“Não podemos ser monogâmicos no comércio internacional”
Numa altura em que a União Europeia e o Mercosul procuram fechar o acordo comercial que demorou 25 anos a negociar, António Ramalho e Gonçalo Moura defendem que o bloco europeu deve procurar novas parcerias também na Ásia e em África. Novo episódio do podcast Partida de Xadrez vai para o ar esta segunda-feira.
“Estivemos casados com os EUA com base na força da defesa, e agora descobrimos que não podemos ser monogâmicos em termos de comércio internacional”, diz António Ramalho no 42.º episódio do podcast Partida de Xadrez, que vai para o ar esta segunda-feira no site do Negócios e nas principais plataformas.
Para o gestor, o novo puzzle geoestratégico “exige novos mercados e novos parceiros” e o acordo entre a União Europeia e os países do Mercosul – Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – “é um passo pequeno, mas relevante para isso”.
Fechado em dezembro do ano passado e depois de uma negociação que durou 25 anos, o acordo com o Mercosul – que criará um mercado potencial de mais de 700 milhões de consumidores e uma das maiores zonas de comércio livre do mundo – deverá ser assinado a 20 de dezembro, segundo disse já a presidente da Comissão Europeia.
Para Gonçalo Moura Martins, “com a implantação do nacionalismo económico é fundamental para a União Europeia continuar a desenvolver mercados para expandir as suas alternativas e afirmar a sua presença no mundo”. “É importantíssimo que a União Europeia cubra o sentimento de orfandade dos EUA, pare de chorar sobre leite derramado e vá procurar outras parcerias”, designadamente com a Ásia, África e América Latina, onde “devia ter uma aproximação mais efetiva também ao México”, a segunda maior economia da região.
Os dois gestores concordam que está ainda por conhecer o real impacto das tarifas impostas pela Administração Trump, mas o acordo com o Mercosul “é bom, é positivo e tem vantagens nalguns subsetores”, considera António Ramalho.
Em seu entender, “devíamos aprender mais com o facto de termos demorado 25 anos” a fazer o acordo com o Mercosul, sobre o qual considera que “a grande vantagem é reabrir o conceito de que há mercados além-Atlântico, assim como reabrir a discussão sobre o desenvolvimento de uma relação entre Europa e África, mais natural e imediata”. Para o gestor, “a Península ibérica, por aquilo que é histórico e pela posição geoestratégica, está num momento mais importante para resistir a este movimento de macro-regionalização planetária do que estão outras regiões da Europa”.
Gonçalo Moura Martins recorda, por seu lado, que no âmbito das relações entre a União Europeia e o Mercosul “Portugal tem um défice comercial significativo” , o que leva a que este acordo “só pode melhorar porque a base é má”.
Apesar da posição crítica de França, diz não acreditar que, pela importância que tem principalmente para a Alemanha, o acordo não vá para a frente”. Caso não seja assinado em dezembro, acrescenta, “não é só um falhanço económico, é muito mais um falhanço político num momento em que União Europeia tem de mostrar liderança e capacidade de gerar outras parcerias”.
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