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Seixas da Costa: “A governação em matéria de defesa é a questão-chave que aí vem”

O embaixador Francisco Seixas da Costa junta-se a Gonçalo Moura Martins e António Ramalho na análise aos desafios e implicações do compromisso assumido pelos países da NATO, entre os quais Portugal, de aumentarem os gastos em defesa para 5% do PIB. Novo episódio do podcast Partida de Xadrez vai para o ar esta segunda-feira.

Francisco Seixas da Costa analisa desafios da despesa com defesa na NATO
Francisco Seixas da Costa analisa desafios da despesa com defesa na NATO
13 de Julho de 2025 às 12:00

Na defesa, em que até agora "vivíamos sob uma implícita governação americana", com a criação no futuro de uma autonomia europeia nesta matéria "a discussão que hoje vemos na Europa sobre  quem é quem em termos de decisão vai-se colocar nesta área core da soberania”. O alerta é do embaixador Francisco Seixas da Costa, convidado do 34.º episódio do podcast Partida de Xadrez, que vai para o ar esta segunda-feira no site do Negócios e nas principais plataformas, sobre o compromisso assumido pelos países da NATO, entre os quais Portugal, de aumentarem para 5% os gastos em defesa até 2035.

 “A governação é a questão-chave que aí vem”, afirma Seixas da Costa, admitindo ter "mais dúvidas do que certezas". "Entre os 27 Estados-membros haverá consenso para criar uma hierarquia europeia? Numa área tão delicada como a segurança e defesa haverá capacidade de delegar poderes, por exemplo, a França? Como é que Alemanha se comportará?”, questiona.

“Na Europa estamos habituados a partilhar áreas de soberania relativamente laterais, mas a área de defesa é central”, diz.

Também António Ramalho considera que “há um problema de governação dos sistemas de defesa”, para defender que “se queremos preservar a estrutura regional da Europa, como democracia de vários países e com opiniões públicas diferentes, vamos ter que estabelecer um modelo de governação diferente”, que “só será bem-sucedido se impuser em toda a cadeia de valor capacidade de criar competências de defesa, sejam “industriais, de inovação e até de financiamento”.

No entender do gestor, as decisões tomadas na cimeira da NATO eram necessárias para a defesa do ocidente democrático. “A dúvida é se serão suficientes, quer em tempo, quer em dimensão, quer em prioridade, sobretudo porque nada dizem sobre a governação”, lamenta, explicando que as decisões visaram não só incrementar as despesas em defesa, mas também equilibrar e homogeneizar o esforço entre os países da NATO. “Não podia continuar a viver-se numa aliança em que a Espanha afetava 1,2% do PIB à defesa e a Polónia mais de 4%”, afirma.

Gonçalo Moura Martins sublinha que “temos diferentes Europas dentro da Europa”, para notar que “o sentimento de quase pânico é impressionante” na Polónia ou nos países bálticos. Ainda assim, considera que “gerir a opinião pública para um gasto ocioso, que não é visível e não mexe com o bem-estar das pessoas no imediato é extremamente difícil”, para sustentar que esse “vai ser  o grande desafio das democracias”.

O gestor recorda ainda que "a Europa desinvestiu na sua defesa durante décadas, confiando numa proteção dos Estados Unidos" mas "subitamente tudo mudou, quer as ameaças à sua integridade e soberania na sequência da invasão na Ucrânia, como a solidez da aliança com os Estados Unidos está posta em causa". Por isso, defende que "as prioridades têm de mudar. Deixou de ser possível relegar o investimento na defesa em prol do financiamento do Estado Social". 

Recordando que os EUA gastam quase um bilião de dólares em defesa, enquanto os países europeus que estão na NATO e o Canadá gastam metade disso, Moura Martins considera que essa era uma situação “insustentável”.   Em seu entender, o grande desafio da NATO é “fazer uma integração operacional de maneira a racionalizar o seu custo”, com uma “lógica de integração dos exércitos e das capacidades, de uns desenvolverem mais a defesa aérea e outros a sua armada”, por exemplo.

Francisco Seixas da Costa sublinhou ainda que 5% do PIB em gastos com a defesa "não é número anormal relativamente ao que era no início da Guerra Fria, só que nessa altura as políticas sociais na Europa representavam cerca de um quarto do que são hoje,  

Para o embaixador, "não é de excluir que dentro de alguns anos possamos estar com ritmos diferenciados na aproximação aos tais míticos 5%, ritmos que levarão a que alguns países europeus possam ser considerados por outros mais complacentes e com menos vontade de cumprir aquilo a que se comprometeram", mas nessa altura, frisa, "os lideres políticos europeus já serão provavelmente outros".

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