pixel

Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Os efeitos do fardo da despesa com a segurança europeia

“Penso que a NATO é a aliança militar mais eficaz que o mundo alguma vez viu”, defendeu Amanda Sloat. A perceção nos EUA um apoio desproporcionado à defesa da Europa é um dos fatores das tensões transatlânticas.

26 de Junho de 2025 às 17:00
Conferência em Lisboa debate relações europeias e transatlânticas
Conferência em Lisboa debate relações europeias e transatlânticas Sérgio Lemos
  • ...

O debate “Os Estados Unidos e as Relações Transatlânticas” contou com a participação de Amanda Sloat e Paula Dobriansky. A moderação esteve a cargo do comentador do Now, Germano Almeida.

“A expressão ‘América primeiro’ não significa não ter uma aliança forte, mas significa analisar as questões de segurança e económicas e o que deve ser feito em parceria com os nossos aliados e parceiros”, afirmou Paula Dobriansky, embaixadora e vice-presidente do Scowcroft Center for Strategy and Security, e que passou pelas administrações de Ronald Reagan e de George W. Bush. A responsável falava no debate “Os Estados Unidos e as Relações Transatlânticas”, integrado na conferência The Lisbon Conference: Europe and Transatlantic Relations, que assinalou o primeiro aniversário do canal Now.

A política externa não é um tema muito importante quando os americanos votam num presidente. Paula Dobriansky, Embaixadora e Vice-Presidente do Scowcroft Center for Strategy and Security

“Estou no governo há muito tempo, há cerca de 30 anos, e lido com as relações transatlânticas. Diria que estas questões das despesas na defesa e das relações de comércio atravessam as administrações norte-americanas desde Eisenhower”. Paula Dobriansky explicou que houve questões fundamentais na base da vitória total de Donald Trump em 2024, nenhuma delas a política externa, reconhecendo que “não é um tema muito importante quando os americanos votam num presidente”. O que esteve em destaque foram a economia, os direitos aduaneiros, a segurança, a imigração e as despesas com a defesa. Assinalou ainda a grande mudança com a atual administração foi a forma de conduzir a negociação diplomática, porque Trump “é um homem de negócios e tem um estilo mais direto.”

Aliança militar eficaz

Amanda Sloat, professora na IE University e que integrou as administrações de Barack Obama e Joe Biden, contestou a ideia de Donald Trump de que a União Europeia foi criada para “lixar” os Estados Unidos, sublinhando que foi este país que ajudou criar instituições “para trazer prosperidade económica à Europa, bem como para garantir a paz e a segurança na Europa”. Referiu que “a União Europeia é a maior parceria comercial e de investimento que os Estados Unidos têm. E penso que a NATO é a aliança militar mais eficaz que o mundo alguma vez viu. O artigo 5.º só foi invocado uma vez. Foi invocado pelos Estados Unidos e os países europeus mobilizaram-se para apoiar a defesa da América”. Amanda Sloat concordou que um dos fatores para as tensões transatlânticas “é a percepção de que os EUA suportam uma parte desproporcionada do fardo da defesa, o que está na base da proposta de aumentar o compromisso da NATO de 2% para 3,5% do PIB”.

O embaixador americano Matthew Whitaker articulou esta posição declarando que “os Estados Unidos defenderão o artigo 5.º, mas é importante que antes os outros defendam o artigo 3.º”, enfatizando a responsabilidade individual de cada membro pela sua própria defesa.

Há décadas que os Estados Unidos se sentem frustrados com a falta de capacidade dos europeus para assegurar funções básicas de segurança na sua própria região. Amanda Sloat, Professora na IE University

“Há décadas que os Estados Unidos se sentem frustrados com a falta de capacidade dos europeus para assegurar funções básicas de segurança na sua própria região”, disse Amanda Sloat. Por outro lado, chamou a atenção para o facto de Donald Trump se sentir mais forte a “em lidar com os países bilateralmente e não ter mostrado muita vontade de trabalhar mediante instituições multilaterais”.

Futuro da democracia

Amanda Sloat antecipa mudanças significativas na presença militar americana na Europa, afirmando que “é absolutamente provável e esperado que, após a cimeira, os EUA comecem a retirar as tropas da Europa”. Com cerca de 80 mil soldados americanos estacionados na Europa, as forças enviadas para a Polónia após a invasão da Ucrânia serão o “alvo mais imediato a retirar”.

Para a Europa, Amanda Sloat identifica três desafios críticos: o investimento real na indústria de defesa, a preparação política para defender esses investimentos perante a opinião pública, e a definição de uma liderança europeia. A questão, sublinha, é “se há tempo”, reconhecendo que “é melhor hoje do que nunca, contudo, é muito tarde para a Europa”.

Em relação ao futuro da democracia americana, Paula Dobriansky mantém-se otimista. Defende que a democracia nos Estados Unidos está viva e em plena atividade, apontando que “todos os debates, as demonstrações estão vivas e empolgadas”, o que interpreta como um sinal de vitalidade democrática. Maior preocupação foi demonstrada por Amanda Sloat. Considera que “a administração de Donald Trump coloca as instituições democráticas sob uma pressão incrível” e aponta como exemplos os ataques aos media, a politização dos militares, a diminuição do papel do Congresso, o aumento de violência política, e os ataques políticos aos juízes. Para Paula Dobriansky, está em curso uma revolução, mas “é tudo muito transparente” e sujeito a escrutínio.

Mais notícias