Berardo e dois advogados acusados de burla qualificada
O Ministério Público deduziu acusação contra o empresário Joe Berardo e dois advogados, e também contra a Associação Coleção Berardo, “pela prática de factos que considera integradores do crime de burla qualificada”, refere a entidade em comunicado.
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“No inquérito, que teve origem em certidão extraída do denominado processo CGD, investigaram-se factos relacionados com a concessão de garantias à Caixa Geral de Depósitos (CGD), BES e BCP sobre 100% dos títulos da Associação Coleção Berardo, no âmbito de acordos celebrados entre 2008 e 2012, relativamente a financiamentos contratados com entidades do Grupo Berardo e não pagos, no valor total de cerca de mil milhões de euros”, explica a Procuradoria-Geral da República.
O Ministério Público refere ainda que os três arguidos, “através da instauração, em 2013, de ação cível simulada, que não correspondia a um litígio efetivo”, conseguiram “obstaculizar o acesso dos bancos credores aos títulos e património da associação, composto por obras de arte avaliadas em centenas de milhões de euros”.
O comunicado adianta que “a sentença proferida na referida ação cível permitiu aos arguidos aprovar deliberações em Assembleias Gerais da Associação Coleção Berardo lesivas dos interesses patrimoniais dos bancos credores e contrárias ao acordado nas negociações e contratos celebrados entre 2008 e 2010”.
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Depois dos empréstimos, e ao longo de vários anos, Joe Berardo conseguiu retirar aos bancos credores o poder sobre a coleção de arte que servia de garantia aos empréstimos que tinham sido concedidos ao grupo. Esse mecanismo foi desvendado - e assumido pelo próprio -durante a comissão parlamentar de inquérito à Caixa Geral de Depósitos em 2019.
O expediente legal, detetado pela então deputada Cecília Meireles (do CDS) e Mariana Mortágua (a hoje deputada única do BE que na altura apelidou a manobra de “golpada”), consistiu na realização de uma assembleia geral da Associação Coleção Berardo, dona das obras de arte do colecionador, na qual foi decidido um aumento de capital.
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Os credores, no entanto, não foram avisados da reunião e acabaram por ver diluída a sua posição. A assembleia decidiu ainda alterar os estatutos da associação de forma a que as unidades de participação não pudessem ser transmitidas a terceiros sem 51% dos votos.
Os bancos perderam assim poderes sobre a associação, e sobre a coleção de 500 obras de arte por ela detidas – e que Berardo disse valerem mais de mil milhões de euros. Questionado sobre sobre o motivo para esta alteração, o empresário respondeu: “defender os meus interesses e os da associação”.
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Nessa segunda comissão parlamentar de inquérito à gestão do banco público ficou célebre também a alegação do colecionador segundo a qual o único bem que tinha em seu nome era uma garagem.
"Eu pessoalmente não tenho dívidas. Os jornais dizem que tenho uma garagem. Eles que me deem o resto que eu dou a garagem. Tentei ajudar os bancos", afirmou o empresário perante os deputados.
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Essa garagem existia de facto. Tratava-se, segundo o portal e-leilões, de uma fração autónoma com cerca de 25 metros quadrados no Funchal "em razoável estado de conservação".
A famosa garagem foi executada pela CGD e colocada em leilão público em 2022 por um valor base de 25 mil euros. Valor da licitação vencedora: 23.015 euros.
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