Governo catalão dá prioridade ao diálogo
O governo autonómico da Catalunha (Generalitat) não exclui nenhuma opção mas, para já, dá clara preferência à via do diálogo, preferencialmente mediado por terceiros.
PUB
A ressaca do referendo independentista catalão foi curada com reuniões em Barcelona e em Madrid. Na capital catalã, após encontro dos dirigentes da Generalitat, Carles Puigdemont surgiu em conferência de imprensa para dizer ao que vêm as forças nacionalistas catalãs depois de, no domingo, mais de 2 milhões de eleitores (90$%) terem votado "sim" à independência.
"O momento aconselha mediação, e que seja internacional para ser eficaz", disse Puigdemont que considera que a violência adoptada pelas forças de segurança de Madrid (Guardia Civil e Polícia Nacional) para desmobilizar catalães que queriam votar no referendo - e que segundo contas da Generalitat causou perto de 900 feridos - fez deste "um assunto europeu e não doméstico", pelo que "a União Europeia não pode continuar a olhar para o lado".
PUB
Presidente do governo da Catalunha
PUB
Nesse sentido, Puigdemont instou o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, a contribuir para "criar um clima de distensão leal". Revelou ainda que um governo regional estrangeiro se ofereceu para ser esse mediador.
PUB
Reforçado em termos regionais pela forma como Madrid geriu o processo catalão, Puigdemont exigiu a retirada de "todos os efectivos policiais" mobilizados pelo governo central a fim de impedir que a consulta popular, considerada "ilegal", se realizasse.
Chamada a pronunciar-se, a UE deu uma no cravo e outra na ferradura. O porta-voz do presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, pediu que se passe "rapidamente da confrontação ao diálogo" e sustentou que "a violência não pode ser um instrumento da política". Mas antes notara que os tempos que vivemos não são para "divisões e fragmentação".
PUB
Em Madrid, Mariano Rajoy reuniu-se com os líderes dos partidos representados no parlamento nacional para ouvir posições aparentemente inconciliáveis.
O líder do Cidadãos, Albert Rivera, defendeu a aplicação do artigo 155 da Constituição espanhola com o objectivo de suspender a autonomia catalã e convocar eleições regionais antecipadas. "Chegou o momento de defender a Constituição espanhola", proclamou Rivera.
PUB
PUB
Líder do Cidadãos
PUB
Já Pedro Sánchez, secretário-geral do PSOE, apelou ao "diálogo sem exclusões" de Rajoy com todas as forças políticas, incluindo o Unidos Podemos que quer apresentar uma moção de censura ao governo. Pediu uma negociação "imediata" com a Generalitat e exigiu ainda o não recurso a cargas policiais nem ao artigo 155.
Até aqui, Rajoy manteve-se imóvel na recusa em negociar com uma Generalitat cujas pretensões colidem com a legalidade instituída pela Constituição. A resposta do governo catalão consistiu no acelerar do processo separatista. Estas acções dificultam o diálogo entre as partes e vários analistas consideram impossível que Rajoy e Puigdemont possam ser os interlocutores do regresso ao diálogo.
PUB
Declaração só adiada?
Carles Puigdemont apresentou-se aos jornalistas garantindo: "não estou a declarar a independência". Adiantou ainda que a Generalitat dá preferência ao diálogo. Sobre o referendo que Rajoy classifica de "encenação", Puigdemont mantém que os resultados são "vinculativos", porém não são ainda oficiais.
PUB
Contudo, a lei do referendo, aprovada em Setembro pelo parlamento catalão estabelece que tem de ser realizada uma sessão parlamentar para, até dois dias depois da proclamação oficial dos resultados do referendo – em caso de vitória do "sim" –, votar a aprovação de uma declaração unilateral de independência. Esta declaração não significa a secessão catalã, mas representará sem dúvida mais um rude golpe na já inexistente confiança entre os dois lados da contenda.
PUB
Proclamação de independência
Aprovadas em Setembro à revelia das próprias normas do Estatuto da Catalunha, as lei do referendo e da desconexão definem o rumo a seguir no caso de haver um referendo cujo vencedor seja o "sim" à secessão. Estipula-se que até 48 horas depois da proclamação oficial dos resultados – o que ainda não aconteceu, até porque a comissão eleitoral competente foi dissolvida pelas autoridades judiciárias antes ainda do referendo – o parlamento catalão vote a aprovação de uma declaração unilateral de independência, dando então início a um processo constitucional. A acontecer este cenário, Madrid responderá certamente com o accionamento do artigo 155 da Constituição que prevê a suspensão das autonomias espanholas.
PUB
Moção de censura a rajoy
Há escassos meses uma moção de censura, apresentada pelo Unidos Podemos, ao governo espanhol chefiado por Mariano Rajoy fracassou graças à abstenção do PSOE. Mas o mesmo poderá não se repetir se o partido de Pablo Iglesias apostar em nova moção. A recusa de Rajoy em negociar com as instituições catalãs agravou o descontentamento em relação ao primeiro-ministro que se mostrou incapaz de gerir o processo independentista catalão. E tendo em conta que o PP e o Cidadãos (força que viabilizou a investidura de Rajoy após longos meses sem um governo em plenitude de funções) não têm maioria no parlamento, o PSOE, que defende uma alteração constitucional tendente à federalização, pode juntar-se a Iglesias para derrubar Rajoy.
A via da negociação
PUB
É a opção mais e há mais tempo defendida pelos diversos intervenientes na questão. Nos últimos anos o diálogo e o concerto de posições entre Madrid e as autoridades catalãs não existiu. O primeiro-ministro Rajoy rejeitou dialogar com a Generalitat que, por sua vez, decidiu acelerar o processo independentista, não só pela Catalunha mas também contra Madrid. A violência utilizada pela polícia para desmobilizar os participantes na consulta popular de domingo mostrou um voltar de costas sem aparente solução. Mesmo assim, Puigdemont surgiu agora a pedir a Madrid que aceite negociar com a ajuda de um mediador, cenário que Rajoy dificilmente aceitará porque legitima a questão catalã como um problema internacional e não apenas interno.
Saber mais sobre...
Saber mais Catalunha União Europeia Generalitat Barcelona Madrid Carles Puigdemont Polícia Nacional Pedro Sánchez Guardia Civil PSOE Mariano Rajoy primeiro-ministro espanhol UE Albert Rivera Espanha política referendoAdam Smith aos 250 anos
Quem pediu o euro digital?
Mais lidas
O Negócios recomenda