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Custo de vida, Europa e Ucrânia. Os grandes temas das eleições francesas

A invasão da Ucrânia acabou por ofuscar os grandes temas que já marcavam a pré-campanha eleitoral na qual Macron entrou tarde. A covid-19, o protesto dos coletes amarelos - os “gilets jaunes” -, a política agrícola comum ou as negociações para as licenças de pesca da frota pesqueira francesa após o Brexit ficaram na sombra da guerra. Outras foram as questões quentes nas últimas semanas: o custo de vida, a NATO, a imigração, a Europa e as relações com a Rússia, precipitadas pela invasão da Ucrânia a 24 de fevereiro. Com os partidos tradicionais franceses estilhaçados na primeira volta das presidenciais, é uma espécie de regresso a 2017. Na altura, Emmanuel Macron teve uma vitória inequívoca sobre Marine Le Pen com 66% dos votos. A segunda volta é este domingo.

BENOIT TESSIER
22 de Abril de 2022 às 10:30
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22.04.2022

Custo de vida a subir e pensões

Emmanuel Macron

Presidente e recandidato pelo movimento Em Marcha

O tema foi introduzido na campanha por Marine Le Pen ainda antes da subida a pique da inflação e obrigou Emmanuel Macron a reagir com algumas propostas, sobretudo para aliviar a fatura energética nas carteiras dos franceses. O recandidato pelo movimento En Marche apontou as medidas que já injetaram milhões e milhões de euros na economia para ajudar as famílias e as empresas e propõe que os empregadores possam atribuir um bónus salarial até 6.000 euros livres de impostos. Durante a campanha prometeu aumentar os professores, dando-lhes mais responsabilidades nas escolas. Para as pensões, uma medida polémica em França. Macron quer aumentar a idade legal da aposentação dos atuais 62 para 65 anos, admitindo que poderia passar para os 64, depois das duras críticas. Também prometeu um aumento das pensões mínimas de 950 euros para 1.100 euros.

Marine Le Pen

Líder da União Nacional

Foi Marine Le Pen que mais cedo trouxe a questão do custo de vida para a campanha eleitoral, ainda no ano passado, antes do grande aumento dos preços, sobretudo de produtos energéticos. Em março, a inflação em França atingiu os 5,1%, a segunda mais baixa da União Europeia, apenas atrás de Malta (4,5%) e ligeiramente menos do que em Portugal (5,5%). A candidata da extrema-direita prometeu um leque vasto de medidas para combater o custo de vida. Le Pen propõe eliminar o imposto sobre o rendimento para os trabalhadores com menos de 30 anos, reduzir a taxa de IVA dos combustíveis de 20% para os 5,5% e abolir o imposto em cerca de uma centena de bens considerados essenciais. Também defende o aumento generalizado dos salários em 10%, ficando o incremento livre de contribuições dos empregadores. Pretende ainda aumentar o salário dos professores em 3% durante os próximos cinco anos e reduzir o preço das portagens nas autoestradas em 15%. Nas pensões, Le Pen pretende manter a idade legal de aposentação nos 62 anos , sendo que quem começou a trabalhar aos 20 anos poderia reformar-se aos 60 anos.

22.04.2022

Imigração e Segurança

Emmanuel Macron

Presidente e recandidato pelo movimento Em Marcha

Dois temas que sempre foram ultraexplorados pela extrema-direita. Emmanuel Macron acusa Marine Le Pen de ter uma postura "autoritária", de "deriva" e contra a Constituição da República. Depois dos casos de terrorismo, que marcaram a parte final do mandato de François Hollande, o tema ficou em segundo plano. Mesmo assim, Le Pen não o deixou cair. Macron propõe libertar agentes da polícia e da "gendarmerie" (guarda) das tarefas administrativas para duplicar o número de elementos nas ruas até 2030. A imigração é um tópico dado a controvérsias em França em todas as eleições. Macron acusou a adversária de ter "uma agenda nacionalista, diferente de patriotismo".

Marine Le Pen

Líder da União Nacional

Marine Le Pen propôs um referendo sobre a imigração, apertando as regras de atribuição de nacionalidade francesa. De resto, o recurso à consulta popular é uma das propostas mais vincadas, dando aos eleitores iniciativas para referendos. Num dos mais polémicos projetos da candidata da União Nacional está a garantia de acesso prioritário a cidadãos franceses à habitação e aos serviços sociais. Neste campo, Marine Le Pen propõe também a proibição do uso do véu - hijab - pelas mulheres islâmicas em espaços públicos. O tema do secularismo foi um dos mais intensos no debate de quarta-feira. Marine Le Pen afirmou que estava a lutar contra a "ideologia do islamismo e não contra o Islão". E Macron acusou a adversária de confundir terrorismo com outras questões como o uso do véu.

