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Facility management ganha peso em Portugal

Entre confusões conceituais, contratos baseados em custos e uma profissionalização desigual, o setor caminha para integrar tecnologia, sustentabilidade e governação nas decisões das empresas.

17:08
Miguel Alves Agostinho, diretor-executivo da APFM
Miguel Alves Agostinho, diretor-executivo da APFM

Em Portugal, muitos ainda confundem Facility Management (FM) com Facility Services (FS). Miguel Alves Agostinho, diretor-executivo da APFM, explica que “o FM é uma disciplina de gestão, certificável segundo a norma ISO 41001, enquanto os FS correspondem aos serviços operacionais, como limpeza, manutenção, segurança, catering, etc.”.

Em termos práticos, o FM é a gestão estratégica e integrada destes serviços e do ambiente de trabalho, não a sua execução direta. Apesar do crescimento da função, a sua implementação estratégica nas organizações portuguesas ainda é desigual. De acordo com o estudo Modelos Organizacionais e Âmbito do FM em Portugal (APFM, 2021), 57% das direções de FM continuam a reportar a áreas operacionais, em vez de se ligarem diretamente à gestão de topo.

Para inverter esta realidade, Miguel Alves Agostinho assume que a APFM tem promovido o FM como uma ferramenta de governação, capaz de gerar impacto direto na eficiência e nos resultados das organizações, e não apenas como função operacional.

Do monosserviço aos modelos integrados

O mercado português de facility services, com valor estimado em mais de 2,7 mil milhões de euros em 2016, está em transformação. Os contratos monosserviço cedem lugar a bundles de serviços e modelos integrados, permitindo aos prestadores adicionar camadas de gestão e apoio administrativo. Áreas como energia, manutenção técnica, segurança e consultoria em ambiente, segurança e saúde no trabalho são as que mais crescem. A expansão é impulsionada por maior complexidade regulatória e pela exigência crescente dos colaboradores sobre o tipo de empresa e ambiente em que desejam trabalhar.

Apesar das oportunidades, os desafios continuam a marcar o setor. Muitos contratos ainda se baseiam no custo, em vez do desempenho, bloqueando inovação e melhoria contínua. A escassez de mão de obra qualificada, a dificuldade de integração tecnológica e a ausência de métricas normalizadas agravam a situação. Segundo os estudos da APFM, a falta de comunicação e de benchmarking entre clientes e prestadores é uma barreira central ao desenvolvimento do FM em Portugal.

Profissionalização e certificação

O FM é uma profissão com conhecimento próprio e normas internacionais, mas a profissionalização ainda não é uniforme. A APFM tem promovido a adoção da ISO 41001, a criação de perfis de carreira e formação especializada em parceria com universidades portuguesas, como a Porto Business School e a NOVA FCT. Além disso, disponibiliza o único referencial de certificação profissional a nível mundial certificado e acreditado por entidades independentes.

Contudo, acredita-se que apenas quando as empresas começarem a valorizar a formação como critério preferencial em processos de recrutamento ou na escolha de prestadores é que se observará uma evolução consistente, com impacto real no mercado e na produtividade.

O relatório de tendências da APFM destaca a adoção de plataformas de gestão integrada, sensorização de edifícios, machine learning e digital twins como principais ferramentas em implementação. Contudo, apesar destes avanços, persiste um desalinhamento entre clientes e prestadores, ou seja, os prestadores acreditam que os clientes se focam apenas no preço, enquanto os clientes consideram os prestadores pouco inovadores. Esta assimetria cria um mercado transacional, com concorrência baseada no preço e perceção de baixo valor acrescentado. Para que a inovação seja sustentável, é necessário substituir contratos transacionais por parcerias de valor baseadas em objetivos comuns e partilha de dados.

O futuro do FM em Portugal

O futuro do FM em Portugal é desafiante, mas promissor. A integração de profissionais qualificados em posições estratégicas, aliada à tecnologia e à atenção à sustentabilidade, pode transformar o FM num motor de eficiência organizacional. Miguel Alves Agostinho conclui, no entanto, que “é difícil fazer a mudança no nosso país, mas talvez a complexidade regulatória e os desafios da sustentabilidade permitam dedicar tempo a tentar fazer melhor com os recursos que se tem, pois isso é eficiência. E isso, é FM.”

Da mesma forma, a consolidação do setor dependerá da capacidade das empresas de reconhecerem o FM como disciplina de governação e de construírem contratos e parcerias de valor que promovam inovação e resultados sustentáveis.

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