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PM francês diz que “maior risco” para a França é continuar “sem mudar nada”

“O nosso país trabalha, acredita que está a enriquecer e, todos os anos, empobrece um pouco mais. É uma hemorragia silenciosa, subterrânea, invisível e insuportável”, afirmou François Bayrou, na Assembleia Nacional francesa, antes da votação que pode provocar a queda do Governo.

Christophe Ena/AP
17:24

O primeiro-ministro francês alertou hoje que o “maior risco” para a França é continuar “sem mudar nada”, defendendo a moção de confiança como “uma prova da verdade” face à urgência de reduzir a dívida.

“O nosso país trabalha, acredita que está a enriquecer e, todos os anos, empobrece um pouco mais. É uma hemorragia silenciosa, subterrânea, invisível e insuportável”, afirmou François Bayrou, na Assembleia Nacional francesa, antes da votação que pode provocar a queda do Governo, sendo várias vezes interrompido pela oposição.

O primeiro-ministro, no cargo há nove meses, justificou a convocação desta moção de confiança perante os 577 deputados franceses, e que muitos classificaram como suicídio político, por querer esta “prova da verdade”, numa Assembleia Nacional fragmentada (em três blocos: esquerda, centro-direita e extrema-direita) e sem maioria.

“Queria esta reunião e alguns de vocês, a maioria, provavelmente os mais sensatos, acharam que era irracional, que era um risco demasiado grande. No entanto, penso exatamente o contrário. O maior risco era não correr esse risco, deixar as coisas continuarem sem mudar nada", sublinhou.

No discurso, o centrista Bayrou sublinhou ainda que “o destino da França está ameaçado” por uma dívida que "submerge o país" e cujo financiamento absorve todo o crescimento económico do país, denunciando duramente “o vício” em relação aos gastos públicos.

“Gastamos, mas nunca recuamos. Tornou-se um reflexo e, pior ainda, um vício. Estamos acostumados a financiar com crédito as despesas ordinárias do país, as despesas da nossa vida quotidiana, os serviços públicos, as pensões e o pagamento das contribuições para a segurança social”, lamentou.

Para o político, se os franceses querem “salvar o barco” devem “agir sem demora”: “apenas requer a mobilização de todos e um esforço moderado de cada um, se agirmos a tempo”.

Com o Governo a ser ameaçado de ser derrubado devido a falta de apoio à proposta de orçamento do Estado para 2026, em que prevê 44 mil milhões de euros de poupanças, o primeiro-ministro francês comparou perante os parlamentares “a submissão à dívida” à “submissão pela força militar”, que priva da liberdade.

O líder centrista dramatizou a situação, salientando que o que está em jogo “não é apenas uma questão política, mas uma questão histórica. (...) As questões políticas são para as próximas eleições, as históricas para a próxima geração”.

Dirigindo-se aos deputados de forma desafiadora, sabendo que pode ser destituído esta tarde, Bayrou disse: “podem derrubar o Governo, mas não têm o poder de apagar a realidade”.

Está previsto que os deputados votem a moção de confiança no final da tarde (hora local) e que, salvo surpresa maior, ela seja rejeitada por ampla maioria, uma vez que a oposição anunciou que votará contra, o que vai obrigar Bayrou a apresentar a demissão, pondo fim a este Governo.

Desde o início do segundo mandato do Presidente francês, Emmanuel Macron, em maio de 2022, sucederam-se na liderança do Executivo Elisabeth Borne (até janeiro de 2024), Gabriel Attal (até setembro de 2024), Michel Barnier (até dezembro de 2024) e François Bayrou.

Com o Partido Socialista (PS) a colocar-se no centro do jogo, declarando-se pronto para governar, num governo de esquerda sem os 'macronistas', e com o partido de extrema-direita União Nacional (RN) a pressionar para a realização de novas legislativas, o Governo de Bayrou deve cair numa votação prevista para as 19:00 (18:00 em Lisboa).

Assim, o Presidente francês, cada vez menos popular e prestes a enfrentar algumas manifestações que prometem parar o país, terá duas opções: escolher um novo primeiro-ministro de direita ou do centro que seja aceite pelo PS ou convocar eleições antecipadas, podendo ambas mergulhar a França numa nova crise política.

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