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António Costa e Silva: “Europa tem de dinamizar e remover as barreiras”

O ex-ministro António Costa e Silva aposta num verdadeiro mercado único para o crescimento da Europa e criticou o “mau acordo” entre a União Europeia e os EUA na sua intervenção no Encontro Fora da Caixa. O presidente da CGD também alertou para o impacto das tarifas.

04 de Agosto de 2025 às 10:00

Europeísta convicto, António Costa e Silva, ex-ministro da Economia e do Mar, criticou a “obsessão regulatória da União Europeia”, revelando que a UE “produziu 3.500 regulamentos nos últimos quatro anos”, o que tem implicações na competitividade das empresas. Durante o Encontro Fora da Caixa, uma iniciativa da Caixa Geral de Depósitos em parceria com o Jornal de Negócios, que se realizou na Culturgest, António Costa e Silva considerou que o recente acordo comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos é “um mau acordo”, e representa “uma claudicação face aos Estados Unidos da América”.

A União Europeia “não usou durante as negociações a arma dos serviços, em que a Europa tem um défice significativo com os EUA”, apontou.

Para António Costa e Silva, a Europa tem de “dinamizar e remover as barreiras para o mercado único funcionar”. Porque muitas vezes é “mais fácil os países europeus exportarem para o exterior, do que exportarem para o interior da União Europeia”. Referiu-se à importância do Mercosul cuja realização está a ser “sabotada” por alguns países europeus, na sua opinião.

Paulo Macedo: as tarifas são “inimigas do PIB”

A intervenção de Costa e Silva foi precedida pela argumentação, na mesma linha, de Paulo Moita de Macedo na abertura do Encontro Fora da Caixa. No âmbito empresarial, o presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos (CGD) identificou setores de maior crescimento ligados à inteligência artificial, cloud computing e veículos elétricos, mas avisou para os impactos das tarifas comerciais e para o facto de estas terem vindo para. “Os Estados Unidos têm uma questão de dívida pública, as tarifas são algo que lhes é necessário”, mesmo que as “tarifas sejam inimigas do crescimento do PIB”, explicou.

Paulo Moita de Macedo defendeu que as empresas precisam de responder a três questões fundamentais: “Como é que estamos a criar valor, quais são os principais obstáculos externos como é que podemos capturar uma parte desse valor para a empresa e para os nossos stakeholders”. Enfatizou a importância do foco estratégico nas empresas, referindo que “cerca de 60% das pessoas estão desmotivadas numa empresa”, sugerindo que os gestores devem concentrar-se no segmento intermédio de colaboradores.

Quanto ao contexto global atual garantiu que “a incerteza não é só uma questão de perceção, é uma questão factual”. Lembrou que há “uma concentração de riscos sem paralelo em termos climáticos, dos riscos tecnológicos, dos riscos com a inteligência artificial e uma questão que não se punha desde a década de 60 do século passado que é o risco nuclear”.

Finalmente, lembrou que a Caixa Geral de Depósitos completará no próximo ano 150 anos de existência, mantendo-se como “uma caixa de negócios”, com “a maior carteira de crédito à habitação em Portugal e a maior carteira de crédito às empresas”.

China é “vital para o futuro”

Para o antigo gestor da Partex e ex-ministro da Economia, António Costa e Silva, a União Europeia falhou nas negociações com a China. “A União Europeia devia reaproximar-se da China, porque a China quer defender também o comércio livre, sendo absolutamente vital para o futuro”, afirmou.

Costa e Silva defendeu ainda a importância da inteligência artificial para o futuro económico, afirmando estar convencido de que “estamos ao nível de uma nova explosão do crescimento económico no mundo”. Citou estudos indicando que economias que automatizem 30% das suas operações “podem ter um crescimento de 20% em termos da economia”.

Portugal tem uma década para crescer

“Acreditamos que Portugal pode e deve ser muito melhor, e bastam somente 10 anos para concretizarmos a mudança”, afirmou Pedro Ginjeira do Nascimento, secretário-geral da Business Roundtable Portugal (BRP), que reúne 43 das maiores empresas nacionais, e tem como ambição reiniciar para fazer crescer Portugal.

Para isso é necessário “um sonho partilhado pelo país”, o que não acontece há 20 anos, desde a adesão à moeda única europeia, o euro. Não é uma missão impossível. “Há 50 anos sonhou-se fazer a democracia e fez-se. Sonhámos em ser um país moderno, entrámos na União Europeia e na Zona Euro. Erradicámos o analfabetismo, formámos a geração mais qualificada de sempre, começámos a produzir a nossa energia, algo que nunca acontecera, e a irrigar a nossa agricultura”, lembrou Pedro Ginjeira do Nascimento.

O sonho do BRP é que dentro de dez anos Portugal esteja entre a Áustria e a Bélgica em desenvolvimento económico.

Propõe como sonho coletivo um Portugal como “o melhor país para viver, crescer e empreender na Europa”. Pedro Ginjeira do Nascimento lembrou que “mais riqueza gera ainda mais riqueza e é isso que permite combater a pobreza”, criticando o modelo atual onde “o número de dependentes do Estado, para não serem pobres, passaram de 17% para 23,7%”.

Para alavancar o crescimento, identificou duas áreas críticas: a burocracia e a justiça. E deu o exemplo do turismo, que “cresceu 50% em 10 anos, cresceu três vezes mais depressa do que o PIB do país”.

A reforma feita na justiça civil reduziu em 40% o tempo médio de resolução em dez anos, enquanto na justiça administrativa e fiscal há “mais 509 dias para uma resolução em primeira instância do que nos processos civis. Pode-se pensar que é mais complexo o processo administrativo do que um processo civil, mas em Espanha a diferença é de 10 dias”, concluiu.

Encontro para debater a estabilidade económica e transformações globais “Desafios para a Estabilidade Económica e as Atuais Transformações Globais” foi o tema do Encontro Fora da Caixa, um evento organizado pela Caixa Geral de Depósitos e o Jornal de Negócios como media partner. A abertura foi feita por Paulo Moita de Macedo, presidente da Comissão Executiva da Caixa Geral de Depósitos, seguindo-se uma entrevista de Diana Ramos, diretora do Jornal de Negócios, a António Costa e Silva, que foi ministro da Economia e do Mar e publicou os livros “Portugal na Europa e com a Europa: Que Futuro?” e “Governar no Século XXI”. Seguiu-se uma apresentação de Pedro Ginjeira do Nascimento, secretário-geral da Associação Business Roundtable Portugal, com o tema “CTRL+ALT+Portugal: Reiniciar Para Crescer”. Finalizou com uma intervenção de Joaquim Miranda Sarmento, ministro de Estado e das Finanças, e um momento cultural com António Zambujo.
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