"Não me vou humilhar", diz Lula sobre tarifas dos EUA ao Brasil

Presidente do Brasil adianta que não vai falar com Trump. Num momento de tensão diplomática, o presidente brasileiro aposta na cautela e no multilateralismo para enfrentar as novas tarifas impostas por Washington.
Eraldo Peres/AP
João Silva Jesus 07 de Agosto de 2025 às 11:34

O presidente do Brasil, Lula da Silva, descartou qualquer possibilidade de conversar diretamente com Donald Trump neste momento sobre as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros. Em , Lula afirmou: “No dia em que a minha intuição disser que o Trump está disposto a conversar, não hesitarei em ligar. Mas hoje a minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não me vou humilhar”.

As tarifas, , foram anunciadas por Trump como exigência do presidente norte-americano para que o Brasil interrompa o julgamento de Jair Bolsonaro, algo que Lula classificou como “inaceitável” e uma tentativa de interferência externa.

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“Já tínhamos perdoado a intervenção dos EUA no golpe de 1964. Mas isto agora não é uma pequena intervenção. É o presidente dos Estados Unidos a achar que pode ditar regras num país soberano como o Brasil”, referiu o presidente.

Lula também reforçou que o Supremo Tribunal Federal, que, “não se importa com o que Trump diz, nem deve se importar”. Para o presidente, Bolsonaro merece ser julgado não só pela sua tentativa de interferência nas eleições de 2022, mas também por incitar a interferência estrangeira: “Bolsonaro é um traidor da pátria”.

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Apesar da gravidade das medidas norte-americanas, o presidente brasileiro descartou retaliações imediatas e disse que o seu governo está focado na construção de medidas internas para amortecer os impactos económicos: “Precisamos de ter muita cautela.” Questionado sobre possíveis represálias a empresas dos EUA, como taxações sobre gigantes da tecnologia, Lula afirmou que o governo estuda formas de equiparar a tributação entre empresas americanas e brasileiras.

Lula da Silva criticou também o comportamento de Trump com outros líderes globais, como os presidentes da Ucrânia e da África do Sul: “O que Trump fez com Zelensky foi uma humilhação. O que fez com Ramaphosa foi uma humilhação. Isso não é normal. Um presidente não pode humilhar outro. Eu respeito todo mundo e exijo respeito”.

O presidente indicou que seu governo mantém diálogo ao nível ministerial com os EUA, mas que a sua prioridade no momento é procurar articulação com os países do grupo BRICS, em especial a Índia e a China: “Não há coordenação entre os BRICS ainda, mas haverá”. Para além disso, o presidente brasileiro sublinha a necessidade de ação coletiva: “Qual é o poder de negociação de um país pequeno diante dos Estados Unidos? Nenhum”.

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À Reuters, Lula destacou que o Brasil estuda uma eventual ação conjunta na Organização Mundial do Comércio (OMC), mas insiste em manter uma postura estratégica: “Nasci a negociar. Mas não temos pressa para fazer um acordo ou retaliar. Vamos agir com responsabilidade fiscal”.

O presidente deve ainda discutir o tema com outros líderes internacionais em fóruns como a Assembleia Geral da ONU e a COP-30, mas sem expectativas de encontro bilateral com Trump a curto prazo.

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