Sem medidas, ondas de calor derretem 3% do PIB português
Numa estimativa de longo prazo, olhando para 2060, Portugal será o terceiro país da União Europeia a sofrer mais com a ocorrência de ondas de calor. A explicação está no facto de ser um país do Sul, e na estrutura da sua economia.
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Se não forem tomadas medidas para travar o aquecimento global, Portugal arrisca-se a perder cerca de 3% do PIB em 2060, só por causa do impacto das ondas de calor na produtividade dos seus trabalhadores. É o terceiro país da União Europeia que tem mais a perder, neste ponto específico, com as alterações climáticas. As conclusões são de um estudo assinado por seis investigadores – David García-León, Ana Casanueva, Gabriele Standardi, Annkatrin Burgstall, Andreas D. Flouris e Lars Nybo – publicado em outubro, na revista Nature Communications. Conforme explicam os peritos, está já largamente demonstrado que a exposição ao calor extremo prejudica a capacidade de trabalho, diminuindo por essa via a produtividade. Em média, no período de 1981 a 2010 as economias da União Europeia perderam cerca de 0,2% do seu PIB, todos os anos, por causa de ondas de calor. Mas esta média anual esconde diversas heterogeneidades. Desde logo, nos anos em que as ondas de calor tiveram maior severidade (2003, 2010, 2015 e 2018), o dano provocado no PIB por esses eventos através da redução da produtividade foi superior: variou entre 0,3% e 0,5%. Depois, há regiões muito mais afetadas do que outras: em alguns países, as perdas ultrapassam 1% e, ocasionalmente, os 2%. Se nada for feito para travar o aquecimento global, em 2060 o cenário estará consideravelmente agravado: "Projeta-se que as perdas económicas sejam multiplicadas praticamente por cinco em 2060, comparativamente aos danos históricos experienciados no período de 1981 a 2010", lê-se no artigo. Estas perdas "vão afetar mais as áreas onde os danos de produtividade induzidos pelas ondas de calor já são mais pronunciados", alertam ainda os especialistas. Pior: mesmo considerando um cenário em que são tomadas medidas de mitigação das alterações climáticas, os peritos concluem que até 2050 pouca diferença isso fará: "As perdas de produtividade relacionadas com ondas de calor deverão aumentar consideravelmente na Europa em meados do século XXI, mesmo que sejam adotados caminhos rigorosos de mitigação." Portugal aparece no grupo dos países em alerta vermelho. A seguir a Chipre e à Croácia, em 2060 será o terceiro mais prejudicado da União Europeia, no caso de não serem tomadas medidas (e assumindo a mesma estrutura económica que os países têm atualmente). Neste cenário, estará a perder 2% do PIB em 2040 e cerca de 3% em 2060, por causa das ondas de calor. Malta e Espanha estão no mesmo barco: serão, respetivamente, o quarto e o quinto mais afetados.
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