Passámos da fase de defender, sem temor, a temidos governamentais, em nome da defesa da honra dos projetos esquerdoides, para nos rendermos às naturais soluções da sã convivência entre os objetivos dos agentes privados e os dos governos.
Estas contas certas são, em parte, a revelação do erro desta geração: que o engrandecimento do Estado é indissociável e traz prosperidade e justiça social. Se assim fosse, em Portugal estaríamos à porta do paraíso.
Estamos prisioneiros de um Presidente narcisista, equilibrista, com uma personalidade ambivalente. Vale o seu amor a Portugal, tão grande como o seu próprio, bem como a sua permanente preocupação católica com os mais desfavorecidos e desvalidos.
Sem dó e piedade todos serão acusados de prejudicar a vida coletiva por tão simplesmente estarem a ajustar os preços, incorporando nas suas contas o brutal aumento da massa monetária.
Quando, nos tempos idos da troika, se dizia que não havia alternativa, a esquerda vociferava que havia. Não há mesmo, infelizmente, alternativa à austeridade e às contas certas, quando a montanha de dívida é colossal.
Vive-se na negação da realidade que foi a chegada da troika a Portugal. Não foi a troika que fez mal a Portugal: é Portugal que faz mal a si mesmo.
O momento deverá ser de conciliação dos moderados da esquerda e da direita, que devem ser exemplo em democracia com alternativas responsáveis, e a agenda política terá de ser de transformação criativa das instituições conservadores.
Agradecemos ao Presidente da República a promoção do orgulho nacional e a pacífica convivência social, mas não podemos aceitar que não dê sinais de descontentamento com a realidade asfixiante e paralisante no nosso país.
Com moeda própria a alternativa só era coragem política; com moeda única, ou há habilidade e cobardias políticas de gerir dossiês estruturalmente inacabados e incompletos, ou haverá como dizia Ernani Lopes à época um momento de "a realidade a passar uma fatura". Oxalá chegue tarde.
No limite, toda a história da humanidade é um atropelo. A paz perpétua, o paraíso na terra e os direitos e obrigações universais estão ali ao virar da esquina, mas há um mundo retrógrado que não está a ver.
As décadas de estatismo redistributivo, empobrecimento comparativo e uma ressaca da intervenção externa não se combatem com um PSD domesticado pelos donos do regime.