Para muitas PME portuguesas, recorrer a parceiros externos deixou de ser apenas uma decisão operacional e tornou-se um passo estratégico, capaz de abrir portas a tecnologia avançada, mercados internacionais e processos industriais mais sofisticados. José Pulido Valente, presidente do IAPMEI, sublinha que neste contexto “é importante assegurar a escolha de parceiros adequados para garantir o controlo dos processos e a qualidade, o que exige uma boa gestão de risco assim como a dimensão da oferta”. A experiência mostra que nem todos os serviços podem ser externalizados sem um planeamento cuidadoso: capacidades de inovação, tecnologia, qualidade e cumprimento de normas são requisitos essenciais para qualquer PME que queira ser parceiro ou fornecedor num contexto tecnológico ou industrial.
Serviços refletem limitações das PME
O tecido industrial português, caracterizado por um elevado número de micro e pequenas empresas, recorre com frequência à subcontratação em áreas em que a sua dimensão interna não chega, como contabilidade, fiscalidade, formação e serviços de TI. A dimensão reduzida e as limitações de financiamento são barreiras significativas ao desenvolvimento interno de conhecimento e competências. Para ultrapassar estas lacunas, as políticas públicas têm implementado medidas que facilitam o acesso a serviços estratégicos. Entre estas, destacam-se iniciativas do PRR, como Coaching 4.0, que apoia modelos de negócio para a transição digital; Aceleradoras do Comércio Digital, voltadas para a capacitação tecnológica de PME nos setores do comércio e serviços; e Vouchers para Startups, que promovem produtos ou serviços digitais escaláveis, baseados em inteligência artificial, dados abertos ou soluções sustentáveis e circulares. Estas medidas permitem que empresas pequenas ou médias colmatem lacunas de recursos, tecnologia e experiência, fortalecendo a sua capacidade de resposta a mercados complexos.
O papel do IAPMEI na dinamização de parcerias entre PME e fornecedores tecnológicos ou industriais assenta em três pilares: formação, assistência empresarial e gestão de incentivos. A Academia PME capacita empresários e gestores; a assistência empresarial facilita contactos entre empresas e setores; e a gestão de incentivos concretiza oportunidades de subcontratação. José Pulido Valente explica que, apesar do apoio disponível, “as PME precisam de reforçar a sua preparação e a capacidade interna”. O presidente destaca ainda a importância de redes internacionais, como a Enterprise Europe Network (EEN), da qual o IAPMEI é parceiro, oferecendo uma “porta de entrada” para oportunidades internacionais, embora seja necessário que as PME possuam maturidade tecnológica, organizacional e estratégica para aproveitarem plenamente estas oportunidades.
Iniciativas nacionais fortalecem a cadeia de fornecimento
Através da EEN e de iniciativas nacionais, as PME portuguesas podem aceder a serviços que fomentam a colaboração tecnológica e industrial, incluindo informação e aconselhamento sobre regulamentação europeia, mercados externos e programas de financiamento da União Europeia; apoio à internacionalização, como contactos estratégicos, participação em missões empresariais e eventos de brokerage; identificação de parceiros externos, transferência de tecnologia e cooperação em projetos europeus; e divulgação de oportunidades de negócio e estabelecimento de parcerias industriais e de I&D. A combinação destas ferramentas permite que pequenas empresas ultrapassem limitações internas, ganhando escala, know-how e posicionamento competitivo, sendo capazes de integrar cadeias industriais complexas e de elevada tecnologia.
Além da EEN, o IAPMEI promove programas que aproximam PME de fornecedores industriais e tecnológicos de maior dimensão. Entre estes, destacam-se a Rede de Fornecedores Inovadores, que cria consórcios envolvendo grandes empresas, PME e centros de I&D, focados no desenvolvimento de produtos e serviços de média e alta tecnologia; a medida Empresas 4.0, do PRR, que incentiva a adoção de processos digitais e tecnológicos, aproximando PME de fornecedores e integradores industriais; e a participação do IAPMEI em centros tecnológicos e industriais, garantindo proximidade e apoio técnico às PME nacionais. O esforço conjunto de formação, redes e incentivos evidencia que a subcontratação em Portugal não é apenas uma necessidade operacional, mas uma ferramenta de desenvolvimento económico e tecnológico, enquanto permite reforçar a capacidade de as empresas competirem em mercados globais exigentes.