Centeno vê risco de a inflação ficar abaixo da meta de 2%

O governador do Banco de Portugal defende que o BCE não poderá tolerar por muito tempo uma evolução dos preços inferior à meta.
Miguel Baltazar
Negócios com Bloomberg 11:17

O Banco Central Europeu (BCE) pode tolerar uma inflação abaixo de 2% durante algum tempo, mas terá de tomar medidas se as pressões sobre os preços continuarem aquém da meta de forma sustentada e as expectativas começarem a diminuir, segundo alertou o governador do Banco de Portugal e membro cessante do conselho de governadores, Mário Centeno, em entrevista à Bloomberg.

"Podemos ignorar a inflação abaixo da meta durante alguns trimestres, mas, a dada altura, teremos de tomar medidas, também para evitar uma desancoragem das expectativas de inflação, se esta se mantiver abaixo da meta durante demasiado tempo", afirmou. "Manter a inflação sustentavelmente abaixo da meta não é o nosso objetivo e não estaria em conformidade com o nosso mandato", acrescentou.

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, tendo esta sido a segunda vez que os responsáveis optaram por não fazer alterações após oito cortes, num total de 200 pontos-base. para garantir preços estáveis, apesar de uma atualização das projeções económicas ter mostrado uma inflação ligeiramente abaixo da meta em 2027.

Centeno salientou que a previsão para 2027 é de apenas 1,9% devido aos efeitos do regime europeu de comércio de licenças de emissão. "Mas, politicamente, não é certo que isso venha realmente a acontecer e será apenas uma medida pontual", explicou. "No cenário atual, vejo a inflação abaixo de 2% em 2028, que é o médio prazo a partir das projeções de dezembro", antecipou Centeno.

Esta estimativa será conhecida em dezembro, quando o BCE apresentar novas projeções do seu "staff". A opinião do português não é, contudo, consensual. O vice-presidente Luis de Guindos argumentou na quinta-feira que o risco de a inflação ficar abaixo do objetivo não é grande — e, na verdade, é bilateral e equilibrado. O presidente do Bundesbank, Joachim Nagel, também expressou confiança de que a inflação está sob controlo, dizendo que as perspetivas a médio e longo prazo são "muito estáveis".

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"Continuo a acreditar que os riscos de inflação são de queda, porque os riscos para a atividade económica são de queda", disse Centeno. "Estamos confortavelmente sentados em cima de um monte de riscos. Mas não devemos ficar demasiado complacentes", alertou, acrescentando que, apesar do acordo alcançado em julho, o conflito comercial com os EUA não acabou e "provavelmente nunca será totalmente resolvido, dada a utilização das tarifas como arma pelos EUA".

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