Sócrates quis encostar-se à Esquerda, Jerónimo repeliu-o para a Direita
Naquele que terá sido o debate menos complicado para José Sócrates até às eleições, o socialista tentou afirmar à esquerda as políticas do governo, mas o comunista viu no essencial "as mesmas orientações neoliberais" da direita.
Naquele que terá sido o debate menos complicado para José Sócrates até às eleições, o socialista tentou afirmar à esquerda as políticas do governo, mas o comunista viu no essencial "as mesmas orientações neoliberais" da direita.
Consumando a estratégia de dizer que o que está em escolha a 27 de Setembro é entre um governo de esquerda e de direita – “no fim das eleições os eleitores sabem que terão um primeiro-ministro do PS ou PSD – Sócrates lembrou as diferenças ideológicas sobre o papel do Estado na Educação, Saúde e Segurança Social. E lamentou que o PCP faça do PS “o alvo principal quando está tudo isto em jogo”.
“O salário mínimo subiu, aumentámos o abono de família, criámos o Complemento Solidário para Idosos e as Novas Oportunidades. Isto é ser igual à direita?”, questionou o secretário-geral do PS, frisando que “o problema é o PCP não atacar também a direita e atacar só o PS.
“Não estamos dispostos a alimentar um equívoco. A 27 de Setembro saberemos quais os 230 deputados, não votaremos num primeiro-ministro. Isto resulta numa espécie de chantagem para os portugueses como se PS e PSD fossem donos do voto”, respondeu Jerónimo durante o debate realizado esta noite na RTP1.
O comunista frisou que “é evidente que existem diferenças entre PS e PSD, mas naquilo que é estruturante temos divergências profundas face ao PS”, partido que “seguiu no essencial as mesmas orientações neoliberais”.
No terceiro debate entre líderes partidários pouco se falou de economia. Apenas sobre o desemprego, com Jerónimo de Sousa a defender a extensão dos critérios de atribuição do subsídio de desemprego. “Hoje 600 mil desempregados custam 21 mil milhões de euros porque não produzem nem descontam para a Segurança Social”, frisou o líder comunista, acusando Sócrates de “viver numa realidade diferente” de milhares de portugueses.
Sócrates lembrou as medidas do governo como incentivos à contratação, sublinhando que o subsídio de desemprego tem a duração de três anos e a taxa de substituição é das mais altas da OCDE.
O momento mais animado do debate prendeu-se com a relação entre o poder político e o sindicalismo, depois de uma legislatura marcada por duras e participadas manifestações de rua. Negando manipulação dos sindicatos por parte do PCP, Jerónimo atacou o Executivo socialista de ter tido “uma posição fechada para hostilizar e minimizar o sindicalismo”.
Argumentando que o papel dos sindicatos é “insubstituível”, mas não pode “estar ao serviço de agendas partidárias”, Sócrates lembrou, porém, os seis acordos de concertação social em áreas como o salário mínimo e o subsídio de desemprego.
Sobre o novo Código do Trabalho, que os comunistas classificam como “injusto por eliminar direitos dos trabalhadores”, Jerónimo disse não ter sido “por acaso que o patrão dos patrões [Francisco Van Zeller, da CIP] disse que era um bom Código”.
“O código estimulou a contratação colectiva” e, pela maior flexibilidade no mercado de emprego, “deu condições para trabalhadores defenderem seu posto de trabalho”, contrapôs o candidato socialista, que tenta renovar dentro de três semanas a maioria absoluta conquistada em Fevereiro de 2005.
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