Taiwan inspira-se em cúpula israelita para se proteger de mísseis chineses

As tensões entre a China e Taiwan voltam a ganhar destaque, com Taipé a investir na defesa contra possíveis ataques aéreos. O presidente Lai Ching-te fala de "preservar a paz através da força".
AP/Mindaugas Kulbis
João Silva Jesus 11:00

Taiwan vai acelerar a construção de um novo sistema de defesa antimíssil em várias camadas, o “T-Dome”, uma estrutura inspirada na Cúpula de Ferro israelita, para proteger o território face às crescentes ameaças militares da China. O anúncio foi feito pelo presidente Lai Ching-te na sexta-feira, durante o discurso do Dia Nacional, em Taipé, onde apelou a Pequim para renunciar ao uso da força e à coerção militar no estreito de Taiwan.

“Aumentar o investimento na defesa é uma clara necessidade para enfrentar ameaças inimigas e um motor para o desenvolvimento da nossa indústria de defesa”, afirmou Lai perante uma multidão que o aplaudiu. O novo sistema, acrescentou, será uma rede de segurança, baseada em “defesa multicamada, deteção em altitude e interceção eficaz”.

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Sem revelar detalhes técnicos do projeto, Lai sublinhou que o “T-Dome” visa construir uma “defesa aérea rigorosa” com maior taxa de interceção de ataques, reforçando as capacidades de deteção e resposta do país. Um alto responsável do gabinete presidencial, , adiantou que os planos de financiamento serão incluídos na proposta orçamental até ao final do ano e que “países como os Estados Unidos estão também a desenvolver sistemas semelhantes”.

Taiwan dispõe atualmente dos sistemas antimíssil Patriot norte-americanos e dos Sky Bow desenvolvidos localmente. No mês passado, revelou ainda um novo míssil de defesa aérea, o Chiang-Kong, com capacidade para intercetar mísseis balísticos de médio alcance e alcançar altitudes superiores às dos Patriots.

A nova aposta surge num momento em que , e segundo o Ministério da Defesa de Taipé, recorre a “ataques cibernéticos, guerra cognitiva e manobras de intimidação”. O regime chinês considera Taiwan uma província rebelde e ameaça anexá-la pela força caso o governo continue a resistir à reunificação.

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Em resposta ao discurso de Lai, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Guo Jiakun, acusou o presidente de “vender a falácia separatista da independência de Taiwan”, classificando-o como “um criador de perigo e fomentador de guerra”. Guo afirmou ainda que “procurar a independência pela força apenas arrastará Taiwan para o conflito”.

Apesar das críticas, Lai insistiu na defesa da soberania e na necessidade de manter a paz através da força. “Devemos preservar a paz através da força”, disse, reiterando o compromisso de aumentar o orçamento da defesa para 3,3% do PIB em 2026 e até 5% até 2030.

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O presidente aproveitou também para apelar a uma reflexão histórica: “Olhando para a Segunda Guerra Mundial, vemos que muitos sofreram com a dor da invasão. Devemos aprender com essas lições e garantir que as tragédias da história nunca se repitam”.

Fontes diplomáticas em Taipé, , interpretam o discurso como um sinal de compromisso de Taiwan para com a administração norte-americana de Donald Trump, que tem pressionado os aliados na região a . Um diplomata estrangeiro observou que Lai “evitou provocações diretas a Pequim, o que é um alívio tanto para Washington como para a China”, antes da esperada reunião entre Xi Jinping e Trump.

Embora o “T-Dome” simbolize a determinação de Taipé em fortalecer as suas defesas, analistas sublinham os desafios orçamentais e técnicos do projeto. O politólogo Hung-Jen Wang, da Universidade Nacional Cheng Kung, alertou que “se o sistema for modelado segundo o exemplo israelita, exigirá um orçamento colossal e anos de desenvolvimento”. Também Dennis Weng, da Sam Houston State University, considerou que “a construção do T-Dome não será rápida”, acrescentando que a proposta “tem uma clara intenção política e é dirigida aos Estados Unidos”.

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A inspiração na "Iron Dome" israelita não é casual. O sistema de defesa de Israel, que desde 2023 tem intercetado milhares de mísseis lançados por grupos como o Hamas e o Hezbollah, tornou-se um símbolo de resistência e dissuasão. Taiwan quer replicar, com o “T-Dome”, uma estrutura semelhante que possa proteger o seu espaço aéreo de ataques repentinos ou de bombardeamentos limitados, que Pequim poderia lançar para pressionar negociações sem provocar uma resposta militar direta de Washington.

Ao concluir o seu discurso, Lai apelou à China para que “assuma as responsabilidades de uma grande potência”, renuncie à força e escolha o diálogo. Ainda que as tensões no estreito de Taiwan permaneçam elevadas, o “T-Dome” emerge como um novo símbolo da aposta de Taipé em “preservar a paz pela força”.

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