Bruxelas quer todos os países a usarem flexibilidade orçamental na Defesa

Comissão Europeia espera que governos entreguem até fim de abril pedidos de exclusão das regras orçamentais. Mas subida de gastos militares não pode pôr sustentabilidade da dívida em risco.
Hannibal Hanschke / EPA
Maria Caetano 19 de Março de 2025 às 13:03

A Comissão Europeia pretende que todos os Estados-membros avancem com pedidos de ativação da cláusula de derrogação nacional do Pacto de Estabilidade e Crescimento para aumentarem os gastos em Defesa ao longo dos próximos quatro anos, encorajando a que os governos o façam até ao final de abril, de acordo com a comunicação detalhada da proposta de flexibilização orçamental para despesa militar.

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"Uma vez que todos os Estados-membros são afetados por esta situação excecional e com vista a maximizar o impacto para a prontidão de Defesa e para a capacidade de produção industrial de defesa da UE, todos os Estados-membros são convidados a fazerem uso da flexibilidade de forma coordenada", indica a comunicação apresentada nesta quarta-feira, juntamente com o novo Livro Branco sobre o Futuro da Defesa Europeia.

O objetivo é que os governos avancem tão rápido quanto possível, de uma forma coordenada, para começarem já neste ano a aumentar despesa e com a Comissão Europeia a indicar que os pedidos poderão ser aprovados no início do verão. "Os Estados-membros são convidados a apresentarem os respetivos pedidos para ativar a cláusula de derrogação nacional até ao final de abril. Estes pedidos podem ser coordenados pelo Conselho com o objetivo de haver pedidos conjuntos por parte de todos os Estados-membros interessados. A Comissão está preparada para avaliar expeditamente os pedidos recebidos e adotar recomendações para as recomendações do Conselho de junho, para adoção pelo Conselho em julho", especifica a comunicação apresentada.

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No caso de Portugal, o atual Governo em gestão de Luís Montenegro tem indicado que a flexibilização será pouco relevante para as finanças públicas nacionais atendendo à situação excedentária das contas públicas, que coloca o país muito longe de um procedimento por défice excessivo (défice acima de 3% do PIB), manifestando antes interesse no recurso ao novo instrumento financeiro SAFE, de 150 mil milhões de euros, que concederá empréstimos a juros muito baixos para compras de material de Defesa.

Contudo, está não apenas em causa a regra do défice, mas também as regras relativas à variação da despesa líquida dos Estados-membros, que desde este ano estão sujeitas a tetos recomendados por Bruxelas e nas quais se admitem apenas desvios acumulados máximos de 0,6% do PIB. Até 2028, Portugal prevê aumentar a despesa líquida numa variação média anual de 3,6%, mas a adoção de toda a margem orçamental prevista agora para Bruxelas (mais 1,5% do PIB) faria disparar este valor.  Nos cálculos do Negócios, considerando o tipo de despesas que serão contempladas na exclusão, os gastos em Defesa nacional poderiam subir aos 7,6 mil milhões de euros em 2028.

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Com a ativação da chamada cláusula de escape, Bruxelas pretende que os Estados-membros subam a despesa em Defesa em 1,5% do PIB ao longo de quatro anos - previsivelmente, de 2025 a 2028, alinhando-se com o calendário dos novos planos orçamentais de médio prazo em vigor desde este ano. A ideia é haver o impacto de um esforço sincronizado para o rearmamento europeu em face da ameaça russa e também para a promoção da base industrial de defesa do continente num momento de estagnação económica e de fortes dificuldades vividas entre as indústrias do continente. 

Contudo, e apesar de querer ver todos os países avançarem ao mesmo tempo com pedidos de exclusão das regras orçamentais, a Comissão Europeia lembra desde já que a ideia é que estes consigam, após o período de quatro anos, sustentar o aumento de despesa em Defesa de forma estrutural e avisa que será necessário também assegurar que a sustentabilidade da evolução da dívida pública não será posta em causa. "Tal flexibilidade pode ser usada para maior despesa em Defesa conquanto esta não ponha em risco a sustentabilidade orçamental no médio prazo"

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A despesa elegível para a exclusão das regras será aquela que as autoridades estatísticas europeias consideram na classificação dos gastos públicos por função, e que é menos abrangente do que aquela que é considerada pela NATO nos seus relatórios anuais. Na classificação, cabem as compras de equipamento militar mas também infraestruturas de uso duplo, os salários das Forças Armadas ou ainda ajudas à Ucrânia

Ficam também abrangidas automaticamente as compras que forem feitas com recurso ao futuro instrumento financeiro, designado como SAFE (Ação de Segurança para a Europa, em português), cujas regras foram detalhadas também nesta quarta-feira. Tal como tinha sido já antes indicado por Bruxelas, as compras feitas devem privilegiar fabricantes europeus de armamento, com 65% da contratação reservada para países do Espaço Económico Europeu (UE, Islândia, Noruega e Liechtenstein) e Zona Europeia de Comércio Livre (inclui também a Suíça) e ainda Ucrânia.

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Contudo, o Reino Unido, um dos principais fabricantes de material militar na Europa, não estará excluído, com o comissário europeu da Defesa, Andrius Kubilius, a contrariar informação avançada nesta quarta-feira pelo Financial Times e a detalhar que o novo fundo também poderá ser usado para compras a fabricantes de países candidatos à UE, países parceiros, através de acordos bilaterais ou quando as empresas se estabeleçam em território da União Europeia. "Ninguém está excluído", afirmou.

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