Adesão à UE: “sucesso partilhado", oportunidades não aproveitadas e desafios à paz
Portugal deve manter-se “na primeira linha” do projeto de construção europeia, no qual o principal desafio atual é a manutenção da paz e o estabelecimento de uma política de Defesa comum, defenderam nesta quinta-feira as lideranças políticas nacionais e também os dois portugueses cujo nome entrou para o historial de lideranças das principais instituições comunitárias, Durão Barroso e António Costa.
Numa cerimónia que, no Mosteiro dos Jerónimos, marcou neste 12 de junho os 40 anos da assinatura do tratado de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE), o ex-presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, foi o primeiro a intervir, defendendo que Portugal deve continuar “na primeira linha da construção europeia”.
PUB
“Temos o direito de esperar e desejar que Portugal continue na primeira linha da construção europeia, o que atualmente quer dizer juntos fazermos mais pela prosperidade e pela paz na Europa”, defendeu o também ex-primeiro português, lembrando que a adesão nacional à UE trouxe benefícios económicos, garantiu a consolidação da democracia portuguesa, mas também resultou de uma adesão aos valores fundadores do bloco.
“Sempre houve uma relação íntima entre democracia e integração europeia. Na realidade, o pedido de adesão significou, por parte das forças políticas que o apoiaram, a vontade de ancorar Portugal definitivamente no campo democrático. Por isso, o desencadear do processo de adesão procurou clarificar a própria natureza do regime político”. assinalou. “De certo modo, podemos dizer que a adesão europeia de Portugal foi um segundo 25 de abril”.
Na intervenção, o ex- presidente da Comissão Europeia sublinhou os consensos políticos que têm marcado os anos desde a adesão do país à CEE e defendeu a necessidade de uma política de defesa comum. “A paz, que foi o fundamento e objetivo do próprio processo de integração europeia, só será garantida se avançarmos de facto com uma política de defesa comum, investindo substancial e inteligentemente em indústrias e capacidades neste domínio. A Europa tem de deixar de ser um adolescente geopolítico”, defendeu, considerando que “só a escala europeia permite a proteção e projeção dos nossos valores e dos nossos interesses”.
PUB
O atual presidente do Conselho Europeu, António Costa, foi o segundo orador nas comemorações, intervindo para defender que “Portugal e UE são um caso de sucesso partilhado”. “Ambos contaram sempre um com o outro quando a esperança parecia esmorecer. Como nas crises financeiras que ultrapassámos, como nos ciclos inflacionistas que controlámos, como na pandemia que em conjunto derrotámos. A UE é sem dúvida o melhor projeto de solidariedade entre os povos que o mundo conhece”, defendeu o ex-primeiro ministro português.
António Costa salientou também os desafios que se colocam hoje ao projeto da União no contexto global. “Precisamos dessa unidade e dessa força para defender uma ordem internacional assente em regras, fortalecer o multilateralismo, enfrentar os grandes desafios globais como as alterações climáticas. Precisamos dessa unidade e dessa força para garantir paz, a segurança e a prosperidade”.
Também o líder do Governo, Luís Montenegro, destacou “o momento histórico que alterou o rumo” do país, mas quis também dizer que nem sempre os benefícios da integração foram totalmente refletidos no desenvolvimento do país. “É verdade – também devemos fazer essa avaliação aqui hoje - que nem sempre aproveitámos devidamente, ou pelo menos na totalidade, as oportunidades que tivemos ao longo destes 40 anos”.
PUB
Olhando para o futuro, o primeiro-ministro defendeu que “os nossos cidadãos exigem uma Europa competitiva, que promova a coesão e a convergência do desenvolvimento económico em benefício de todos, uma Europa que permita que cada um dos cidadãos cumpra o seu projeto de vida com igualdade de condições e igualdade de oportunidades, uma Europa aberta, mas segura, que responde aos desafios internos e externos de um mundo em profunda mudança” e ainda “uma Europa unida, sem espaço para o populismo, para o extremismo e a demagogia de quem está sempre a tentar dividir e instrumentalizar”.
PUB
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, fechou as intervenções da cerimónia com a mensagem de que a UE precisa de encontrar “novas respostas para os novos problemas” e reconhecendo que nem sempre foi “tudo perfeito” no processo europeu. “Uma Europa dos cidadãos – ou melhor, uma Europa das pessoas – tem de continuar a ser uma prioridade e não apenas um chavão, um alibi”.
Marcelo Rebelo de Sousa lembrou também que o principal objetivo da União foi a garantia de paz. “Precisamos por isso, nestes dias conturbados, de um novo apelo Schuman (cuja declaração pôs em marcha a criação do bloco europeu), de um novo alerta às consciências dos povos europeus, agora envolvidos em novos e terríveis conflitos”, afirmou.
“É tempo de lembrar que já demonstrámos que o método comunitário permite resolver os problemas sem guerras, com armas que não matam, mas curam, promovem e pacificam, e que se conseguirmos evitar novas guerras fratricidas no centro da Europa, também as podemos sarar nas bordas orientais e sulistas desta nossa casa comum. É por isso tempo de dispormos de reforçada capacidade e coesão na nossa defesa comum”, defendeu também o Presidente.
PUB
Saber mais sobre...
Saber mais Segurança dos cidadãos Cerimónia Política Força de paz União Europeia Portugal António Costa Comissão Europeia Marcelo Rebelo de Sousa José Manuel Durão Barroso Luís MontenegroMais lidas
O Negócios recomenda