Krugman alerta que Portugal está "mais exposto do que um país europeu médio" às tarifas

Numa conferência do Banco de Portugal sobre o 25 de Abril, o Nobel da Economia reconheceu que as tarifas norte-americanas podem ser um problema para a economia portuguesa, mas destacou o "progresso significativo" que Portugal fez desde o 25 de Abril e que lhe permitiu resistir a crises.
António Cotrim / Lusa
Joana Almeida 21 de Abril de 2025 às 17:13

O economista Paul Krugman, que recebeu o Nobel da Economia em 2008, afirmou esta segunda-feira que Portugal está "mais exposto do que um país europeu médio" às tarifas norte-americanas e que tal é um fator de preocupação para a economia nacional. Ainda assim, sublinha o "progresso significativo" que a economia portuguesa registou desde o 25 de Abril e que lhe permitiu resistir a múltiplas crises.

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"Enquanto a guerra comercial e toda a loucura se desenvolve, quão exposto está Portugal? Sei que não está totalmente dependente dos turistas nem das empresas norte-americanas, mas a importância significa que provavelmente está mais exposto do que um país europeu médio", afirmou o Nobel da Economia, na conferência "Falar em liberdade: 50 anos do 25 de Abril", promovida pelo Banco de Portugal, em Lisboa.

Para Paul Krugman, essa exposição da economia portuguesa às tarifas dos Estados Unidos é preocupante, mas destacou que a economia portuguesa saída da Revolução dos Cravos é resiliente. Tal é visível, segundo o Nobel da Economia, pela forma como resistiu aos desafios da estabilização económica após a revolução, assim como, mais recentemente, à crise financeira de 2008 e à crise das dívidas soberanas. 

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"Sei que [Portugal] não está totalmente dependente dos turistas nem das empresas norte-americanas, mas [...] provavelmente está mais exposto do que um país europeu médio"Paul Krugman, Nobel da Economia

"O PIB per capita [de Portugal] é cerca de 155% maior do que em meados dos anos 70", afirmou. "É um progresso significativo e feito em plena convergência com a Europa", acrescentou, salientando que os avanços que foram conseguidos em termos económicos, financeiros e sociais, e que não foram conseguidos logo de imediato após a Revolução do 25 de Abril.

Paul Krugman recordou que, em 1976, esteve em Lisboa a trabalhar no departamento de estudos económicos do Banco de Portugal, numa altura em que o governador era José da Silva Lopes. "Tinha 23 anos e era muito, muito americano. Ou seja, basicamente um insular e ignorante do mundo", referiu. E contou que, nessa altura, pode presenciar "in loco" os avanços que estavam a ser feitos no país.

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O Nobel da Economia lembrou alguns aspetos que o marcaram na sua estadia por Portugal nessa altura e que considera que não foram "totalmente capturados pelo PIB". Um desses aspetos foi o facto de, por causa da escassez de divisas, a eletricidade ter sido desligada durante algumas horas do dia para economizar e terem sido apertados os controlos fronteiriços, sobretudo nas movimentações de dinheiro.

Mais de 50 anos depois do 25 de Abril, Paul Krugman alertou ainda que há algumas preocupações em relação à economia portuguesa, nomeadamente o envelhecimento da população e a emigração de jovens. Contudo, sinalizou que, nos últimos anos, Portugal tem registado alguns sinais positivos. "A população em idade ativa aumentou de forma significativa nos últimos anos", referiu.

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Centeno: "Não há revoluções concluídas"

Antes de Paul Krugman, também Mário Centeno salientou que o Portugal de 1974 era "um país anacrónico" e que o 25 de Abril foi crucial para atingir os níveis de desenvolvimento atuais. Os principais indicadores económicos, financeiros e sociais "estavam aquém dos europeus" e, enquanto país colonial, Portugal "mantinha em todos os seus territórios um atraso que ameaçava tornar-se endémico".

"Esta revolução era necessária para que outras se seguissem", argumentou, notando que o próprio Banco de Portugal é "filho da revolução democrática", tendo em conta que foi depois do 25 de Abril que se tornou um banco público e foram criadas condições para que passasse a ser um banco central, atualmente pertencente ao Eurosistema.

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O governador do BdP defendeu que "a grande transformação que Abril trouxe foi para as mulheres portuguesas", nomeadamente no que toca à sua integração no mercado de trabalho, que aumentou de forma exponencial. Destacou também a melhoria dos níveis de escolaridade, dado que 26% da população era analfabeta em 1974, a instituição do salário mínimo e o aumento do número de empresas, que hoje é "10 vezes superior" ao registado antes da Revolução dos Cravos.

Porém, Mário Centeno considera que há ainda caminho a percorrer e que o 25 de Abril não é uma conquista fechada. "Não há revoluções concluídas, os tempos atuais colocam-nos em alerta. Requerem mais análise e reforço da confiança", afirmou.

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