Acordos nas tarifas levam OCDE a melhorar previsão de crescimento económico global
Embora os efeitos das tarifas ainda não tenham chegado à economia, os acordos que permitiram que as taxas aduaneiras tenham ficado abaixo do esperado permite à OCDE melhorar estimativa de crescimento global e da Zona Euro.

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Depois de os Estados Unidos terem imposto tarifas mais baixas do que as chegaram a ser anunciadas, a OCDE melhorou a sua estimativa de crescimento da economia mundial, esperando agora que o PIB global cresça 3,2% este ano. A melhoria acontece também na Zona Euro. Mas a entidade avisa: os efeitos das taxas aduaneiras de Donald Trump ainda estão por chegar.
Na atualização das Perspetivas Económicas 2025 ('Economic Outlook') divulgada nesta terça-feira, 23 de setembro, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) considera que o nível das tarifas efetivas cobradas pelos Estados Unidos a nível global subiu para 19,5% no final de agosto, atingindo o valor mais alto desde 1933.
Este valor já inclui um conjunto de acordos firmados entre a administração Trump e outros blocos económicos, como com a União Europeia e com a China, que fixaram as tarifas a aplicar pelos produtos europeus e chineses a entrar em território norte-americano em 15% e 55%. Embora os valores ainda sejam elevados, eles ficam aquém das ameaças mais duras de Trump (20% para a UE e 150% para a China).
Estes acordos foram decididos em julho, um mês depois da publicação do relatório anterior de previsões económicas da OCDE. Na altura, a organização sediada em Paris mostrava-se pessimista, cortando a estimativa de crescimento para este ano para os 2,9% à boleia das tarifas previstas.
Agora, e depois de conhecidos os acordos comerciais, a OCDE reviu em alta essa previsão, em 0,3 pontos percentuais, estimando que o PIB global cresça 3,2% este ano, ainda num ligeiro abrandamento face aos 3,3% de 2024. Mas mantém a projeção de um abrandamento mais acentuado em 2026, esperando que a economia mundial não cresça mais do que 2,9%.
"Os efeitos completos do aumento das tarifas ainda estão por sentir - com muitas mudanças ao longo do tempo e com as empresas a absorverem, incialmente, parte do aumento nas suas margens - mas estão a tornar-se cada vez mais visíveis nas decisões de consumo, nos mercados de trabalho e nos preços dos consumidores", afirma a OCDE.
O abrandamento do crescimento global ao longo dos dois próximos anos deve-se, precisamente, ao fim do efeito da antecipação das exportações e do aumento das tarifas, ao mesmo tempo que a manutenção de uma incerteza elevada em torno das políticas comerciais prejudica o investimento e as trocas internacionais, explica a organização.
A revisão em alta também acontece na economia dos Estados Unidos, com a OCDE a esperar que o PIB norte-americano abrande este ano e novamente em 2026, ao crescer 1,8% (mais 0,2 pontos do que o esperado em junho) e 1,5% respetivamente (depois dos 2,8% em 2024).
"O forte crescimento do investimento nos setores altamente tecnológicos é mais do que anulado pelas tarifas e pela queda na imigração líquida", diz a OCDE.
Previsões para a Zona Euro também melhoram
Também a previsão para o crescimento da Zona Euro melhora 0,2 pontos percentuais, com a OCDE a estimar que o PIB conjunto dos países da moeda única cresça 1,2% este ano. "As fricções comerciais e a incerteza geopolítica a são de certa forma compensadas por condições de financiamento mais benéficas", explica a organização.
A confirmar-se essa estimativa, a economia do Euro pode mesmo acelerar ligeiramente face ao ano passado, quando cresceu apenas 0,8%. O abrandamento deve ocorrer depois em 2026 - com a expectativa de o PIB crescer 1%, mas ainda assim acima do nível pré-tarifas.
O relatório é coordenado por Álvaro Santos Pereira, que ainda é economista chefe da OCDE e aguarda confirmação como o governador do Banco de Portugal, depois de ter sido indicado pelo Governo.
(Notícia atualizada com mais informação às 10:25)
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