Líderes e indústrias mundiais tremem com restrições chinesas à exportação de terras raras

Demoras no licenciamento das exportações e falta de alternativas comprometem vários setores. Donald Trump e Xi Jinping conversaram esta semana, com "conclusão muito positiva para ambos os países".
terras raras
Bloomberg
João Silva Jesus 07 de Junho de 2025 às 18:00

De minerais críticos a vitaminas da indústria, são vários os termos utilizados para descrever as terras raras, um grupo de 17 elementos químicos com propriedades magnéticas e eletroquímicas de extrema importância económica, industrial e tecnológica.

Apesar da sua designação, muitos acabam por ser mais comuns que o chumbo e o cobre. A sua raridade vem do facto de estarem distribuídos pela crosta terrestre, numa fina camada e em poucas quantidades, além de, na sua maioria, estarem misturados com outros minerais. Desta forma, implicam uma extração e filtragem trabalhosa, com graves impactos ambientais e bastante dispendiosas.

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As terras raras são utilizadas em vários setores como as telecomunicações, tecnologias verdes, eletrónica, indústria, medicina, defesa e energia. Desempenham um papel fundamental na construção de vários produtos eletrónicos, veículos elétricos, armamento, indústria aeroespacial e refinamento de petróleo. O maior exportador de terras raras é a China, que concentra cerca de 49% das reservas mundiais e processou 99% das terras raras pesadas utilizadas em 2024. 

No entanto, desde o início de abril que o governo chinês impôs restrições à importação de sete dos elementos de terras raras. A decisão tomada por Xi Jinping, Presidente da China, apresentou-se como uma forma de retaliação às . O impacto foi rápido e as reações escalaram, levando várias fábricas de todo o mundo a pedir compreensão a Pequim, antes que a produção paralise e agrave as economias locais.

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Na passada quarta-feira, 4 de junho, . Segundo a Reuters, várias empresas estão próximas de esgotar os materiais necessários para sustentar a produção, o que levará a atrasos e cortes nos produtos. No mesmo dia, a CLEPA, associação europeia de fornecedores de automóveis, alertou que várias fábricas e linhas de produção já foram encerradas devido à falta de material. O mesmo apelo foi feito pela Câmara de Comércio da União Europeia na China, a 6 de junho, que sublinhou que os atrasos no processo de aprovação das licenças de exportação e a falta de transparência estão a ter impactos negativos nas linhas de produção por todo o mundo.

Diplomatas, fabricantes de automóveis e executivos de vários países têm procurado urgentemente reuniões com Pequim, para pressionar a uma maior celeridade no processo de aprovação de pedidos por estes materiais. “Se a situação não se resolver rapidamente, já não se podem excluir atrasos ou mesmo interrupções da produção”, alertou Hildegard Mueller, diretora da Associação Alemã da Indústria Automóvel, que se juntou esta semana às queixas apresentadas por outras empresas europeias, indianas e norte-americanas.

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Trump e Xi Jinping numa "conclusão muito positiva"

No final de maio, Donald Trump criticou a demora dos requisitos de licenciamento para a exportação de minerais críticos, dizendo que representam uma violação, por parte do líder chinês, dos . Entretanto, os dois presidentes conversaram por telefone esta quinta-feira, 5 de junho, numa chamada que demorou perto de uma hora e meia. Os detalhes ainda não são conhecidos na totalidade: sabe-se apenas que falaram sobre o acordo comercial entre as duas potências e as dificuldades no licenciamento das exportações de terras raras.

Mais tarde, Donald Trump escreveu na sua rede social, a Truth Social: "A conversa durou aproximadamente uma hora e meia e resultou em uma conclusão muito positiva para ambos os países. Não deve haver mais dúvidas quanto à complexidade dos produtos de terras raras". O líder chinês frisou que cumpriu os acordos firmados em Genebra e pediu aos Estados Unidos que removessem as "medidas negativas" que ditaram a guerra comercial entre os dois países. Tanto Xi Jinping como Donald Trump para debater o tema, no entanto, ainda sem data e local marcado, apesar do convite mútuo para visitarem os respetivos países. 

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Na sexta-feira, 6 de junho, a Reuters adiantou que a China concedeu licenças temporárias de exportação a fornecedores de terras raras das três maiores fabricantes de carros norte-americanas: a General Motors, Ford e Stellantis. Enquanto a GM e a Ford não fizeram esclarecimentos, a Stellantis admitiu estar a trabalhar com os fornecedores "para garantir um processo de licenciamento eficiente", tendo conseguido "lidar com as preocupações imediatas de produção sem grandes interrupções". Ainda não são claros os detalhes desta decisão, no entanto, duas fontes da Reuters descrevem que algumas das licenças temporárias são válidas por seis meses

China promete transparência e estabilidade para as empresas

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A Câmara de Comércio da União Europeia na China admite que nos últimos dias se registaram algumas melhorias no licenciamento das exportações, no entanto, ainda não são suficientes. O governo chinês já afirmou que "tem como objetivo proporcionar um ambiente político, justo, estável, transparente e previsível para as empresas". 

Contudo, na quinta-feira, a Reuters avançou que a China tem vindo a aplicar um sistema de rastreio, principalmente para os componentes magnéticos de terras raras. Segundo três fontes da agência de notícias, este sistema, implementado na última semana de maio, exige que os produtores enviem informações adicionais, incluindo os volumes de negociação e os nomes dos clientes. A adição desta ferramenta tem como objetivo fortalecer o controlo chinês sobre o setor, onde tem quase o monopólio de produção, e também reprimir o contrabando, a mineração ilegal e evasão fiscal.

O assunto passará ainda por mais discussões. Ainda este mês está prevista uma reunião entre a delegação empresarial do Japão e o Ministério do Comércio em Pequim, tal como uma cimeira, no próximo mês, com os dirigentes europeus. Aguarda-se ainda o agendamento do encontro presencial entre Xi Jinping e Donald Trump

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