Direita domina Parlamento. Esquerda em crise

Direita passou a ter mais de dois terços dos deputados, esquerda em queda a pique, num dia em que o bipartidarismo estilhaçou, num resultado inédito para o PS, com vários pedidos de “reflexão” a Pedro Nuno Santos. Assembleia da República volta a ter dez forças políticas.
Paulo Ribeiro Pinto 19 de Maio de 2025 às 00:53

A noite eleitoral começou com a surpresa de um duelo pelo segundo lugar entre o PS e o Chega, algo inédito na história de um dos partidos fundadores da democracia e acabou com um igual número de deputados. O círculo da emigração vai desfazer o empate.

PUB

Todas as sondagens feitas à boca das urnas já davam os dois partidos ombro a ombro, algo que se viria a confirmar ao longo das horas que se seguiram ao fecho das urnas. Ambos estavam com 58 deputados já com todas as freguesias apuradas, faltando os votos da Europa e de Fora da Europa. Nas últimas eleições, o Chega conquistou dois dos quatro deputados, com os restantes a serem divididos por PS e PSD.

A diferença entre PS e Chega não chegava a 50 mil votos. O Partido Socialista conquistou 23,38% da votação (1,39 milhões de votos) e o partido liderado por André Ventura recolheu 22,56% (1,34).

PUB

O país que estava dividido quase a meio entre a AD e o PS aparece agora com uma vasta mancha a sul com vários concelhos em que o partido de André Ventura conquistou, nalguns casos em bastiões da esquerda, como no Alentejo. Os socialistas encaminhavam-se para uma hecatombe histórica. E à medida que as horas passavam, eram cada vez mais as vozes dentro do partido a pedir “reflexão” a Pedro Nuno Santos perante um resultado de desastre anunciado.

Eram os casos de Mariana Vieira da Silva ou Duarte Cordeiro. A ex-ministra da Presidência e que foi braço-direito de António Costa sublinhou que o PS “tem que contribuir para a estabilidade, porque a instabilidade e o número excessivo de eleições só têm ajudado um partido, e esse partido é o Chega.” A dirigente socialista não concretizou o que tal poderia significar na prática.

A AD reforçou a votação, com 89 deputados (ainda sem o círculo da emigração), com 32,1% dos votos, mais nove mandatos do que nas eleições do ano passado. Sem maioria, Luís Montenegro terá uma tarefa complexa de encontrar entendimentos, sendo que Pedro Nuno Santos – que não vai recandidatar-se à liderança do partido – indicou que não dará a mão a um governo da Aliança Democrática.

PUB

Um Parlamento inclinado à direita

O resultado das eleições deste domingo representa um parlamento mais inclinado à direita com este lado do espetro político próximo do limiar dos dois terços necessário para fazer aprovar, por exemplo, revisões constitucionais. PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal garantem o número suficiente der 156 deputados, ainda sem contar com os resultados da emigração.

Além do reforço da AD e da surpreendente ascensão do Chega, a Iniciativa Liberal reforçou o número de votos e de deputados, com nove mandatos, mais um do que nas últimas legislativas.

PUB

À esquerda, com a queda do Partido Socialista, só o Livre conseguiu reclamar uma vitória, ao eleger seis deputados, ultrapassando o PCP e o Bloco de Esquerda. Os comunistas perderam um deputado face às últimas eleições, passando para três mandatos. O BE acabou com o pior resultado desde que chegou ao parlamento em 1999, elegendo apenas um deputado, nesta caso, Mariana Mortágua, pelo círculo de Lisboa.

O PAN manteve a representação, com Inês Sousa Real a conservar o mandato único do partido. A reconfiguração do Parlamento também se faz de uma estreia: do Juntos Pelo Povo (JPP). Um partido de cariz regional, que surgiu na Madeira e chega agora à representação na Assembleia da República, com Filipe de Sousa. A Assembleia da República volta a ter dez forças políticas.

Agora é a hora do Presidente da República.

PUB

(Notícia atualizada à 01:00 para corrigir número de deputados do PCP)

Pub
Pub
Pub