"Eu sou um acento circunflexo". Franceses contestam mudanças de grafia
A Academia Francesa, que supervisiona a língua de Molière, sugeriu a revisão de cerca de 2.400 palavras, sobretudo para as tornar mais simples para as crianças que entram na idade escolar e para reparar algumas "anomalias". A ideia é padronizar e simplificar algumas peculiaridades na linguagem escrita, tornando-a mais fácil de aprender, defende a Academia.
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No entanto, a decisão está a provocar uma forte contestação junto dos mais puristas, que não aceitam, por exemplo, que a cebola, oignon, passe a escrever-se ognon, sublinha o The Guardian.
E não é tudo. A queda do circunflexo, em muitas palavras francesas, está a enfurecer os puristas da língua, já que é um acento muito "querido" dos franceses. A ponto de já ter sido criada no Twitter a campanha #JeSuisCirconflexe (um tipo de "hashtag" popularizada com o movimento #JeSuisCharlie, em Janeiro de 2015, aquando do ataque ao semanário Charlie Hebdomadaire).
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Wesh ! #JeSuisCirconflexe pic.twitter.com/DhVtPfN8Yb
Em jeito de contestação, um dos cartazes do "contra" mostra cebola escrita da forma antiga, oigon, depois em 2016 (ognon) e depois em 2013: "truk ki fé pleuré" (truc qui fait pleurer - uma coisa que faz chorar).
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Apesar de esta "lista de ortografia revista" não ser obrigatória, as equipas responsáveis pela elaboração e revisão dos dicionários foram instruídas no sentido de reconhecerem ambas as grafias (a antiga e a nova), sendo que nas escolas foi indicado que se use a nova versão – se bem que a anterior também será aceite como correcta, refere o jornal britânico.
Ainda assim, a campanha do contra está em força no Twitter e a ganhar balanço noutros meios de divulgação. Há quem não entenda este "súbito" repúdio, uma vez que estas reformas já foram definidas há 26 anos. Em 2008, lembra o The Guardian, o Ministério francês da Educação sugeriu que as novas regras ortográficas fossem "a referência" em uso, mas essa proposta acabou por não ser acatada.
"A crescente fúria" que agora se tem observado, relativamente a esta decisão, já fez com que o Ministério da Educação emitisse um comunicado a tranquilizar a população, dizendo que o acento circunflexo não vai desaparecer.
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Entre muitas das palavras que vão perder este acento estão, por exemplo, côut (custo, que passa a cout), paraître (parecer, que passa a paraitre) e maîtresse (professora, que passa a maitresse). Nas simplificações, week-end (fim-de-semana) passa a escrever-se sem hífen e nénuphar (nenúfar) é agora nénufar.
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