Vê menos grávidas à sua volta? Cuidado, pode vir aí uma recessão

Depois de saias, batons, gravatas e cuecas, a barriga das mulheres é mais um indicador invulgar para medir o desempenho económico. Um artigo publicado nos EUA sugere incluir a taxa de fertilidade nos modelos de previsão.
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Foto: Sérgio Lemos / CORREIO DA MANHÃ
António Larguesa 26 de Fevereiro de 2018 às 15:00

Três investigadores norte-americanos observaram perto de 109 milhões de nascimentos nos Estados Unidos no período entre 1989 e 2016, de forma a examinar as alterações ocorridas nas taxas de fertilidade durante os últimos três ciclos económicos no país. E concluíram que as gravidezes começaram a cair, pelo menos, seis meses antes do início dessas recessões da economia.

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Um artigo publicado em Fevereiro pela "The National Bureau of Economic Research" mostra que, nas últimas recessões nos EUA, a taxa de crescimento das gestações "começa a cair vários trimestres antes de a economia entrar em declínio", sugerindo que "o comportamento da fertilidade é mais antecipador do futuro e sensível às mudanças nas expectativas de curto prazo sobre a economia do que se pensava anteriormente".

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A confiança dos consumidores, as medidas de incerteza e as compras de bens duradouros, como um automóvel ou uma máquina de lavar-a-roupa são alguns dos indicadores mais habituais para este fim. O que Kasey Buckles, Daniel Hungerman (ambos da Universidade de Notre Dame) e Steven Lugauer (Universidade do Kentucky) agora vêm constatar é que a descida do número de mulheres grávidas é tão boa e antecipada no tempo – se não melhor ainda – para prever que a economia vai entrar em recessão.

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Citado pelo Financial Times (FT), que noticiou o estudo esta segunda-feira, 26 de Fevereiro, Kasey Buckles, que em 2016 já tinha publicado um artigo sobre os efeitos dos programas de distribuição de preservativos na fertilidade indesejada, salientou que "uma maneira de olhar para [esta conclusão] é que a decisão de ter uma criança geralmente reflecte o nível de optimismo sobre o futuro".

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"Impressionante" foi como o colega do departamento de Economia e co-autor, Daniel Hungerman, classificou a quebra nas estatísticas da fertilidade antes de rebentar a crise financeira de 2007 – até agora sempre classificada como difícil de prever. É que, lembrou este economista, "nenhum especialista viu chegar" esse declínio da actividade económica e "nos primeiros meses [de contracção] muitos empresários estavam convencidos que a economia estava a comportar-se bem".

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Ora, a gravidez pode assim juntar-se à lista cada vez mais longa de indicadores alternativos para medir a temperatura da economia. O ex-presidente da Reserva Federal norte-americana, Alan Greenspan, considerava a quebra nas vendas de cuecas masculinas como um sinal de problemas a caminho. E na última grande recessão também começaram a ser analisadas as oscilações na venda de gravatas: se sobem é porque os funcionários estão com mais medo de perder o emprego.

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Do início do século, embora entretanto desacreditada, como lembra o FT nesta publicação, veio a correlação inversa entre a compra de cosméticos e a vitalidade da economia: um índice do batom proposto pelo milionário Leonard, então à frente da Estée Lauder. E quase um século antes, nos anos 1920, já era sugerido aos economistas que olhassem para o comprimento das saias das mulheres para aferir o desempenho bolsista.

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