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Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Do corte de custos ao crescimento global

O outsourcing empresarial está a transformar-se. Mais do que poupar, as empresas portuguesas subcontratam para inovar, crescer e ganhar escala internacional.

17:10
Empresas portuguesas apostam no outsourcing para inovar e crescer
Empresas portuguesas apostam no outsourcing para inovar e crescer

A subcontratação empresarial está a atravessar uma das fases mais dinâmicas das últimas décadas. O outsourcing deixou de ser um instrumento para cortar custos e passou a ser uma alavanca estratégica de talento, inovação e crescimento, como confirma o Global Outsourcing Survey 2024, da Deloitte. Segundo este estudo, apenas 34% das empresas continuam a dar prioridade à poupança de custos, contra 70% em 2020, e os principais motores de decisão são agora o acesso a talento (42%), a melhoria da qualidade e do desempenho (33%) e a agilidade operacional (33%).

Este reposicionamento é particularmente relevante para o tecido empresarial português, composto maioritariamente por micro, pequenas e médias empresas (PME), que representam cerca de 99,3% das empresas não financeiras em Portugal, segundo dados do INE de 2023. O volume de negócios gerado por estas PME não financeiras rondou os 319,2 mil milhões de euros, refletindo a importância estratégica que estas empresas têm no conjunto da economia nacional. A subcontratação surge, neste contexto, como uma ferramenta que permite às PME acelerar os projetos de digitalização, aceder a competências especializadas e competir em escala global, sem sobrecarregar os recursos internos.

As áreas mais estratégicas continuam a ser a contabilidade e a fiscalidade, os recursos humanos, incluindo recrutamento, formação e processamento salarial, tecnologias de informação, abrangendo desenvolvimento de software, a cibersegurança e o suporte técnico, o marketing e a comunicação, os serviços jurídicos, a logística e o facility management, que inclui serviços de limpeza, segurança e manutenção. A evolução para um outsourcing mais qualificado reflete-se também no crescimento do setor de serviços às empresas, que, segundo o INE, registou um aumento de 14,6% em 2023, acima da média das empresas não financeiras, evidenciando a procura crescente por soluções externas mais especializadas.

Defesa, tecnologia e internacionalização

De acordo com José Pulido Valente, presidente do IAPMEI, “a subcontratação em Portugal entrará, nos próximos cinco anos, numa fase de forte expansão, impulsionada por novas cadeias de valor associadas à defesa, à indústria tecnológica e à integração europeia”.

Um estudo recente da Boston Consulting Group (BCG) estima que entre 2026 e 2029 possam surgir até 500 mil milhões de euros em oportunidades para empresas fora do setor da defesa, nomeadamente nas áreas de software, automóvel, eletrónica, telecomunicações e logística.

“Na cadeia de valor da defesa, há uma tendência crescente para que os grandes contratantes deleguem atividades de conceção, fabrico, manutenção e logística em empresas mais pequenas”, sublinha José Pulido Valente. De acordo com este responsável, “já existem empresas portuguesas a fornecer produtos e serviços de precisão para a indústria militar, e vemos crescer áreas como engenharia, sistemas embebidos, cibersegurança e integração de sistemas”.

Este movimento é reforçado pela aposta europeia em autonomia estratégica e pela preferência por fornecedores e subcontratados locais, o que pode favorecer as PME portuguesas que consigam “encaixar-se nesta lógica” de produção e fornecimento dentro da União Europeia.

Do outsourcing ao ecossistema de valor

Outra tendência em crescimento é a integração entre setores civis e de defesa, com o conceito dual-use a ganhar expressão. Muitas empresas de setores como a eletrónica, automóvel ou telecomunicações estão a adaptar-se para cumprir requisitos de certificação e qualidade exigidos na defesa.

Segundo o presidente do IAPMEI, “a União Europeia está a promover ativamente a participação de PME nestas cadeias de valor, incentivando a colaboração transfronteiriça através de programas como o European Defence Fund (EDF)”.  Neste contexto, o IAPMEI, por meio da sua liderança no consórcio da EEN Portugal (Enterprise Europe Network), desempenha um papel ativo no Sector Group Aerospace & Defence, apoiando as empresas portuguesas na criação de parcerias internacionais e consórcios tecnológicos.

As conclusões da Deloitte e a visão do IAPMEI convergem: a subcontratação evoluiu para um ecossistema multidimensional, que combina outsourcing, insourcing, global in-house centers e força de trabalho digital.

No contexto português, esta transformação representa uma janela de oportunidade única para empresas que consigam alinhar especialização, certificação e agilidade com a procura global por serviços avançados e componentes de alta precisão. Os dados do INE mostram que, com 99,3% das empresas não financeiras a serem PME, existe um enorme potencial de crescimento e profissionalização da subcontratação, transformando-a num verdadeiro motor estratégico.

A nova era do outsourcing é, portanto, menos sobre reduzir custos e mais sobre construir valor e influência nas cadeias internacionais de produção e tecnologia. A mudança é estratégica, ou seja, quem se adaptar agora poderá consolidar posições em mercados globais altamente competitivos.

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