OCDE: Se Estados se unirem ao esforço do BCE, efeito de longo prazo é maior e preços das casas sobem menos

A OCDE considera que chegou a hora de os Estados, principalmente na Zona Euro, introduzirem políticas orçamentais expansionistas para complementarem os esforços da política monetária do BCE.
OCDE
Bloomberg
Tiago Varzim 19 de Setembro de 2019 às 10:04

É mais uma instituição que se junta a quem pede - como o próprio BCE ou o FMI - aos Estados-membros da Zona Euro para investirem mais.

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No Economic Outlook Interino publicado esta quinta-feira, 19 de setembro, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) pede que haja mais investimento público e reformas estruturais para complementar a política do Banco Central Europeu (BCE). E garante que o efeito a longo prazo será maior e que os preços das casas não vão subir tanto.

"A política orçamental tem de assumir um papel maior no fomento do crescimento nas economias avançadas", considera a OCDE, argumentando que as taxas de juro historicamente baixas são uma "oportunidade para investir em infraestruturas que promovem a procura no curto prazo e oferecem benefícios para o futuro". A par do investimento público devem ser feitas "reformas estruturais" que "compensem" o impacto negativo das tensões comerciais. 

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No caso específico da Zona Euro, a Organização considera que o uso da política orçamental e das reformas estruturais ao lado da política monetária seria mais eficaz para promover o crescimento e "criará menos distorções financeiras" do que se houver apenas a política de "quantitative easing" (QE) do BCE. Em causa está a evolução dos preços das casas, que têm criado pressões em grandes cidades europeias, e das ações, o que é promovido pelos baixos custos de financiamento.

"Ambos os cenários aumentam o rendimento das famílias e das empresas, mas as reações dos preços dos ativos são mais fortes num cenário só com QE devido à maior queda das taxas de juro a longo prazo", explica a OCDE, argumentando que uma mistura das duas políticas reduz os potenciais riscos de estabilidade financeira. A Organização considera que o preço dos ativos financeiros já é elevado e tenderá a engordar mais caso os bancos centrais fiquem sozinhos na tentativa de contrariar a atual desaceleração económica mundial.

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OCDE: Se Estados se juntarem ao esforço do BCE, efeito de longo prazo é maior e preços das casas inflacionam menos

Com a estratégia proposta pela OCDE, a longo prazo, face ao cenário-base, o nível do PIB seria 1,75% mais elevado e a taxa de inflação estaria entre os 1,7% e os 1,9%, próxima do objetivo determinado pelo mandato do BCE. E, apesar dos gastos públicos aumentarem, a OCDE prevê que o rácio da dívida pública possa ficar no mesmo nível com a ajuda de um PIB maior e de menos custos com juros. 

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Para a OCDE estes temas são "ainda mais relevantes" na atual conjuntura mundial pelo que uma combinação "bem desenhada" da política orçamental, reformas estruturais e política monetária acomodatícia é "necessária na Zona Euro caso se queira fortalecer as perspetivas de crescimento de forma duradoura". 

"Estes resultados [da simulação da OCDE] sugerem que uma abordagem de política alternativa poderia ter sido tomada em 2014-15 e poderia ter sido mais eficaz na estabilização macroeconómica do que apenas confiar [essa tarefa] na política monetária", conclui a OCDE, argumentando que a ação conjunta dos Estados e do banco central poderia ter mitigado algum do estímulos dado aos preços de alguns ativos, nomeadamente as casas.

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Mais 0,75% do PIB em investimento público durante cinco anos. Países têm espaço para o fazer

Na simulação feita pela OCDE para a Zona Euro, o cenário da política monetária do BCE tem como base o "quantitative easing" introduzido em 2015, ou seja, o programa de compra de ativos, que o banco central anunciou na semana passada que iria retomar. O cenário de investimento público e de reformas estruturais implica aumentar o investimento em 0,75% do PIB durante cinco anos, implementando reformas que aumentem a produtividade em 0,2 pontos percentuais por ano também durante cinco anos.

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Para a OCDE há vários países que têm espaço orçamental para aplicar estas medidas (e que em 2014 já o tinham). É o caso da Alemanha - que está a ser pressionada interna e externamente para implementar estímulos orçamentais - assim como da Holanda e da Áustria. Com o défice abaixo dos 3% do PIB, ou mesmo com excedentes orçamentais, e dívidas públicas relativamente baixas, estes países poderiam aumentar os gastos públicos sem colocar em causa a solidez financeira.

Já outros países como França, Itália e Espanha, com défices e dívidas maiores, têm menos espaço para implementar uma política orçamental expansionista. Contudo, "nestes países, assume-se que a despesa adicional de investimento público pode ser compensada totalmente por mais impostos diretores, de forma a que o impacto no orçamento seja neutro". Além disso, a OCDE recomenda que façam uma revisão da despesa pública de forma a torná-la mais eficaz, mudando também o tamanho dos estabilizadores automáticos.

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"Dito isto, seria necessária ajuda adicional da política orçamental caso haja uma recessão, dado os limites da política monetária", sentencia a Organização.

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