O que pensa Vítor Gaspar sobre a dívida pública portuguesa

Num contributo escrito enviado ao Parlamento, o ex-ministro das Finanças critica a falta de prudência da política orçamental em Portugal antes da crise e destaca que a "explosão da despesa e dívida não esteve associada a crescimento económico".
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Foto: Bruno Simão/Negócios vítor gaspar Foto: Miguel Baltazar/Negócios
Tiago Varzim 31 de Maio de 2018 às 19:00

O ex-ministro das Finanças critica a falta de prudência da política orçamental em Portugal no período antes da crise, atacando principalmente a política expansionista do Governo de José Sócrates em 2009 e 2010. Para Vítor Gaspar, em Portugal, a "explosão de despesa e a acumulação de dívida não esteve associada a crescimento económico digno de nota". Apesar dos alertas, adopta um tom mais positivo em relação ao futuro. 

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Estas declarações de Vítor Gaspar, actual director do departamento dos Assuntos Orçamentais do Fundo Monetário Internacional (FMI), constam de um contributo que deu para o grupo de trabalho sobre a avaliação do endividamento público e externo e que foi disponibilizado no site do Parlamento esta semana. Como se encontra a trabalhar nos EUA, o contributo foi dado por escrito.

No seu contributo de três páginas, o ex-ministro das Finanças do Governo PSD/CDS começa por explicar as causas que, na sua opinião, levaram ao "rápido endividamento" do país entre 1995 e 2016. Tudo começa com a perspectiva de participação portuguesa na área do euro que "conduziu a uma queda acentuada das taxas de juros nominais e reais".

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O acesso aos mercados em condições favoráveis "conduziu a uma interacção entre desequilíbrios macroeconómicos e estrangulamentos estruturais, fortemente penalizadores do desempenho económico e das perspectivas futuras", explica o quadro do FMI.

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Ao mesmo tempo que as empresas e as famílias se endividaram, a política orçamental foi "pouco prudente" uma vez que os défices mantiveram-se acima de 3%. "Se é verdade que o sector público não foi o factor maior na acumulação destes desequilíbrios, é também verdade que reforçou este processo", considera Gaspar, assinalando que a situação orçamental "débil" de um Estado "limita a sua capacidade de apoio à actividade económica e ao sector financeiro, em caso de crise".

"É notável que a esta explosão de despesa e acumulação de dívida não esteve associada crescimento económico digno de nota", destaca o ex-ministro das Finanças, classificando a subida do PIB português de "anémica". Mas os "erros determinantes" seriam cometidos já em plena crise financeira internacional, segundo o professor doutorado em economia.

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"Portugal alinhou o risco bancário e o risco soberano no pior momento possível: imediatamente antes do começo da crise das dívidas soberanas na área do euro", assinala. Para Vítor Gaspar as debilidades da economia portuguesa vieram à tona com a crise, levando o défice e a dívida para máximos históricos.

Um futuro mais risonho. Mas com riscos

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É a falar sobre o futuro que se nota um discurso mais optimista por parte do ex-ministro das Finanças. Gaspar considera que Portugal deverá cumprir o ritmo de redução da dívida pública imposto pelas regras europeias, assim como deverá alcançar o objectivo orçamental de médio prazo.

Mas também reclama alguns louros para si. "No período do programa [de ajustamento], a correcção orçamental permitiu a concretização de excedentes primários estruturais", além de que "a eliminação do défice externo e o regresso ao financiamento, nos mercados internacionais, foram factores importantes para a subsequente recuperação do crescimento e a redução do desemprego".

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Para o futuro, avisa que a redução da dívida pública terá de estar associada à "manutenção de saldos primários significativamente positivos", "à continuação de crescimento económico" e "à estabilidade (mais precisamente uma ligeira redução) na taxa de juro média efectiva da dívida pública".

"Tomando as hipóteses do cenário de base e as políticas subjacentes, as últimas projecções apontam para reduções importantes no rácio da dívida e nos respectivos custos orçamentais", sintetiza Vítor Gaspar.

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