Líder do FMI sugere “czar do mercado único” para UE. “Já chega de retórica sobre competitividade”
Kristalina Georgieva diz que a Europa sabe o que fazer para aumentar a competitividade do bloco. “Concluam o vosso projeto. E acompanhem o dinamismo privado dos EUA”, atira.
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A diretora-geral do FMI sugere a nomeação do que chama “czar do mercado único” para impulsionar as reformas no bloco, afirmando que “já chega de retórica sobre competitividade.”
No discurso de abertura dos encontros mundiais do Fundo Monetário, Kristalina Georgieva foi direta para o seu continente natal: “Já chega de retórica sobre como aumentar a competitividade - sabem bem o que tem de ser feito. É tempo de agir”, recomendou a líder da instituição sediada em Washington.
Para tal, Georgieva sugere a nomeação de “um ‘czar do mercado único’ com verdadeira autoridade para impulsionar reformas. Eliminem as fricções nas fronteiras nos mercados de trabalho, bens e serviços, energia e finanças.”
Para a líder do FMI é preciso avançar com a construção de “um sistema financeiro europeu unificado”, apontando ainda uma “união energética”. “Concluam o vosso projeto. E acompanhem o dinamismo privado dos EUA”, atirou.
Georgieva socorreu-se de “uma imagem que vale mil palavras”, apontando as “sete empresas norte-americanas de enorme dimensão – todas fundadas nos últimos 51 anos – com uma capitalização de mercado que ultrapassa largamente as empresas europeias da mesma geração.”
Economia está “melhor do que temido, mas pior do que necessário”
No discurso de abertura Kristalina Georgieva mostrou-se mais otimista do que em abril, apontando para um ligeiro abrandamento do crescimento global este ano e no próximo, mas com sinais de se ter resistido às tarifas dos EUA e guerras.
“Como está a economia atualmente?” Perguntou, com algum grau de provocação. “Numa resposta curta: melhor do que temíamos, mas pior do que seria necessário.” A explicar este melhor desempenho, FMI aponta um choque das tarifas inferior ao inicialmente previsto, as economias emergentes aguentaram-se melhor do que projetado, o setor privado adaptou-se às novas condições, a que acrescenta condições financeiras favoráveis. São boas notícias para a economia mundial, conclui Kristalina Georgieva.
“Quando nos encontrámos em abril, muitos especialistas – não o FMI – previram uma recessão nos EUA a curto prazo, com efeitos negativos para o resto do mundo. Em vez disso, tanto a economia dos EUA como de muitos outros mercados avançados, emergentes e alguns países em desenvolvimento mostraram resistência”, referiu.
“O nosso World Economic Outlook, a ser apresentado na próxima semana, prevê um abrandamento apenas ligeiro do crescimento global este ano e no próximo. Todos os sinais apontam para uma economia mundial que, de forma geral, resistiu a tensões decorrentes de múltiplos choques.”
No caso concreto das tarifas, o “impacto não foi tão grande como anunciado”, assumiu Georgieva. “A tarifa média ponderada dos EUA caiu de 23% em abril para 17,5% atualmente – ainda assim, bastante acima do nível anterior. A taxa efetiva dos EUA está muito acima da dos restantes países, que se mantiveram relativamente estáveis este ano, com poucos casos de retaliação.”
Para Georgieva, conseguiu evitar-se, até agora, “uma escalada para uma guerra comercial”, mesmo com perdas para a abertura do comércio mundial.
A líder do FMI deixa, no entanto, uma nota menos positiva. “A história, porém, não terminou – os valores das tarifas dos EUA continuam a oscilar. Acordos comerciais com o Reino Unido, UE, Japão, e em breve Coreia do Sul, baixaram algumas tarifas, enquanto disputas comerciais com Brasil e Índia fizeram outras subir”, lembrando que “outros países também devem ajustar as suas taxas.”
“No campo das tarifas, o efeito pleno ainda está por acontecer”, reconheceu, referindo-se concretamente aos EUA. “A compressão de margens pode dar lugar a maior repercussão nos preços, aumentando a inflação com impacto na política monetária e no crescimento. Noutros lugares, uma inundação de mercadorias antes destinadas ao mercado norte-americano pode precipitar uma nova vaga de aumentos tarifários.”
E concluiu dizendo que “o comércio mundial está a ser abalado, mas ainda flui – tal como a água, não é fácil travar. Por enquanto, a maioria do comércio global respeita as regras. O FMI apela aos decisores políticos: preservem o comércio como motor do crescimento.”
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