Eleição para bastonário: Candidatos querem dar mais visibilidade à Ordem dos Economistas
A Ordem dos Economistas vai a votos no dia 3 de dezembro para eleger o bastonário para os próximos quatro anos. Pedro Reis e António Mendonça, os dois candidatos, têm em comum o projeto de dar mais visibilidade à Ordem e atrair novos membros, sobretudo jovens. Querem, também, que a Ordem possa ter uma palavra a dizer na recuperação da economia e ter uma postura ativa, ajudando a encontrar soluções para o país. Como? Aí divergem em muitas coisas. Pedro Reis, antigo presidente da AICEP e atual diretor de Banca Institucional do Millennium BCP, é membro recente da Ordem. António Mendonça foi ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações é professor catedrático do ISEG e membro fundador da Ordem, onde sempre foi muito ativo. O escolhido substituirá Rui Leão Martinho, que não se recandidata.
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A sua candidatura é de continuidade ou de rutura?
Pedro Reis
Candidato pela lista A
Vejo isto como um projeto de grupo e nós candidatamo-nos porque entendemos que podemos fazer a diferença, numa lógica de renovação serena e com ambição. Renovação porque é uma equipa nova, uma nova geração, com um projeto novo, ajustado aos desafios que a economia portuguesa tem pela frente. Serena porque há uma continuidade no sentido de aproveitar os históricos que temos na OE com os novos que queremos trazer. Acreditamos que é possível construir em cima do que existe e não anular obra feita. E com ambição porque queremos trazer uma dinâmica nova através de eventos, iniciativas, conhecimento, formação, qualificação, densificação do ecossistema e parcerias internas e externas que deem sentido à Ordem dos Economistas.
António Mendonça
Candidato pela lista B
É de continuidade e de rutura. Estou na OE desde o início - antes, até, na Associação Portuguesa de Economistas, de que fui membro fundador, nos anos 70. E sempre tive um papel ativo, fiz parte da direção com o atual bastonário e fui presidente da Delegação Regional do Centro e Alentejo. É uma forte ligação . Tenho trabalho, experiência, conhecimento. A minha candidatura agrupa cerca de 150 colegas e sentimos que hoje em dia a Ordem está aquém do que podia ser na relação com os economistas, que têm estado relativamente abandonados quanto ao prestígio e defesa da profissão e sua afirmação. Ser economista exige uma formação adequada, é exigente, e a OE tem de estar à altura.
A Ordem dos Economistas tem cerca de dez mil membros. Não acha que é uma representatividade curta?
Pedro Reis
Candidato pela lista A
A OE incorpora tudo o que sejam ciências económicas, portanto, economistas e gestores. E o facto de isso não ser percecionado à partida é já para nós um desafio. O nosso objetivo é refrescar e ampliar. Ir buscar mais gente nova, mas economistas e gestores já com experiência, que podem reforçar o projeto conjunto e entendam que o seu contributo pode ajudar a ordem a marcar a agenda. E, também, que há na OE uma proposta de valorização dos seus percursos e relações e formação. Nos primeiros cem dias de mandato, assumirei uma meta para angariação de novos membros por ano ao longo do mandato.
António Mendonça
Candidato pela lista B
Não e nem penso que seja o mais relevante. Se sentirem que a OE é importante para a sua afirmação profissional, os economistas inscrevem-se. A OE deve ter uma defesa mais ativa no que respeita às competências próprias dos economistas. Estes têm uma formação, apostaram nessa aquisição de competências e é importante que o país saiba disso. É uma atividade profissional bastante heterogénea, com diferentes especializações. É verdade que o número de membros está muito aquém do que seria desejável. Os economistas não veem o ‘value for money’. Pagam uma quota, mas a contrapartida é reduzida. Temos de conseguir que se identifiquem com a Ordem e como grupo profissional.
Deveria haver uma inscrição obrigatória e definição de atos próprios dos economistas?
Pedro Reis
Candidato pela lista A
O modelo que temos é equilibrado, sem atos próprios nem barreiras à entrada, e está de acordo com os sinais dos tempos, até a nível europeu, no sentido de evitar filtros corporativos. Vou promover um grupo de trabalho nos primeiros meses de mandato para avaliar se há algumas atividades mais técnicas em que se justifique a Ordem promover formações específicas ou alguma formação - por exemplo, gestores de insolvências, auditoria. Mas nunca uma condição de acesso ao exercício da profissão. Devemos ter uma postura arejada, atualizada, sensata, mas que credencie os percursos profissionais, nomeadamente os mais especializados.
António Mendonça
Candidato pela lista B
Uma linha de orientação nossa vai ser discutir e negociar com entidades várias, no sentido de os economistas inscritos na OE tenham competências reconhecidas para determinados atos. Por exemplo, com o IAPMEI, para apresentação de uma candidatura, ou com os tribunais, para realizações de auditorias. Isto não é excluir ninguém, mas a OE pode ser um garante da qualidade do trabalho prestado, essa é uma das suas funções. Queremos que dê a chancela de qualidade, exigência, rigor e ética a quem exerce essas atividades. Não é economista quem quer, mas sim quem tem a formação adequada. Por outro lado, a OE tem de ter a capacidade de congregar economistas de diferentes posições, que possam dar o seu contributo para o país.
