O debate “Os Estados Unidos e as Relações Transatlânticas” contou com a participação de Amanda Sloat e Paula Dobriansky. A moderação esteve a cargo do comentador do Now, Germano Almeida.
“A expressão ‘América primeiro’ não significa não ter uma aliança forte, mas significa analisar as questões de segurança e económicas e o que deve ser feito em parceria com os nossos aliados e parceiros”, afirmou Paula Dobriansky, embaixadora e vice-presidente do Scowcroft Center for Strategy and Security, e que passou pelas administrações de Ronald Reagan e de George W. Bush. A responsável falava no debate “Os Estados Unidos e as Relações Transatlânticas”, integrado na conferência The Lisbon Conference: Europe and Transatlantic Relations, que assinalou o primeiro aniversário do canal Now.
“Estou no governo há muito tempo, há cerca de 30 anos, e lido com as relações transatlânticas. Diria que estas questões das despesas na defesa e das relações de comércio atravessam as administrações norte-americanas desde Eisenhower”. Paula Dobriansky explicou que houve questões fundamentais na base da vitória total de Donald Trump em 2024, nenhuma delas a política externa, reconhecendo que “não é um tema muito importante quando os americanos votam num presidente”. O que esteve em destaque foram a economia, os direitos aduaneiros, a segurança, a imigração e as despesas com a defesa. Assinalou ainda a grande mudança com a atual administração foi a forma de conduzir a negociação diplomática, porque Trump “é um homem de negócios e tem um estilo mais direto.”
Aliança militar eficaz
Amanda Sloat, professora na IE University e que integrou as administrações de Barack Obama e Joe Biden, contestou a ideia de Donald Trump de que a União Europeia foi criada para “lixar” os Estados Unidos, sublinhando que foi este país que ajudou criar instituições “para trazer prosperidade económica à Europa, bem como para garantir a paz e a segurança na Europa”. Referiu que “a União Europeia é a maior parceria comercial e de investimento que os Estados Unidos têm. E penso que a NATO é a aliança militar mais eficaz que o mundo alguma vez viu. O artigo 5.º só foi invocado uma vez. Foi invocado pelos Estados Unidos e os países europeus mobilizaram-se para apoiar a defesa da América”. Amanda Sloat concordou que um dos fatores para as tensões transatlânticas “é a percepção de que os EUA suportam uma parte desproporcionada do fardo da defesa, o que está na base da proposta de aumentar o compromisso da NATO de 2% para 3,5% do PIB”.
O embaixador americano Matthew Whitaker articulou esta posição declarando que “os Estados Unidos defenderão o artigo 5.º, mas é importante que antes os outros defendam o artigo 3.º”, enfatizando a responsabilidade individual de cada membro pela sua própria defesa.
“Há décadas que os Estados Unidos se sentem frustrados com a falta de capacidade dos europeus para assegurar funções básicas de segurança na sua própria região”, disse Amanda Sloat. Por outro lado, chamou a atenção para o facto de Donald Trump se sentir mais forte a “em lidar com os países bilateralmente e não ter mostrado muita vontade de trabalhar mediante instituições multilaterais”.
Futuro da democracia
Amanda Sloat antecipa mudanças significativas na presença militar americana na Europa, afirmando que “é absolutamente provável e esperado que, após a cimeira, os EUA comecem a retirar as tropas da Europa”. Com cerca de 80 mil soldados americanos estacionados na Europa, as forças enviadas para a Polónia após a invasão da Ucrânia serão o “alvo mais imediato a retirar”.
Para a Europa, Amanda Sloat identifica três desafios críticos: o investimento real na indústria de defesa, a preparação política para defender esses investimentos perante a opinião pública, e a definição de uma liderança europeia. A questão, sublinha, é “se há tempo”, reconhecendo que “é melhor hoje do que nunca, contudo, é muito tarde para a Europa”.
Em relação ao futuro da democracia americana, Paula Dobriansky mantém-se otimista. Defende que a democracia nos Estados Unidos está viva e em plena atividade, apontando que “todos os debates, as demonstrações estão vivas e empolgadas”, o que interpreta como um sinal de vitalidade democrática. Maior preocupação foi demonstrada por Amanda Sloat. Considera que “a administração de Donald Trump coloca as instituições democráticas sob uma pressão incrível” e aponta como exemplos os ataques aos media, a politização dos militares, a diminuição do papel do Congresso, o aumento de violência política, e os ataques políticos aos juízes. Para Paula Dobriansky, está em curso uma revolução, mas “é tudo muito transparente” e sujeito a escrutínio.