22.04.2022

União Europeia

Emmanuel Macron

Presidente e recandidato pelo movimento Em Marcha

Emmanuel Macron acusou a candidata da extrema-direita de ter feito uma renovação de "80% do programa" de 2017 no que toca à Europa. No debate da passada quarta-feira o recandidato ao Eliseu defendeu uma "Europa mais forte e mais integrada". Durante a campanha disse que estas eleições são também um "referendo à Europa". Na liderança da presidência rotativa da União Europeia, o Presidente francês acabou por deixar cair algumas bandeiras do mandato, como o salário mínimo europeu, cuja discussão ainda foi tentada durante a presidência portuguesa.

Marine Le Pen

Líder da União Nacional

Em matéria de União Europeia, Marine Le Pen suavizou o discurso, tal como fez com o tema da imigração. Neste campo, a candidata da União Nacional abandonou o plano inicial de sair da União Europeia. Le Pen mantém, no entanto, a ideia da soberania de França em matérias que colidem diretamente com a legislação comunitária, como os tratados orçamentais ou o controlo de fronteiras, acabando com a livre circulação de pessoas no Espaço Schengen. Le Pen pretende "reformar a UE por dentro", propondo uma "Aliança Europeia de Nações" para substituir progressivamente a atual arquitetura do bloco.

22.04.2022

Ambiente

Emmanuel Macron

Presidente e recandidato pelo movimento Em Marcha

Em matéria de ambiente, Emmanuel Macron quer que França se torne a primeira grande economia do mundo a eliminar o carvão e o gás (Portugal deixou de utilizar o carvão no final de novembro) e defendeu a construção de seis novas centrais nucleares, atingindo um mix energético de 75% de origem nuclear. Apelidou Marine Le Pen de ser "cética do clima" no último debate antes da segunda volta. Macron quer maior aposta também nas renováveis e considerou o plano da candidata da direita para abandonar estas fontes de energia uma "perfeita aberração". O ambiente é um dos temas que mais preocupam os franceses, com as recentes sondagens a sugerirem que é o terceiro mais importante para os eleitores.

Marine Le Pen

Líder da União Nacional

Foi um dos momentos de maior tensão no grande debate de quarta-feira entre os candidatos na segunda volta. Marine Le Pen atacou o projeto de Macron para o ambiente e a redução da dependência de combustíveis fósseis, defendendo uma transição climática "mais lenta do que o calendário imposto a França. Apontou uma abordagem "local" e condenou a "hipocrisia" de Macron por "não reconhecer que as principais causas da emissão de gases com efeito de estufa" são o comércio livre e a globalização. Le Pen criticou a proposta de Macron para as energias renováveis por considerar que não é eficaz e exequível em poucos anos. A candidata da União Nacional propõe o fim dos projetos de novos parques eólicos e o desmantelamento dos existentes. Também defende o fim dos subsídios às renováveis. Dois terços da eletricidade em França provêm de centrais nucleares.

22.04.2022

Guerra na Ucrânia

Emmanuel Macron

Presidente e recandidato pelo movimento Em Marcha

A campanha eleitoral foi "abalada" pela invasão russa à Ucrânia, dando a Macron novo arsenal para atacar a adversária devido às suas ligações a Vladimir Putin e aos oligarcas russos. Macron lembrou, por exemplo, os empréstimos em 2014 da então Frente Nacional pedidos a bancos russos próximos de Putin. Macron também se tornou numa peça central na diplomacia, uma vez que França assumiu a presidência rotativa da União Europeia no início deste ano. Intimamente ligada ao conflito na Ucrânia está o orçamento militar francês e a contribuição para a NATO. Emmanuel Macron defendeu uma estratégia de defesa da União Europeia, incluindo um orçamento militar comunitário. "Precisamos de reconstruir uma ordem europeia de segurança e a guerra na Ucrânia torna-a ainda mais essencial", afirmou durante a apresentação do programa eleitoral. Desde 2017, a despesa do país em defesa aumentou 7 mil milhões de euros, num esforço para subir o orçamento da defesa para os 2% do produto interno bruto (PIB).

Marine Le Pen

Líder da União Nacional

A guerra na Ucrânia também causou momentos de tensão no debate. Macron aproveitou para falar das ligações de Le Pen a Putin, apesar de ter condenado a invasão por parte da Rússia. A candidata da extrema-direita também não é fã da NATO e propõe que França abandone o "comando integrado" da aliança atlântica. Depois do fim da guerra defende uma "reaproximação estratégica entre a NATO e a Rússia". 

22.04.2022

Maior afastamento nos últimos dias

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