Há “muitos” responsáveis da Fed contra novo corte dos juros em dezembro
O mercado já reduziu as suas expectativas no que toca a uma terceira descida da taxa diretora do banco central dos EUA este ano.
Foram “muitos” os responsáveis da Reserva Federal (Fed) norte-americana que, na última reunião de política monetária do banco central, a 28 e 29 de outubro, se mostraram contra um novo corte dos juros diretores este ano, revelam as atas desse encontro.
Com efeito, na reunião do mês passado – em que a Fed decidiu proceder ao segundo corte de juros deste ano, com a redução em 25 pontos-base da taxa dos fundos federais para um intervalo entre 3,75% e 4%, o nível mais baixo desde dezembro de 2022 –, foram muitos os responsáveis do Comité Federal do Mercado Aberto (FOMC) a mostrar pouca inclinação para uma descida na reunião de dezembro, a última deste ano, revelando ceticismo quanto à necessidade de um corte adicional. Consideraram mesmo que não era preciso voltar a fazê-lo – pelo menos em 2025.
Este encontro de outubro decorreu em plena paralisação (“shutdown”) dos serviços federais dos EUA, que foi o mais longo da história do país e que se estendeu por 43 dias – tendo o governo reaberto a 12 de novembro, depois de o Presidente Donald Trump ter homologado nesse dia um projeto de lei aprovado pelo Congresso que garante o financiamento federal até 30 de janeiro.
Com o governo parcialmente “encerrado”, houve muitos dados importantes que não foram divulgados, nomeadamente os indicadores relacionados com os preços e o mercado de trabalho, que sustentam precisamente o duplo mandato da Fed: pleno emprego e meta de 2% para a inflação.
Os responsáveis da Fed, revelam as atas, estiveram em desacordo na reunião de outubro quanto à necessidade de continuar a cortar os juros por agora, com uma visível divisão entre se a maior ameaça à economia é a estagnação do mercado de trabalho ou a inflação persistente. É que o primeiro pede uma descida da taxa diretora – tendo sido esse o foco nas duas últimas reuniões – e o segundo não (podendo uma forte subida dos preços ‘pedir’ até um aumento dos juros, como aconteceu em 2022 e 2023).
“Vários participantes consideraram que um novo corte da taxa de juro dos fundos federais poderia ser apropriado em dezembro, caso a economia evoluísse conforme o esperado no período entre as reuniões”, dizem as atas. Mas “muitos participantes afirmaram que, de acordo com as suas perspetivas económicas, provavelmente seria apropriado manter a taxa inalterada até ao final do ano”, acrescenta o documento.
Na linguagem da Fed, “muitos” é mais do que “vários”, o que sinaliza a inclinação contra um corte em dezembro. No entanto, “participantes” não significa votantes. Há 19 participantes na reunião, mas apenas 12 votam, por isso não é claro qual é a opinião dos membros votantes em relação à decisão para dezembro.
O mercado dava como quase certo mais um corte em 2025, na reunião de dezembro – mas agora estas expectativas caíram fortemente e estão atualmente em torno dos 30%. E foi o próprio presidente do banco central, Jerome Powell, a arrefecer a perspetiva, ao dizer que um corte em dezembro estava longe de ser garantido.
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