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Clusters e redes empresariais dinamizam subcontratação

Ao aproximar empresas, universidades e centros tecnológicos, os clusters transformam ecossistemas colaborativos em motores de inovação, serviços partilhados e subcontratação especializada.

17:07
Clusters e redes empresariais impulsionam inovação e subcontratação especializada
Clusters e redes empresariais impulsionam inovação e subcontratação especializada

Portugal não se constrói apenas com empresas individuais, mas com ecossistemas inteiros nos quais o conhecimento, a tecnologia e a cooperação circulam de forma estruturada. No centro desta dinâmica encontram-se os Clusters de Competitividade, plataformas que conectam empresas, universidades, centros tecnológicos e entidades públicas, convertendo sinergias em vantagem competitiva e serviços partilhados.

O presidente do IAPMEI, José Pulido Valente, destaca o papel crucial destas redes na promoção de relacionamentos interempresariais e na ligação entre empresas e entidades do conhecimento, através de iniciativas como os Open Days e o DAC. “Os Clusters de Competitividade assumem um papel central na dinamização de ecossistemas colaborativos que integram empresas, centros tecnológicos, universidades e entidades públicas em torno de objetivos comuns de inovação, digitalização, capacitação e internacionalização”, afirma este responsável.

21 clusters e uma estratégia de ecossistema

Portugal conta atualmente com 21 Clusters de Competitividade reconhecidos, abrangendo setores estratégicos como têxtil, calçado e moda, tecnologias digitais, saúde, agroalimentar, construção, mar, turismo, economia circular e indústrias criativas. Esta diversidade demonstra a amplitude das cadeias de valor nacionais e a capacidade de articular atividades produtivas, tecnológicas e de serviços.

Num contexto marcado pela aceleração tecnológica, escassez de talento qualificado e necessidade de eficiência, os clusters tornam-se essenciais para a promoção de serviços partilhados e subcontratação especializada. Através das suas redes, as empresas acedem a know-how qualificado, beneficiam de infraestruturas e competências partilhadas em domínios como I&D, digitalização, sustentabilidade e formação.

Exemplos concretos incluem os Polos de Inovação Digital (European Digital Innovation Hubs – EDIH) e as Test Beds, plataformas que permitem experimentar, demonstrar e transferir tecnologia. Empresas podem assim “testar antes de investir” em soluções digitais, verdes ou produtivas. Muitas destas iniciativas são promovidas ou integradas pelos próprios clusters e potenciam serviços tecnológicos partilhados, promovendo a adoção de tecnologias emergentes como inteligência artificial, robótica, fabrico aditivo, big data ou digital twin.

Clusters na linha da frente da recuperação

A relevância dos clusters é particularmente evidente no contexto do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Desde a sua conceção, os clusters foram reconhecidos como plataformas estratégicas de inovação colaborativa, alinhando empresas, universidades, centros tecnológicos e entidades públicas em torno de agendas comuns.

Nos 38 consórcios das Agendas Mobilizadoras, os clusters estão presentes em 73,1% dos casos. Também nos Roteiros para a Descarbonização, instrumentos-chave para a transição energética, os clusters assumem papel central: 21 roteiros foram aprovados, seis liderados por clusters, representando 28,6%.

José Pulido Valente sublinha que, embora a definição de políticas específicas para profissionalizar empresas B2B seja um tema político, a capacitação, a inovação e a valorização do tecido empresarial são elementos essenciais para reforçar a competitividade. Os clusters funcionam como catalisadores desta profissionalização, promovendo a troca de experiências e práticas avançadas em serviços partilhados.

Eficiência, sustentabilidade e produtividade como vantagem

Quando se pensa em produtividade e eficiência nas empresas, o Facility Management (FM) deixa de ser apenas um apoio logístico para se tornar numa alavanca estratégica. Segundo Miguel Alves Agostinho, diretor-executivo da APFM, “as grandes organizações com ativos dispersos, como a banca, as telecomunicações, a saúde, o retalho e a indústria, continuam a liderar. Contudo, verifica-se uma democratização do FM, com médias empresas a aderirem progressivamente a modelos de gestão integrada para reduzir custos fixos e otimizar recursos.”

O que une estas empresas é a visão do FM como fator de resiliência. Mais do que controlar espaços, trata-se de ligar o ambiente físico ao desempenho humano. A produtividade, o bem-estar e a cultura organizacional tornam-se critérios centrais, numa abordagem que a APFM identifica como Workplace as a Service.

A importância do FM na competitividade é cada vez mais evidente. “Quanto mais ativos, mais empregados ou clientes, maior o impacto. Mas qualquer empresa, de qualquer dimensão, deve querer ser eficiente”, sublinha Miguel Alves Agostinho. No entanto, a medição desse impacto nem sempre é tangível. Muitas organizações concentram-se apenas no core business, desconhecendo custos indiretos como o absentismo causado por más condições ambientais. Ainda assim, estudos da APFM indicam que uma gestão integrada do espaço e dos serviços pode reduzir custos de ocupação entre 10% e 25%, e consumos energéticos entre 15% e 60%, dependendo do estado e ocupação das instalações.

Três motores explicam a crescente adesão ao FM especializado. Primeiro, a complexidade regulatória, impulsionada por metas ESG e objetivos para 2030 e 2050. Segundo, a dificuldade de atrair e reter talento, ligada à flexibilidade laboral e às vantagens oferecidas. Terceiro, a volatilidade dos mercados, que exige uma gestão lean com custos correntes e de capital otimizados. Empresas com equipas competentes de FM, internas ou subcontratadas, conseguem reduzir custos enquanto aumentam a atratividade para colaboradores e clientes.

A APFM desempenha um papel decisivo na valorização do setor. A associação funciona como plataforma de conhecimento, normalização e diálogo entre prestadores, clientes e academia. Promove eventos, estudos de mercado, formação e certificação, e abre o FM para outras áreas estratégicas como financeiro, recursos humanos e TI. “Se o FM estiver isolado, não consegue atingir a sua plenitude”, reforça Miguel Alves Agostinho. O incentivo à partilha de boas práticas é considerado central, uma vez que, sem ela, o mercado português continua a reger-se pelo preço e por soluções de emergência, em vez de planeamento estratégico, comprometendo competitividade e qualidade de serviço.

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