas empresas dão escala à economia portuguesa”, defendeu, porque “investem, inovam, oferecem trabalho qualificado e ligações internacionais”. No entanto, o também vice-reitor da Universidade Católica reclamou, em nome da AEM, um papel de relevo para o mercado financeiro. “É também nossa forte convicção que qualquer discussão relativa ao futuro da economia portuguesa deve pôr ênfase no mercado de capitais e nos produtos de investimento a longo prazo”, defendeu Miguel Athayde Marques. “Os mercados de capitais não devem ser vistos como um setor separado da economia real. São engenhos essenciais de crescimento e criação de valor, transformando poupanças em investimento, inovação em valor e riqueza, que pode ser distribuída pela sociedade. É a razão pela qual a AEM mantém que o desenvolvimento do mercado de capitais deve ser encarado como uma prioridade nacional”, justificou o responsável. “Na realidade, os mercados de capitais trazem diversificação às fontes de financiamento das empresas, reforçando a estratégia de autonomia. Os mercados de capitais também constroem sofisticados ecossistemas, criam bons empregos e atraem talentos”, sublinha Miguel Athayde Marques.
Por sua vez, Isabel Ucha recordou que a agenda europeia valoriza o sistema financeiro, como demonstra a iniciativa União da Poupança e dos Investimentos (UPI), uma forma de juntar pequenos capitais e empresas. “A Europa percebeu que jogar o jogo da inovação requer a solidez de um toolkit, nomeadamente mercados de capitais mais eficazes e integrados. O sucesso dessa iniciativa também depende da visão e compromisso dos governos dos diferentes países”, lembrou a presidente da Euronext Lisbon.
O exemplo da Suécia, que passou de 200 mil investidores em 2012 para os atuais quatro milhões, quase metade da população, fortaleceu a defesa desta cultura de risco e de empreendedorismo. “Isto falta nalguns países, nomeadamente em Portugal”, alertou Isabel Ucha.
Crescimento à vista
Um estudo realizado pela Católica Lisbon Business e Economics a pedido da Euronext Lisbon e da AEM, intitulado “Report Innovation and Infrastructures: Connecting Portugal with the Future”, documenta as oportunidades de investimento. Identifica quatro áreas de crescimento, alinhadas com a política industrial comunitária: saúde, farmacêutica e biotecnologia; centros de competência de multinacionais; digital e defesa e drones.
Na apresentação do estudo, o diretor da faculdade, Filipe Santos, nunca mencionou o turismo, porque “já não existe uma bala de prata, uma flecha”, um único setor de investimento. “Nos nossos dias, a economia portuguesa tem uma série de drones, todos diferentes, impulsionados pela energia renovável, ligados, capazes de fazer face à batalha da competitividade global. Temos empresas com capacidade para implementar este projeto por causa do trabalho que fizemos no passado e da transformação da indústria. E se conseguirmos esse investimento adicional, a economia portuguesa crescerá acima dos 2,5 por cento previstos”, explicou o académico.
A equipa de Filipe Santos analisou a recente história económica de Portugal para compreender as transformações dos derradeiros 20 anos em todas as áreas. “A última década tem sido de investimento em capital humano, ciência e inovação. Começámos a ver os resultados há dois anos e agora estamos bem posicionados para sermos um hub de atração de investimento e desenvolvimento económico”, rematou o dean da Universidade Católica.