Abrandamento do emprego nos EUA praticamente garante corte de juros pela Fed
O mercado de trabalho norte-americano deu novos sinais de fragilidade em agosto, alimentando a convicção de que a Reserva Federal avançará com um corte nas taxas de juro já na reunião de 16 e 17 de setembro. Os "payrolls” não-agrícolas, indicador central da evolução do emprego, aumentaram apenas 22 mil no mês passado, muito aquém da previsão de 75 mil, segundo o Gabinete de Estatísticas Laborais (BLS na sigla em inglês). Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego subiu para 4,3%, o nível mais alto desde 2021.
As revisões também trouxeram más notícias: junho registou a primeira queda de emprego desde 2020, com menos 13 mil postos de trabalho, revertendo o crescimento inicialmente reportado. De acordo com a Reuters, o crescimento médio do emprego nos últimos três meses caiu para apenas 29 mil vagas, menos de metade da média de 82 mil registada no mesmo período de 2024.
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A fraqueza foi generalizada. Setores como informação, atividades financeiras, manufatura e serviços empresariais registaram perdas, enquanto os ganhos ficaram concentrados em saúde e lazer. Mesmo esse apoio começa a vacilar: a saúde, tradicionalmente um dos motores mais sólidos, criou 31 mil empregos em agosto, abaixo da média mensal de 42 mil do último ano. “O mercado de trabalho está a passar de congelado a rachado. Esta é uma recessão tanto de colarinho branco como azul”, resumiu Heather Long, economista-chefe do Navy Federal Credit Union, citada pela Bloomberg.
Os sinais de enfraquecimento já tinham levado o presidente da Fed, Jerome Powell, a admitir no simpósio de Jackson Hole que um corte de juros poderia estar próximo, reconhecendo que os riscos no mercado laboral estavam a aumentar.
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O relatório também mostrou que os problemas não se limitam ao lado das contratações. A Reuters destaca que, em julho, pela primeira vez desde a pandemia, o número de desempregados ultrapassou o de vagas disponíveis. Além disso, aumentou o número de pessoas que perderam o emprego de forma permanente, bem como o de trabalhadores em situação de desemprego prolongado.
A pressão política sobre o BLS também cresceu. O presidente Donald Trump demitiu a comissária Erika McEntarfer após as revisões em baixa, acusando-a, sem apresentar provas, de manipular os números. Nomeou para o cargo E.J. Antoni, economista da Heritage Foundation, cuja confirmação ainda depende do Senado.
“O sino de alerta que soou no mês passado ficou agora mais alto”, afirmou Olu Sonola, chefe de pesquisa económica nos EUA da Fitch Ratings, à Reuters. Para o analista, a Fed deve privilegiar a estabilidade do mercado de trabalho face à sua meta de inflação de 2%.
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Segundo a Bloomberg, “o fraco relatório de agosto sela a decisão de um corte de juros na reunião de setembro”, mesmo com a inflação ainda a preocupar os decisores monetários. O diagnóstico é partilhado por muitos economistas, que apontam para um mercado com “baixo dinamismo”: pouco recrutamento, poucas demissões, mas com crescimento praticamente estagnado.
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