Gouveia e Melo diz-se alvo de "tentativa de assassinato de caráter"
"Faz-me pensar que há aqui uma tentativa de ingerência no processo democrático e político que não me parece ser positiva para a democracia", comentou o ex-chefe do Estado-Maior da Armada.
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O candidato presidencial Gouveia e Melo considerou-se esta terça-feira alvo de "tentativa de assassinato de caráter", sem concretizar por parte de quem, e saudou o esclarecimento Procuradoria-Geral da República (PGR) de que não é arguido.
Em resposta aos jornalistas, no fim de uma visita à Associação Luiz Pereira da Mota, em Loures, no distrito de Lisboa, Henrique Gouveia e Melo afirmou que é "uma boa notícia" a PGR ter esclarecido que não é arguido, referindo que não tinha dúvidas de "que não era o alvo da investigação" sobre ajustes diretos na Marinha.
Segundo Gouveia e Melo, sendo este "um processo que tinha sido resolvido no Tribunal de Contas, com uma recomendação sobre a forma como eram geridas as compras na Marinha", é "muito estranho o momento em que voltou a reaparecer", a cerca de três semanas das eleições presidenciais de 18 de janeiro.
"Faz-me pensar que há aqui uma tentativa de ingerência no processo democrático e político que não me parece ser positiva para a democracia", comentou o ex-chefe do Estado-Maior da Armada.
Interrogado sobre a quem atribui essa tentativa, o candidato presidencial respondeu: "Quem é que fez isso? Os senhores é que sabem, os senhores sabem ler tão bem como eu, portanto, eu não vou ter que dizer mais nada. E a população percebeu perfeitamente o que é que estava aqui em causa: uma tentativa de assassinato de caráter, foi isso que aconteceu".
Na segunda-feira, a revista Sábado noticiou que "o Ministério Público (MP) de Almada está a investigar vários ajustes diretos aprovados por Henrique Gouveia e Melo enquanto comandante naval da Marinha (2017 a 2020)".
Hoje, fonte oficial da Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou "a existência de inquérito relacionado com a matéria referida", em resposta à agência Lusa, adiantando que Gouveia e Melo não é arguido e que o inquérito está "em fase final de investigação no DIAP [Departamento de Investigação e Ação Penal] de Almada".
Gouveia e Melo realçou que, ao regressar dos Açores, na segunda-feira, predispôs-se "a dar a cara" num canal televisivo do grupo de comunicação social que detém a revista Sábado: "Fui ao canal da revista, de cara aberta, pronto para colaborar e responder o que fosse necessário. Eu não me escondo".
"Tenho toda a disponibilidade para explicar tudo o que for necessário, e não gosto de ver ninguém a fugir à transparência que é necessária num processo destes", declarou.
O almirante defendeu, porém, que "a opacidade" é uma questão que não se coloca apenas no plano das candidaturas presidenciais: "A opacidade é, muitas vezes, o sistema, como é que o sistema age e reage a determinadas coisas".
"A coisa que mais me aborrece, se me permitem este desabafo, é que tivesse sido posta a minha integridade", lamentou. "Quando essas coisas são postas em causa, estão-me a atacar verdadeiramente no meu âmago, enquanto ser humano e enquanto pessoa. Portanto, não gostei", reforçou.
Sem nomear ninguém, congratulou-se com a reação de alguns dos seus adversários "pela elevação que tiveram", e considerou que outros ficaram abaixo do "padrão mínimo da política".
Sobre a gestão de compras na Marinha, Gouveia e Melo disse que "é um sistema muito complexo", com "atividade operacional diária" e contestou o entendimento de que compete à chefia "estar a verificar todas as compras uma a uma".
Por isso mesmo, relatou ter tido a iniciativa de "mudar toda a estrutura de compras e de financiamento da Marinha, precisamente para evitar que algum almirante ou algum responsável caísse numa situação dessas".
Sobre a visita à centenária Associação Luiz Pereira da Mota, em que percorreu as instalações, incluindo o lar, centro de dia e centro de convívio, o candidato justificou-a com a preocupação com os "mais idosos" e o objetivo de conhecer "os problemas do setor" e "as melhores práticas".
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