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Poupança com juros pode ter os dias contados

Nos últimos três anos, o Governo tem conseguido sempre baixar a fatura dos juros da dívida. Mas esta bonança não deverá durar sempre. O peso do endividamento é cada vez maior e a política ultra-acomodatícia do Banco Central Europeu pode não durar o tempo que seria necessário para a economia nacional.

João Leão
João Leão Antonio Pedro Santos/Lusa
02 de Março de 2021 às 23:20
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Em apenas três anos, Portugal poupou quase 900 milhões de euros em juros da dívida pública. Mas a bonança pode estar a chegar ao fim. A subida dos juros no mercado secundário dura já há várias semanas e mostra como os Estados estão dependentes do Banco Central Europeu (BCE) para desarmar o que se pode transformar numa autêntica bomba-relógio.

Para atender à pandemia, a generalidade dos países viu-se forçada a aumentar significativamente o seu nível de endividamento.

Só no ano passado, os países da OCDE financiaram-se no equivalente a 29% do seu PIB. Na Zona Euro a dívida superou os 100% do PIB e a Comissão Europeia espera que continue a subir, pelo menos, até 2022. E em Portugal vai acima dos 135% do PIB.

Por agora, este movimento é considerado relativamente seguro: os custos de financiamento estão controlados e isso conta mais do que o rácio da dívida sobre o PIB, explica a OCDE, num relatório publicado na semana passada. O problema é se estes custos disparam – como já se teme nos mercados.

A OCDE alerta precisamente para este risco e mostra como as economias mais endividadas têm de se precaver. Portugal é uma delas: o fardo que carrega pelo financiamento da dívida foi em 2020 o quinto mais elevado da OCDE. Em ambiente de juros baixos, o país paga quase 3% do PIB em juros, quando, por exemplo, a Alemanha tem um custo de 0,7%.

Além disso, apesar da poupança obtida com a redução dos juros nos últimos três anos, Portugal é dos poucos que quase não reduziram o fardo com o serviço da dívida face à situação que tinha em 2007 (ver gráfico) – porque a dívida acumulada é agora muito maior. Em contrapartida, neste período, a despesa com juros face ao PIB "caiu cerca de 50% em dez países", sublinha a OCDE, "incluindo a Áustria, a Bélgica, França e Alemanha", nota. Noutros sete Estados "baixou mais de 25%", frisa ainda. Tanto Itália como a Grécia, dois países mais endividados do que a República Portuguesa, conseguiram também baixar esses custos, embora gastem mais do que Portugal no seu financiamento: ambos alocam o equivalente a 3,6% do PIB.

Tendo em conta a forte subida nos níveis de endividamento, o facto de os juros não terem aumentado, mesmo em países já muito endividados, é um elemento positivo para a análise da sustentabilidade das economias.

Mas o risco de que este panorama mude é real. Nas última semanas, os juros das Obrigações do Tesouro subiram porque os investidores temem que a inflação aumente, tendo em conta o enorme expansionismo do BCE e a recuperação progressiva das economias, dada a esperança depositada nas vacinas contra a covid-19.

No curto prazo, não se acredita que os custos de financiamento se alterem significativamente – os responsáveis do BCE têm repetido que não deixarão que tal aconteça, pelos riscos que coloca à própria recuperação económica. Mas no médio prazo o mandato do BCE para o controlo da inflação, e a saída de algumas das maiores economias da crise, podem ditar uma intervenção insuficiente para economias mais frágeis como a portuguesa.

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