Costa: "O nacionalismo quer erguer muros, nós temos de construir pontes"
Numa altura em que os movimentos populistas invadem a Europa, António Costa quis mostrar que Portugal é um país aberto e tolerante. "Somos um país atlântico aberto ao mundo e não um país fechado", e "de Portugal partimos e a Portugal voltamos, como navegadores ou missionários, como colonizadores ou emigrantes". Foi assim que "construímos a nossa história e a nossa cultura de abertura, descoberta, interesse pelo desconhecido, gosto e respeito pelo diferente", assinalou o primeiro-ministro.
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Na cerimónia de celebração da "restauração do feriado" do 1.º de Dezembro, que teve lugar na Praça dos Restauradores, em Lisboa, António Costa lembrou que esta é uma altura em que "o nacionalismo, a xenofobia, o proteccionismo querem erguer muros". "Nós temos então de construir pontes e abrir caminhos", porque essa é "a fidelidade que devemos à herança do humanismo universalista de que fomos herdeiros" e porque "o mundo é um só".
A cultura de abertura está, aliás, entranhada na identidade portuguesa. "Contra o nacionalismo agressivo, porque inseguro, nós afirmamos o patriotismo que não se define contra, mas a favor. Este é o mais antigo e sólido fundamento da nossa independência, da nossa segurança e continuidade, por isso estamos orgulhosamente acompanhados, acolhendo turistas e imigrantes, investidores e refugiados, estudantes e artistas", resumiu.
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Até porque quando Portugal se fechou, sofreu. "Sabemos bem quanto ao longo da história empobrecemos, nos momentos em que a intolerância expulsou a liberdade de crença ou de pensamento, ou quando um orgulho vão nos isolou no ostracismo", recordou Costa.
"A identidade aberta e cosmopolita está inscrita dos Lusíadas [Camões] à Mensagem [Fernando Pessoa]" e "bate no coração da nossa língua", acrescentou ainda. A mensagem de abertura e tolerância nacional foi recentemente promovida pelo presidente da câmara de Lisboa, Fernando Medina, durante a realização da Web Summit. Chegaram a ser colocados cartazes no Parque das Nações a afirmá-la, no dia seguinte à eleição de Donald Trump nos EUA.
Passos quis "apoucar e menosprezar" 1.º de Dezembro
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À semelhança de Marcelo Rebelo de Sousa, também António Costa criticou a suspensão do feriado nacional do 1.º de Dezembro, dia em que se celebra a Restauração da Independência de 1640. "A celebração da independência nacional é a celebração sem a qual nenhuma outra seria possível", notou, estendendo depois um cumprimento ao "apelo cívico" de José Ribeiro e Castro, ex-deputado do CDS, que criticou ferozmente a suspensão do feriado em 2012.
Lisboa e outros municípios garantiram que as "celebrações não fossem interrompidas nos anos em que houve quem se permitisse apoucar e menosprezar o valor e a importância desta data maior na história da nossa pátria", criticou António Costa, numa clara referência ao Governo de Passos Coelho, que decidiu suspender a celebração deste feriado.
O 1.º de Dezembro não é comemorado "em nome de um serôdio sentimento anti-castelhano", garantiu o primeiro-ministr, porque ele "não tem sentido no presente". "Temos consciência de que há muitos interesses e valores que podemos defender melhor juntos que separados", acrescentou. E a "cooperação entre terras e gentes, sobretudo as que estão nas proximidades da fronteira, é um sinal inquestionável de uma relação nova e intensa".
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A 1 de Dezembro de 1640 teve lugar um golpe palaciano com o objectivo de libertar Portugal do domínio espanhol, iniciado em 1580. Nessa altura, era rei de Portugal o espanhol Filipe IV (Filipe III de Portugal). Curiosamente, o rei de Espanha, Filipe VI, esteve em território português nos últimos três dias, numa visita de Estado que começou no Porto e acabou em Lisboa, tendo regressado ontem a Espanha.
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