O que tem a oferecer a quem chega ao mercado de trabalho?
Pedro Reis
Candidato pela lista A
Há um aspeto que é a credenciação dos cursos em ciências económicas, muito importante para os jovens, sobretudo os que vão iniciar a carreira no exterior. E isso já existe, a chamada cédula profissional, que tem um efeito de credenciação do percurso académico. Mas acho que a OE pode, aproximando-se mais das universidades, ajudar a patrocinar módulos de formação e dar visibilidade a teses de mestrado e doutoramento, publicando, patrocinando prémios , organizando debates com Ordens de outros países. Gostaria de promover um programa de intercâmbio de jovens economistas e gestores com outras Ordens. A OE pode ser um pivô institucional para ajudar a promover talento e a receber e a pôr nas empresas jovens economistas.
António Mendonça
Candidato pela lista B
Há muito tempo que existe uma preocupação da ordem de atrair os jovens, mas este trabalho tem de ser desenvolvido. Propomos a criação de um grupo de trabalho específico para a integração dos jovens economistas no mercado. A precariedade é grande, as remunerações estão muito aquém do que devia ser para a geração que temos. Diz-se que é a mais bem formada, mas não há o reconhecimento social dessa competência adquirida. Muitos acabam a trabalhar no estrangeiro, mas isso deve ser uma opção e não uma decisão tomada porque não se encontram soluções em Portugal.
Considera que as quotas da Ordem têm um valor justo?
Pedro Reis
Candidato pela lista A
A preocupação é ainda dar mais razão de ser a esse valor. Vamos pensar um modelo em que os novos membros, os jovens, possam ter um tempo inicial em que a quota é congelada. É um estímulo para promover a adesão de gente nova. Em relação aos restantes, acreditamos que o caminho está em dar mais valor ao valor da quota atual do que propriamente revê-lo.
António Mendonça
Candidato pela lista B
São cerca de 100 euros por ano em média e um dos nossos objetivos é discutir esse valor. Agora, para aquilo que é a perceção que os economistas têm do valor da Ordem, há aqui uma contradição. Queremos dar uma contrapartida nos mais diferentes domínios. Na defesa da profissão, mas também com atividades em termos de saúde, seguros de atividades para além da profissão. A área de prestação de serviços aos membros é para desenvolver.
Num contexto de pandemia e de crise financeira, o que podemos esperar da Ordem dos Economistas?
Pedro Reis
Candidato pela lista A
Pode esperar um observatório muito atento e muito independente. Vamos procurar sinalizar desafios, bloqueios ou obstáculos antes de os problemas rebentarem nas mãos do país e na economia. Faremos ouvir a nossa voz, seja perante medidas orçamentais que achemos não serem as melhores, seja perante investimentos que consideremos problemáticos. Tencionamos intervir com pareceres técnicos, estudos e pronunciamentos. E pôr à disposição da sociedade reflexões profundas. Vamos contribuir para marcar a agenda e colocar lá temas estruturantes. E com independência. A OE não depende do Estado e tem um compromisso direto com a economia portuguesa. A minha referência são os reguladores. Temos de trabalhar para além dos ciclos políticos e imunizados da carga ideológica.
António Mendonça
Candidato pela lista B
Uma Ordem ativa, interveniente e influente, que deve acompanhar todo o processo de recuperação do país. Propomos a criação de um observatório para o Plano de Recuperação e Resiliência, para ter um papel mais ativo. A OE é um diamante por lapidar. Temos uma elite de profissionais, pessoas altamente qualificadas, que podem dar um contributo ao país, mas há um défice no reconhecimento que o país lhe tem. Queremos uma participação ativa e com valor acrescentado para encontrar soluções para os problemas que o país atravessa. Temos pela frente um conjunto de recursos que têm de ser aproveitados da melhor maneira possível e queremos que as intervenções da OE contribuam para o desenvolvimento do país.
Se for eleito, qual será a sua primeira medida?
Pedro Reis
Candidato pela lista A
Vou anunciar uma parceria com outras instituições com as quais tenho estado já a ser contactado no sentido de articular uma agenda com uma OE revigorada. E apresentar condições de ingresso aos jovens para os estimular a entrar. E, também, propor uma simplificação e agilização desta matéria de escolha e nomeação dos órgãos, um processo ainda bastante burocratizado, numa postura de ainda maior profissionalização.
António Mendonça
Candidato pela lista B
A primeira grande medida vai ser um encontro com os economistas, para fazer um ponto de situação de como veem o país e definirmos prioridades para os próximos meses. Lançámos agora um conselho estratégico, que teve centenas de adesões e que pretendemos pôr a funcionar, que é uma ligação direta com os economistas. Houve recentemente um congresso da Ordem, mas questões importantes não foram tocadas. Não houve debate sobre as questões que se põem aos economistas.
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