Banco de Portugal revê PIB em baixa e mantém défices no horizonte
Previsões apontam agora para 1,6% de crescimento neste ano. Défice esperado é ainda de 0,1% do PIB em 2025, com novo alerta para a deterioração das contas públicas.
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O Banco de Portugal (BdP) reviu nesta sexta-feira em baixa o crescimento económico esperado para este ano, apontando para uma subida do PIB de apenas 1,6%, bem abaixo da expectativa do Governo de obter uma expansão superior a 2% e também naquela que é, até aqui, a projeção mais pessimista para a economia portuguesa em 2025.
A revisão em baixa, explica a instituição, é largamente justificada pela contração económica de 0,5% em cadeia ocorrida no primeiro trimestre, e que não era antecipada. Para o segundo trimestre, a expectativa é já de alguma recuperação, para 0,4% de subida em cadeia do PIB, mas com o BdP a esperar "uma evolução contida do consumo atendendo ao impacto dos menores reembolsos do IRS e à redução da confiança dos consumidores". Já na segunda metade do ano, "o crescimento trimestral do PIB deverá situar-se em 0,6%, refletindo em larga medida um maior dinamismo do consumo privado", reflete a instituição no Boletim Económico de junho, hoje apresentado pelo governador Mário Centeno.
Já para 2026, o BdP prevê uma melhoria para os 2,2% de crescimento. "As tensões comerciais e a maior incerteza limitam a atividade económica, mas os efeitos do alívio das condições financeiras, das maiores entradas de fundos da UE e da robustez do mercado de trabalho dominam em 2026", justifica. Em 2027, porém, é esperada nova desaceleração para 1,7% de subida do PIB.
A antecipar estabilização na inflação em valores ligeiramente abaixo dos 2%, abrandamento no emprego e nos salários, mas uma taxa de desemprego ainda favorável, as previsões macroeconómicas enfrentam riscos negativos sobretudo quanto ao andamento do PIB devido à incerteza gerada pelo levantamento de tarifas no comércio internacional.
"O crescimento pode ser menor se as tensões comerciais se agravarem, se a incerteza económica persistir ou em caso de dificuldades na execução dos fundos da UE. Em sentido contrário, a resolução dos conflitos armados e um aumento dos gastos em defesa em Portugal podem ter um impacto positivo na atividade", admite o boletim.
O BdP deixa o alerta que "num contexto internacional volátil, as políticas nacionais devem contribuir para mitigar a incerteza, incentivar o investimento e promover a inovação, mantendo-se a aposta na melhoria contínua das qualificações da população".
Ao mesmo tempo, apela à contenção orçamental do novo Governo num cenário que continua a ver como sendo de forte agravamento dos saldos orçamentais, esperando défice de 0,1% do PIB neste ano, de 1,3% do PIB em 2026 e de 0,9% do PIB em 2027. "É importante também que os progressos obtidos nas contas públicas sejam preservados, pois a deterioração da posição orçamental limitaria a capacidade de reação a choques adversos e às pressões estruturais de aumento da despesa", avisa.
"Há um risco de incumprimento das regras europeias", alertou o governador do BdP, cujas estimativas apontam para a que a despesa primária líquida - o indicador agora sob vigilância da Comissão Europeia - exceda até 2027 o teto máximo para desvios acumulados às trajetórias recomendadas (0,6 pontos percentuais) e também o teto de desvio máximo anual (0,3 pontos percentuais). Nos cálculos da instituição, a despesa líquida subirá em média 4,6% nos próximos ano, ou seja, 1 ponto percentual acima dos 3,6% de crescimento médio com o qual o país se comprometeu.
O BdP faz notar que "embora a posição portuguesa se mantenha favorável no contexto do euro, é fundamental conter a deterioração orçamental, assegurando o cumprimento das regras orçamentais europeias" e lembra que "a elevada dívida pública permanece uma vulnerabilidade".
No que toca à evolução do peso da dívida pública, e apesar da deterioração forte do saldo, este "continua a diminuir ao longo do horizonte da projeção, passando de 94,9% em 2024 para 85,8% em 2027, mas o ritmo de redução é inferior ao dos últimos anos". "Em 2026, o endividamento público português pode ficar abaixo da média dos países da zona euro", antecipa o boletim.
Atualizado com mais informação às 11h30.
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