Santos Pereira: "Tarifas são um desafio, mas o maior problema é a falta de reformas" na Europa
O ainda economista-chefe da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) falou em entrevista à Bloomberg TV sobre a atualização das Perspetivas Económicas 2025. Impacto das tarifas deve chegar em 2026.

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As tarifas dos Estados Unidos à União Europeia são um desafio a ter em atenção, mas há um problema maior para o qual o bloco deve olhar – a falta de reformas. A ideia é defendida pelo governador indigitado do Banco de Portugal (BdP) e ainda economista-chefe da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Álvaro Santos Pereira, entrevistado pela Bloomberg TV esta manhã.
A OCDE reviu em alta a sua perspetiva para o crescimento da economia mundial e espera agora que o PIB global cresça 3,2%. No entanto, as previsões para 2026 apontam para uma desaceleramento mundial para 2,9% e, no caso dos EUA, uma queda no crescimento dos 1,8% neste ano para 1,5% no próximo. Em causa está o impacto das tarifas dos EUA, que Santos Pereira admite sentir-se apenas mais tarde.
“É um golpe significativo para a economia dos EUA e, como a economia dos EUA é uma economia tão importante para o resto do mundo, este cenário está a ter implicações para muitos países”, disse Álvaro Santos Pereira. As economias mundiais têm mostrado resiliência, mas devem sofrer o embate já no próximo ano. Para já, o impacto total da tarifa efetiva geral imposta pela Casa Branca de 19,5% – a mais alta desde 1933 – ainda não foi sentido.
Quanto ao impacto que as tarifas poderão ter no crescimento das economias europeias, o economista diz que há uma preocupação que deve vir primeiro na lista. "A Europa faz bons e relevantes relatórios, como o relatório Draghi, mas depois não os coloca em prática. As tarifas são um desafio para o bloco, mas o maior problema é a falta de reformas", que, diz, têm vindo a ser consecutivamente adiadas.
O futuro governador do BdP enaltece que os estudos e relatórios que os bancos centrais publicam são outros dos exemplos que a Comissão Europeia deve ter em atenção. Deu como exemplos os estudos sobre a subida da esperança média de vida ou o atraso da Europa no que toca a investimentos em inteligência artificial, quando comparada com os EUA. Outra das reformas que considera importante é a da transição verde. "Os bancos centrais têm de olhar para estas 'trends' a longo prazo", de forma depois a garantir a estabilidade na política monetária, considera.
A OCDE adiantou que a Europa deve crescer 1,1% este ano e 1% no próximo. "É preciso fazer mais. O quê? Têm de aumentar o clima empresarial. Têm de fazer reformas, reduzir barreiras à entrada" de negócios no bloco, Santos Pereira. "É essencial", sobretudo simplificar esta regulação.
"Deve-se criar condições para mercado de capital de risco e 'equity markets' se fortalecerem, bom como para as empresas europeias ficarem menos dependentes do financiamento bancário".
Embora os efeitos do aumento das importações de bens estejam a desaparecer e qualquer impacto na atividade real ainda seja incerto, a OCDE afirmou que as consequências já são visíveis nalguns preços ao consumidor e nas escolhas de gastos. A organização também citou um enfraquecimento do mercado de trabalho, com aumento do desemprego e redução das vagas de emprego, e afirmou que inquéritos empresariais recentes mostram sinais de moderação.
“É importante que os países continuem a dialogar e consigam chegar a acordos para reduzir as barreiras comerciais, porque sabemos que mais comércio é bom para o crescimento”, disse o economista-chefe.
A OCDE afirmou que a inflação deve cair na maioria das principais economias, com crescimento mais lento e pressões trabalhistas mais fracas. No entanto, afirmou que os bancos centrais devem permanecer "vigilantes". Santos Pereira afastou mais uma vez uma alteração às taxas de juro no Banco Central Europeu (BCE) até ao final do ano, assegurando que a inflação na Zona Euro está "num bom caminho" e está sob controlo, mas considera que deve manter uma margem para agir no futuro em relação às taxas de juro em caso de "choque". Com as dívidas "muito altas" na Europa, Álvaro Santos Pereira apela a que os países tenham "disciplina fiscal".
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